A briga entre o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o ministro da articulação política, Luiz Eduardo Ramos, expôs, mais uma vez, os diferentes grupos que cercam — e apoiam — o presidente Jair Bolsonaro.
Salles, inflado pela chamada ala ideológica, partiu para cima de Ramos, com acusações a respeito de assuntos da pasta do Meio Ambiente. Mas, na verdade, o foco era outro. Nas últimas semanas, ministros da chamada ala militar viraram alvos nas redes sociais da ala ideológica.
Pazuello, da Saúde, foi criticado por assinar um acordo com o governador de São Paulo, João Doria, para comprar vacinas contra a Covid-19. Segundo o G1, o presidente estava ciente do acordo, mas foi surpreendido pelos ataques nas redes sociais por parte de sua base. Diante da repercussão, enquadrou Pazuello e disse que não ia comprar nada.
A base nas redes sociais se acalmou — até criar a próxima crise.
Na sexta-feira passada, arrumaram um novo alvo: o ministro Ramos, também da ala militar.
Na visão de auxiliares presidenciais ouvidos pelo blog, a ala ideológica atribui desde sempre a Ramos o acordo do presidente Bolsonaro com os partidos do chamado Centrão. Como o presidente fez campanha em 2018 atacando o grupo, vendendo-se como o candidato da nova política, os apoiadores do presidente que votaram naquela bandeira se revoltaram com o acordo com partidos de investigados, por exemplo, na Lava Jato, enxergando uma espécie de traição.
Ocorre que o acordo com Centrão foi costurado por diversos ministros, entre eles Ramos e Fabio Faria, mas só foi para frente pois foi determinado — e avalizado — pelo presidente da República.
Mas, nas palavras de um assessor presidencial: “Como eles não podem atacar o presidente, atacam o entorno e sempre alguém paga o pato”.
O acordo com Centrão foi feito para garantir sustentabilidade política ao presidente — e tem dado certo, garantindo uma melhor relação entre os Poderes —, diferentemente do que aconteceu no primeiro semestre, quando Bolsonaro ainda não estava preocupado em se relacionar com os demais Poderes.
O governo foi buscar o acordo logo após a prisão de Fabricio Queiroz e do avanço dos inquéritos abertos no STF que preocupam a família e aliados de Bolsonaro (fake news e manifestações antidemocráticas).
Por sobrevivência política, Bolsonaro parou de atacar Congresso e STF.
Mas seus aliados continuaram nas redes sociais. Incluindo os filhos, como Eduardo e Carlos.
Sobre a crise dos últimos dias, o governo viu o potencial de estrago na construção harmoniosa de ocasião com os demais poderes na briga Salles com Ramos, quando Ramos recebeu o apoio público dos presidentes da Câmara e do Senado e líderes do Centrão, além de ministros do STF e ministros do governo — em caráter reservado, em conversa com o blog — terem criticado a postura de Salles. Por isso, o ministro do Meio Ambiente recuou e pediu desculpas.
Tudo em nome da sobrevivência e estabilidade política do governo. Nada a ver com arrependimento de pensamento dos chamados ideológicos que apoiam — incluindo os próprios filhos — ou com uma promessa de parar com fogo amigo.