sexta-feira 22 de novembro de 2024
Foto: Reprodução/Shutterstock
Home / DESTAQUE / Dezenas de municípios são governados pelo mesmo partido há 20 anos, diz levantamento
sábado 24 de outubro de 2020 às 17:59h

Dezenas de municípios são governados pelo mesmo partido há 20 anos, diz levantamento

DESTAQUE, NOTÍCIAS


Um levantamento publicado pelo G1 revela que 76 municípios elegeram o mesmo partido para a prefeitura em todas as cinco eleições realizadas desde 2000. Em 2020, após 20 anos, 60 municípios dessa lista ainda têm candidatos a prefeito da mesma sigla. O tempo no poder pode chegar a 24 anos. Entre os municípios identificados está, inclusive, uma capital: Teresina, no Piauí, onde o PSDB é eleito para a prefeitura desde 1992.

O MDB e o PSDB comandam o maior número dessas cidades, embora outras seis siglas também apareçam no levantamento. São 22 cidades governadas pelo MDB há no mínimo 20 anos. Sob o domínio do PSDB há, no total, 18 cidades.

Em seguida vêm PP (12), DEM (8), PTB (6), PT (3) e PSB (2). O levantamento considera o partido do prefeito eleito em cada eleição e também as mudanças de nome das siglas. Atualmente há 33 partidos registrados no TSE e outras 77 siglas estão em processo de formação. Dos 33 partidos em funcionamento, 22 já existiam em 2000.

A maioria das cidades do levantamento tem até 10 mil eleitores. Como a pequena cidade de Nova Castilho, em São Paulo, onde há apenas 1.230 eleitores aptos. Do outro lado está Teresina, a cidade com mais eleitores a aparecer na análise. São 558.661 votantes.

76 municípios governados pelo mesmo partido desde 2000

UF Município Nº de eleitores Partido Status em 2020
AL Pindoba 2.581 PSB Mesma sigla
AL Feliz Deserto 3.486 MDB Reeleição pelo PP
AL Murici 19.057 MDB Reeleição
AL Coruripe 38.667 MDB Mesma sigla
BA Buritirama 16.245 PP Reeleição
BA Feira de Santana 400.549 DEM
CE Deputado Irapuan Pinheiro 7.351 PSDB Reeleição pelo PSD
CE Horizonte 55.018 PSDB
GO Turvelândia 4.030 MDB Mesma sigla
GO Palmeiras de Goiás 21.033 PSDB Reeleição
MG Wenceslau Braz 2.421 PTB Mesma sigla
MG Rio Doce 2.471 PT
MG Virgolândia 4.375 MDB Mesma sigla
MG Santa Bárbara do Tugúrio 4.376 PSDB Mesma sigla
MG Divisa Nova 4.853 PTB
MG Conceição do Pará 5.082 MDB Mesma sigla
MG Pedra Bonita 5.471 PP Reeleição
MG Itabirinha 8.890 PSDB Mesma sigla
MG Rio Pomba 14.260 MDB Mesma sigla
MG Conceição do Mato Dentro 17.088 MDB Reeleição
MG Jequitinhonha 17.602 PSDB Reeleição
MG Extrema 32.568 PSDB Mesma sigla e reeleição pelo DEM
MT Alto Taquari 7.074 DEM Mesma sigla
PA Paragominas 70.282 PSDB
PB Coxixola 1.829 DEM Mesma sigla
PB Várzea 2.537 DEM Reeleição
PB São José do Bonfim 3.780 MDB
PB Poço de José de Moura 3.837 DEM
PB São Mamede 6.640 DEM Reeleição
PB Catolé do Rocha 20.346 PTB
PE Itapetim 12.338 PSB Reeleição
PE Jataúba 14.437 MDB Mesma sigla
PE Vertentes 16.348 PSDB Reeleição
PI Paquetá 3.749 MDB Reeleição pelo PP
PI Teresina 558.661 PSDB Mesma sigla
PR São Jorge do Ivaí 4.741 PP Mesma sigla
PR Enéas Marques 5.393 PSDB
RN Riacho da Cruz 2.726 DEM
RN Água Nova 2.753 MDB Mesma sigla
RN Martins 6.564 DEM Mesma sigla
RS Porto Vera Cruz 1.660 MDB Mesma sigla e candidato único
RS Benjamin Constant do Sul 2.071 PT Mesma sigla
RS São José do Inhacorá 2.195 MDB Reeleição
RS Vespasiano Corrêa 2.241 PP Mesma sigla
RS Bozano 2.362 PP Reeleição
RS Tio Hugo 2.435 PDT Reeleição
RS Unistalda 2.599 PP Mesma sigla
RS Santa Margarida do Sul 2.662 PDT
RS Derrubadas 2.757 MDB Reeleição
RS Água Santa 3.003 MDB Mesma sigla
RS Itatiba do Sul 3.498 PT Mesma sigla
RS Chiapetta 3.554 PP Reeleição
RS Pinheirinho do Vale 3.624 PDT Reeleição
RS Doutor Maurício Cardoso 3.938 PP Reeleição e candidato único
RS Cambará do Sul 4.947 PP Mesma sigla
RS Alecrim 5.395 MDB Mesma sigla
RS Redentora 6.620 MDB Reeleição
RS Catuípe 7.329 PDT Reeleição e candidato único
RS Não-Me-Toque 12.784 PP Mesma sigla
RS Santiago 40.316 PP Reeleição
RS Ijuí 64.384 PDT Mesma sigla
SC Lacerdópolis 2.001 MDB Reeleição
SC Arvoredo 2.447 MDB Mesma sigla
SC Forquilhinha 19.694 PP Mesma sigla
SE Nossa Senhora Aparecida 7.109 MDB Mesma sigla
SP Nova Castilho 1.230 PSDB Mesma sigla
SP Nova Luzitânia 2.679 PSDB Reeleição
SP Macedônia 3.452 PTB Mesma sigla
SP Canitar 3.610 PTB
SP Santa Cruz da Conceição 4.071 PSDB Reeleição
SP Terra Roxa 5.889 MDB Mesma sigla
SP Ilha Comprida 12.383 PSDB Reeleição
SP Junqueirópolis 13.671 PSDB Mesma sigla
SP Taquarituba 16.998 PSDB Reeleição
SP Cravinhos 26.358 PSDB Mesma sigla
SP Presidente Prudente 178.309 PTB Reeleição pelo PSDB

