Logo em seus primeiros discursos, o presidente eleito dos EUA Joe Biden e sua vice Kamala Harris afirmaram que mudarão radicalmente a resposta dos Estados Unidos à pandemia do novo coronavírus, que causa a Covid-19.
“A pandemia tem se tornado significativamente mais preocupante em todo o país”, disse Biden na sexta-feira. “Eu quero que todos saibam que, no primeiro dia (de governo), vamos colocar em prático nosso plano para controlar esse vírus em ação.”
Os EUA veem os casos acelerando na última semana e, segundo projeção do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington, o país pode ter em torno 372 mil mortes por Covid-19 em 20 de janeiro, quando Biden tomará posse – 135 mil a mais do que o total atual.
“Quando o governo Biden-Harris assumir, esse vírus já terá se espalhado de forma desenfreada pelas comunidades americanas”, disse a Dra. Megan Ranney, médica emergencial da Universidade Brown, no domingo à CNN.
Enquanto a administração do presidente Donald Trump listava o controle da pandemia no país como uma de suas conquistas, Biden apresentou um plano para combater o vírus em seu site de campanha e, agora eleito, voltou a promover sua própria estratégia no site para acompanhar os detalhes da transição Biden-Harris, lançado neste domingo.
Nesta segunda-feira, Biden deve anunciar os nomes dos doze líderes que farão parte de sua força-tarefa contra o novo coronavírus.
A CNN informou no sábado que a equipe será liderada pelo ex-cirurgião-geral Dr. Vivek Murthy, o ex-comissário da Food and Drug Administration (FDA), Dr. David Kessler, e a Dra. Marcella Nunez-Smith da Universidade de Yale.
Mas isso não significa que a força-tarefa de Donald Trump contra o novo coronavírus deixará de atuar.
O Dr. Ashish Jha, reitor da Escola de Saúde Pública da Universidade Brown, disse no domingo que é extremamente importante que as respectivas equipes de força-tarefa de coronavírus de Trump e Biden trabalhem juntas.
“Em primeiro lugar, acho que devemos exigir que haja cooperação”, disse Jha.
Aqui estão propostas de Biden para mudar o combate à pandemia quando for presidente:
Maior teste e rastreamento de contato
A proposta número um na lista de promessas de Biden é realizar mais testes e rastreamento de contatos.
Os testes aumentaram drasticamente desde os primeiros dias da pandemia, mas os cientistas dizem que os EUA precisam de dezenas de milhões de testes por dia para manter o país aberto com segurança e, mesmo após 10 meses de circulação do vírus, o que tem sido feito não é suficiente.
Sem os testes, os cientistas não conseguem ter uma ideia clara de onde o vírus está disparando. Como estima-se que até 40% dos casos de Covid-19 são assintomáticos, um resultado de teste rápido é a chave para impedir a propagação da doença.
Biden promete que todos os americanos terão acesso a “testes regulares, confiáveis ??e gratuitos”.
O democrata diz que dobrará a disponibilidade de locais de teste “drive-trhu”, investir em novas tecnologias para testagem e criar o U.S. Public Health Jobs Corps (Corpo de Trabalho de Saúde Pública) que mobilizaria “pelo menos 100.000” cidadãos para trabalharem como rastreadores de contato.
Inspirado no governo do ex-presidente Franklin D. Roosevelt, Biden já disse que gostaria de criar algo parecido com o War Production Board (Conselho de Produção da Guerra), que fez com que fábricas de produtos diversos se tornassem produtoras de equipamentos militares e armas durante uma guerra.
Um Pandemic Testing Board (Conselho de Testes da Pandemia), diz Biden, ajudaria a produzir e distribuir dezenas de milhões de testes.
Investimento adicional em vacinas e tratamentos
Desde março, a administração Trump gastou bilhões para desenvolver e ampliar o desenvolvimento de potenciais vacinas e tratamentos contra a Covid-19, por meio da operação batizada como Warp Speed.
A meta do plano é produzir e entregar 300 milhões de doses de vacinas seguras e eficazes até janeiro de 2021. Com esses investimentos, várias vacinas potenciais estão em testes em larga escala nos EUA.
Ainda dentro do plano de ação executado pela administração Trump, vários estados americanos já registraram seus planos de distribuição de vacinas há semanas. Apesar disso, esses governos até aqui não receberam fundos do Congresso para começar a construir a infraestrutura necessária para distribuir essas vacinas a dezenas de milhões de pessoas.
