A pouco mais de um mês da eleição presidencial dos Estados Unidos, marcada para 3 de novembro, o atual presidente do país, o republicano Donald Trump, e o democrata Joe Biden, ex-vice de Barack Obama, subiram ao palco para o aguardado primeiro debate da campanha.
O evento foi moderado por Chris Wallace, da Fox News, na Universidade Case Western Reserve, na cidade de Cleveland, em Ohio.
O encontro presencial trouxe a repetição de ataques mútuos que têm marcado a campanha e diversos momentos de hostilidade. Em um dos episódios de maior tensão, Joe Biden, seguidamente interrompido pelo republicano, chegou a pedir que “calasse a boca”.
Em um levantamento da CNN americana mostrou quanto tempo cada candidato falou ao longo da noite. E houve quase um empate: Donald Trump teve a palavra por exatos 39min06seg, enquanto Joe Biden se manifestou por 37min56seg.
Em pesquisa pós-debate, com particpação de 568 espectadores ouvidos pela CNN americana, 60% consideram que Biden foi o vencedor do debate, enquanto 28% opinaram que Trump foi superior.
No próximo dia 7, os candidatos a vice-presidente Kamala Harris e Mike Pence participam de um novo debate. Trump e Biden voltam a se encontrar presencialmente no dia 15.
Repetição de discursos
O debate teve seis tópicos principais: histórico de Trump e Biden, Suprema Corte, Covid-19, economia, violência nas cidades e integridade das eleições.
Ambos os candidatos aproveitaram a oportunidade para repetir discursos de entrevistas recentes e das convenções partidárias.
Biden condenou as políticas de Trump no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus e o acusou de acelerar a aprovação de uma vacina. O republicano, por sua vez, afirmou que Biden tenta enfraquecer a polícia americana, voltou a questionar os votos pelo correio e novamente culpou a China pela pandemia – país que ele tenta associar a Joe Biden.
Na questão ambiental, Biden novamente defendeu o retorno americano ao Acordo Climático de Paris e citou o Brasil, reivindicando que o mundo se mobilize para viabilizar um fundo de US$ 20 bilhões voltado à conservação da Amazônia. O democrata afirmou que o fundo seria uma forma de pedir ao Brasil que “pare de destruir a floresta” e que, caso o Brasil falhasse nesse objetivo, ameaçaria o país com consequências econômicas.
Entre os temas mais recentes, os candidatos comentaram a indicação da conservadora Amy Coney Barrett para a Suprema Corte e a matéria do The New York Times segundo a qual Trump não pagou impostos durante dez anos desde 2000.
Momentos de hostilidade
Frente a frente pós meses de acusações e ataques mútuos em comícios, os dois candidatos protagonizaram momentos de hostilidade nesta noite. Logo início do debate, após ser interrompido seguidas vezes por Biden sobre a indicação da conservadora Amy Coney Barrett para a Suprema Corte, Biden foi ríspido: “quer calar a boca?”
Em outro momento, quando foi novamente interrompido por intervenções de Trump enquanto comentava a questão do Obamacare, Biden voltou a se irritar: “todo mundo sabe que ele (Trump) é um mentiroso, vocês têm ideia do que esse palhaço está falando?”.
Frases provocativas marcaram a noite. Em um delas, Trump afirmou que “fez muito mais em 47 meses (no cargo) do que Joe Biden fez em 47 anos (na política).
Mais adiante, quando o apresentador Chris Wallace recriminou Trump por novamente interromper a fala de seu adversário, contrariando as regras do debate, Biden ironizou: “ele nunca cumpre o combinado”.
Já no fim do debate, Trump levantou uma questão que, segundo seus conselheiros, ele estava ansioso para trazer à tona: Hunter Biden. Segundo Trump, o filho de Biden se envolveu em casos de corrupção quanto autou no conselho de uma empresa de energia ucraniana – e Joe Biden, vice-presidente do país na época, teria ajudado a acobertar supostos crimes.
Biden negou de forma veementeque qualquer ato ilícito de seu filho. Ao defendê-lo, acusou Trump de tirar o foco de outras questões mais importantes. “Ele não quer falar sobre o que precisa”, disse.
Suprema Corte
A abertura do debate foi marcada por questionamentos de Joe Biden a Trump sobre a indicação da juíza Amy Coney Barrett para a Suprema Corte após a morte de Ruth Bader Ginsburg.
Biden considerou que Barrett “parece ser uma pessoa muito boa”, mas afirmou que “ela votaria para acabar com o Obamacare” – lei federal aprovada no governo Obama para ampliar o acesso público a planos de saúde.
O democrata criticou, ainda, o rápido anúncio de Trump de um novo nome para a Suprema Corte. Segundo ele, o republicano deveria ter esperado a eleição para dar aos americanos “o direito de se pronunciar” no processo.
Trump explicou suas razões para escolher Barrett e ponderou que, como atual presidente, tinha o direito de escolhê-la dentro do mandato.
“Creio que ela será excelente e será boa como qualquer outra que tem servido na Suprema Corte. Ela é extremamente respeitada por seus alunos, professores, colegas, frequentou boas universidades, e temos o direito de escolher porque vencemos a eleição. Indicamos e os democratas não pensam a esse respeito. Vencemos a eleição e temos o direito de indicá-la”, declarou.