Para a cientista política Marta Mendes da Rocha, professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora, a situação encontrada nesses municípios é uma exceção. Ela afirma que houve “enorme renovação” nas prefeituras em 2016 e que a continuidade “está longe de ser a regra”, já que há “muita alternância”.

“De fato, esta é uma exceção no cenário muito competitivo das eleições municipais no Brasil. É difícil saber quais são as causas do predomínio de um único partido na prefeitura por tanto tempo. Pode ser consequência de uma boa administração dos gestores e gestoras do partido, de um cenário em que a disputa é muito desequilibrada a favor de um partido, família ou grupo e no qual os desafiantes têm poucas chances”, afirma.
“A política local no Brasil é muito diversificada, não apenas em função das diferenças demográficas (tamanho do município), mas das peculiaridades locais em um país tão extenso e com tantas desigualdades regionais.”

O portal G1 verificou ainda que 60 dos 76 municípios (79%) têm candidato do mesmo partido que se mantém no cargo na disputa municipal deste ano. Em três casos, todos no Rio Grande do Sul, a vitória já está certa: Catuípe, Doutor Maurício Cardoso e Porto Vera Cruz. Cada município tem apenas um único candidato a prefeito. Basta o voto do próprio candidato para ser eleito. Ou seja, os partidos devem chegar a 24 anos no poder.

Além disso, o levantamento mostra ainda que 30 prefeitos buscam a reeleição, sendo que 25 continuam concorrendo pelo mesmo partido da eleição anterior.

O cientista político Márcio Carlomagno, professor da Universidade Federal do Piauí, aponta que o motivo para o predomínio desses partidos varia de acordo com a situação local. Em Teresina, por exemplo, ele afirma que a oferta da candidatura e a existência de uma oposição garantem um cenário democrático e que a permanência do grupo político no poder pode ter relação com a aprovação do governo.

Já em municípios menores, onde a oferta de candidatos pode ser mais escassa, o professor diz que, antes de classificar como “feudo”, é preciso avaliar o número de postulantes na competição eleitoral e também o percentual de votos que elegeu o prefeito. Carlomagno lembra que, apesar de o levantamento verificar a hegemonia dos partidos em municípios, o grupo político pode migrar de uma sigla para outra.

“Essa é uma limitação dos dados. Pode ser que o número de municípios com o mesmo grupo no poder seja ainda maior, bem maior do que esses 76 em virtude de alguém que tenha trocado de partido. É o mesmo grupo político, embora não seja o mesmo partido”, afirma, ao destacar que Rafael Greca e Eduardo Paes, ambos do DEM, que disputam as prefeituras de Curitiba e Rio, estavam em PMN e MDB até pouco tempo.

A decisão do voto para prefeito varia de acordo com o tamanho município, assim como a forma como os eleitores se comunicam e se informam, segundo a cientista política Marta Mendes da Rocha. Em alguns casos, a opinião de amigos e familiares também pode pesar na escolha do candidato. Ela acrescenta ainda que apenas uma minoria dos eleitores do país se orienta pela identificação com o partido político.