Biden promete investir US$ 25 bilhões (cerca de R$ 134 bilhões) a mais para fabricar e distribuir vacinas para todos nos Estados Unidos gratuitamente.
A chapa democrata de Biden e Kamala Harris já afirmou, ainda, que a política não terá nenhum papel para influenciar no momento em que uma vacina será aprovada e que a nova administração tornará os dados clínicos para qualquer vacina aprovada disponíveis ao público.
Durante a campanha, Biden comentou sobre o temor de que Trump acelerasse a aprovação de uma vacina, sem a segurança necessária comprovada – o que não aconteceu até a eleição.
A campanha de Biden também prometeu que terapias e medicamentos seriam “mais acessíveis” em seu governo.
Máscaras obrigatórias e mais EPIs
Biden disse que trabalhará com governadores e prefeitos para tornar o uso de máscaras obrigatório em público. Um estudo de modelagem de outubro mostrou que, se 95% dos americanos usassem máscaras, mais de 100.000 vidas poderiam ser salvas da Covid-19.
A equipe Biden também afirma investimento para suprir os problemas de disponibilidade de equipamentos de proteção individual (EPIs) para profissionais de saúde.
Vários estudos mostraram que houve uma grave escassez de EPIs desde o início de 2020, e alguns deles pioraram, de acordo com uma análise de setembro da American Hospital Association.
Frequentemente, equipes médicas e cuidadores de idosos relataram que tiveram que reutilizar luvas, máscaras e outros equipamentos de proteção por sua conta e risco durante a pandemia.
O sindicato dos enfermeiros no país, o National Nurses United, estima que mais de 1.700 profissionais de saúde morreram de Covid-19 nos EUA. Entre março e maio, 6% de todos os pacientes hospitalizados por complicações do Sars-Cov-2 eram profissionais de saúde, de acordo com um relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) de outubro.
Embora a administração Trump tenha afirmado o uso da Lei de Produção de Defesa para aumentar a produção de EPIs, uma análise apartidária em setembro concluiu que a medida surtiu poucos efeitos.
Biden disse que usaria esse poder para garantir que os estoques nacionais de abastecimento sejam totalmente repostos. Ele também prometeu ajudar a criar produtos de origem americana para que o país não dependa de outros produtos internacionais.
Além de incentivar o Congresso a aprovar um pacote de emergência para ajudar as escolas a pagar pelos suprimentos da pandemia, o governo Biden prometeu criar um “pacote de reinicialização” para ajudar as pequenas empresas a pagar por equipamentos de proteção e acrílico.
‘Orientação clara, consistente e baseada em evidências’
O futuro governo Biden também afirma que incentivará o CDC a ter um papel mais ativo no fornecimento de orientação específica às comunidades sobre quando elas precisam adotar medidas de restrição de circulação, como lockdowns.
Os críticos de Trump dizem que as recomendações do CDC – a principal agência de administração de saúde pública no país – foram postas de lado em favor da reabertura da economia.
A equipe de Biden diz que cirará um “Painel Pandêmico Nacional” para que as pessoas possam avaliar por si mesmas, em tempo real, a quantidade de doenças em suas cidades. Esse nível de dados foi difícil de encontrar no país até aqui.
Biden também afirmou que crirá uma Força-Tarefa de “Disparidades Raciais e Étnicas” relacionadas à Covid-19, que depois se tornaria uma Força-Tarefa de Disparidades Raciais de Doenças Infecciosas permanente.
O objetivo da pasta seria tratar das disparidades no sistema de saúde pública no atendimento diferente a distintos grupos étnicos. Comunidades negras, hispânicas e indígenas americanas tiveram taxas significativamente mais altas de infecção e hospitalização.
Volta à OMS e prevenção a ameaças futuras
O governo Trump iniciou formalmente o processo de retirada dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde (OMS) em julho. Biden diz que restabelecerá a relação entre o país e a entidade.
A administração Biden também diz que planeja expandir as supervisões do CDC, para que seus investigadores de doenças possam detectar ameaças futuras.
O governo Trump cortou alguns desses empregos nos últimos meses, inclusive no escritório da China.
Durante a administração de Trump, o Predict (programa público de rastreamento de patógenos que busca ameaças futuras de doenças, como o novo oronavírus), foi encerrado. Biden disse que o relançaria.
O democrata também afirmou que restauraria a Diretoria do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca para Segurança Global de Saúde e Biodefesa, que a administração Trump havia transformado em outra organização em 2018.
O órgão foi criado pela administração Obama em 2016 para ajudar a gerenciar ameaças como o Ebola.