“A maioria dos eleitores leva em consideração as qualidades pessoais dos candidatos ou os serviços já prestados por eles – para aqueles que já ocupam um cargo eletivo ou para os que nunca se elegeram, mas já atuaram em projetos coletivos no município. Isso é o que costumamos chamar de avaliação retrospectiva quando o eleitor e a eleitora levam em conta as ações passadas”, diz.

“Também é importante considerar um fenômeno que está se tornando cada vez mais comum de que pessoas que nunca se envolveram na política convertam o capital acumulado em outras arenas (religiosos, militares, empresários) em capital político. Mas no município é provável que pese bastante a percepção dos eleitores e eleitoras sobre a capacidade do candidato para gerir a cidade e oferecer soluções para os problemas e demandas vistos como mais urgentes.”

‘Demandas da população’

O portal localizou quatro candidatos a prefeito de uma sigla que governa o município há pelo menos 20 anos e perguntou a que eles creditam o sucesso eleitoral. Em Teresina, o candidato Kleber Montezuma (PSDB) quer suceder o também tucano Firmino Filho, que já ocupou a prefeitura por quatro mandatos (1997-2004) e (2013-2020). A disputa reúne 13 candidatos a prefeito e será a mais acirrada da lista de 76 municípios.

Em nota, a assessoria de Montezuma afirma que o modelo de gestão “responde afirmativamente às demandas da população” e que “cada gestor renova e aperfeiçoa esse modelo administrativo, possibilitando importantes avanços para nossa cidade”. O texto diz ainda que, caso eleito, o candidato deve levar a “experiência enquanto gestor” e “dar continuidade às políticas públicas implementadas”.

Em Murici (AL), onde o prefeito Olavo Neto tenta a reeleição, o MDB também é eleito para a administração municipal há pelo menos 20 anos. O nome de urna do prefeito esconde outro sobrenome: Calheiros. Ele é sobrinho do ex-presidente do Senado e senador Renan Calheiros. A lista do clã Calheiros que administrou a cidade não para por aí: Remi Calheiros, irmão de Renan Calheiros; e Renan Filho, filho de Renan Calheiros e atual governador do estado.

A assessoria de Olavo Neto diz que o sucesso eleitoral se deve a “trabalho, transparência, responsabilidade na aplicação dos recursos públicos e, sobretudo, na capacidade de enxergar os anseios da população”. A nota destaca ainda avanços em saúde, educação e infraestrutura. “Em Murici, outros partidos que buscaram a alternância de poder, até aqui, perderam a eleição. Então a população muriciense se sente confortável com o partido.”

Com 178.309 eleitores aptos, o município de Presidente Prudente, em São Paulo, é governado há pelo menos 20 anos pelo PTB. Apesar de a sigla ter sido eleita para a prefeitura em cinco eleições seguidas, um dos prefeitos chegou a ser afastado do mandato, em 2007, quando assumiu o vice, do PSDB. O prefeito Nelson Bugalho, que concorre à reeleição, mudou de partido e está filiado atualmente ao PSDB. Em nota, a assessoria diz que “a sucessão do partido em Prudente se deve à cultura do apadrinhamento político que há na cidade”.

O município de Coruripe, em Alagoas, só elege prefeitos da família Beltrão há mais de 20 anos. O atual prefeito, Joaquim Beltrão, já acumula quatro mandatos. O sobrinho, deputado federal e ex-ministro Marx Beltrão registra dois. O candidato do grupo político, filiado ao MDB, é Maykon Beltrão. Ele enfrenta como adversário outro integrante da família: Marcelo Beltrão, que rompeu com o grupo e disputa pelo PP. A assessoria do candidato foi procurada e não quis se manifestar.

Em Minas Gerais, a cidade de Jequitinhonha reúne 17.602 eleitores nestas eleições. O prefeito Roberto Botelho estava filiado ao PMDB (atual MDB) nas eleições de 2000, quando o PSDB venceu a disputa pela administração municipal. Desde então todas as vitórias foram tucanas, sendo o mandato de 2004 já obtido pelo atual prefeito, reeleito em 2008.

“O sucesso se deve ao legado do trabalho que a gente vem desempenhando e à confiança quando você faz um trabalho planejado. Se for para alternar [o poder] e ter um oxigênio novo, ideias novas, considero importante. Se for alternar e piorar a situação, retroceder, então não tem sentido”, afirma Botelho.

Já a prefeitura destaca “a realização de muitas obras” e “o pagamento do funcionalismo e de fornecedores rigorosamente em dia”. “Os governos sucessivos tornam evidente a confiança e a aceitação do povo. A alternância no poder é saudável, mas só se justifica quando a mudança é para melhor.”

Veja também

Haddad descarta alterar meta de primário e diz que bloqueio para 2024 deve chegar a R$ 5 bilhões

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na noite desta última quinta-feira (21) que o …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!