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Marina defende alianças estaduais com partidos do ‘Centrão’

sexta-feira 31 de agosto de 2018 às 09:18h

A candidata à Presidência da República Marina Silva defendeu nesta última quinta-feira (30), em entrevista ao Jornal Nacional, alianças que o partido dela, a Rede Sustentabilidade, firmou nos estados com legendas do chamado “Centrão”, bloco partidário com 41 parlamentares investigados na Operação Lava Jato.

Segundo ela, o que importa é a “trajetória das pessoas”. “Pessoas boas têm em todos os partidos e, se eu ganhar, eu vou governar com os melhores de todos os partidos”, disse. A presidenciável mencionou o exemplo do apoio da Rede à candidatura do ex-prefeito de Pelotas Eduardo Leite (PSDB), cuja coligação, além de Rede e PSDB, reúne PTB, PRB, PPS, PHS e PP. “Sobre ele não pesa absolutamente nada”, afirmou a candidata.

Marina também se referiu ao candidato apoiado pela Rede no Amapá, Davi Alcolumbre (DEM), que juntou em uma mesma aliança PSDB, PPL, PP, PSC, Avante, PSD, Podemos, Solidariedade e Patriota. “Se você for para o Amapá qual é a denúncia de corrupção contra o candidato?”

Quando a jornalista Renata Vasconcellos perguntou qual é a posição dela sobre a idade mínima na reforma da Previdência, Marina Silva respondeu que pretende promover um “debate” sobre a questão.

“É importante a gente dizer que vai debater a idade mínima, mas tem gente que se incomoda com a idéia de debater porque a gente se acostumou com os pacotes. A gente vem da cultura do pacote, um em cima do outro, do povo brasileiro. Quando alguém diz que vai debater, vai dialogar, parece estranho, mas numa democracia, isso é o normal”, declarou.

Ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva foi a quarta entrevistada da série do JN com presidenciáveis. O primeiro foi Ciro Gomes (PDT) e o segundo, Jair Bolsonaro (PSL), e o terceiro, Geraldo Alckmin (PSDB). Nesta quinta (30), Marina Silva (Rede) encerrará a série. A ordem das entrevistas foi determinada por sorteio. Luiz Inácio Lula da Silva, presidenciável do PT, está preso e proibido pela Justiça de dar entrevistas.

Temas da entrevista

Governo de transição – “O Itamar Franco quando assumiu a Presidência da República numa situação parecida com essa, ele não tinha uma base, e ele conseguiu juntar pessoas de diferentes partidos e governar e fazer uma transição. Eu vou ser um governo de transição. Durante quatro anos, eu vou governar esse país para que a gente possa combater a corrupção, fazer voltar a crescer e se um país justo e bom para todas as pessoas viverem.”

Saída de militantes da Rede – “Vejo o processo de saída de pessoas dos partidos como um processo natural numa democracia. E as pessoas que saíram da Rede são pessoas que continuo mantendo relação de respeito com essas pessoas e, mesmo elas estando distante da Rede, eu tenho absoluta certeza que uma coisa elas concordam comigo: os ideais que eu defendo para o Brasil são capazes de unir pessoas de diferentes partidos e pessoas da sociedade para liderar um processo político para governar o Brasil. As divergências não são divergências irresolvíveis, como às vezes a gente brinca, são visões de mundo. Por exemplo, naquela oportunidade, existia um grupo que achava que não se deveria votar favorável ao impeachment. Eu firmei o convencimento de que o impeachment era legal e em função disso criou-se uma divergência dentro da Rede. Mas eu mantenho excelentes relações com essas pessoas e tenho por elas admiração.”

Capacidade de liderança – “Ser líder não é ser o dono do partido Bonner, o líder de um partido, ele, é aquele que é capaz de dialogar com os diferentes, e naquela oportunidade do debate do impeachment, 60% da direção da Rede foi favorável ao impeachment e dois deputados tiveram uma posição contrária. Mas quando eles entraram na rede, eles já haviam dito: “Se tiver uma votação em relação ao impeachment nós não temos como votar favoravelmente.” E isso tinha a compreensão de que seria assim. Quando nós firmamos a convicção de que o impeachment não era golpe, nós dissemos ao mesmo tempo, não é golpe, tem legalidade, mas não vai alcançar finalidade, porquê Dilma e Temer são farinha do mesmo saco, angu do mesmo caroço, ambos cometeram os mesmos crimes de caixa dois, de desvio de dinheiro público e nós defendíamos a cassação da chapa de uma Temer.”

Idade mínima na reforma da Previdência – “Nós temos uma proposta: vamos encarar o problema da idade mínima. A gente está tendo pessoas que estão conseguindo viver muito mais. Isso é um debate que está acontecendo no mundo inteiro. E eu vou mais além: no problema da idade mínima, nós vamos manter a diferença entre homens e mulheres. A Universidade Federal de Minas Gerais fez um estudo de que 80 % das atividades domésticas são feitas por mulheres. Enquanto a gente tiver uma cultura em que as mulheres têm sobrecarga, elas têm o direito de se aposentar mais cedo. Mas isso nós vamos enfrentar. Desde 2010 que eu defendo – 2010, quando ninguém debatia isso – que a gente tinha que transitar para um regime de capitalização e contribuições. Agora, nós sabemos que, com o problema do déficit público, essa transição tem que ser bem construída. Mas devemos ir para um regime de capitalização e combater os privilégios.”

Partidos e pessoas – “Pessoas boas existem em todos os partidos e que, se a gente for olhar para os partidos, fica muito difícil qualquer tipo de diálogo político. Mas a gente tem que olhar para as pessoas, para a trajetória das pessoas. Pegando o caso do jovem, candidato ao governo do estado do Rio Grande do Sul. […] Não é particularizar, mas eu não vou desabonar o jovem, eu estou dizendo que ele é uma pessoa do bem. Se você for para o Amapá qual é a denúncia de corrupção contra o candidato? Não tem, não é com partidos.”

Aliança com o PV, partido ao qual foi filiada – “Nós, do Partido Verde e da Rede, fizemos uma aliança inteiramente programática, inclusive com o PV reconhecendo a soberania do meu programa em várias questões em que havia diferenças. Isso é típico da democracia. A Rede é um partido em rede porque assim se conformou e eu não vejo incoerência nenhuma. Incoerência sabe o que é? É fazer aliança por tempo de televisão, é fazer aliança em troca de dinheiro para enganar a população com marqueteiro vendido a peso de ouro, isso é que é incoerência.”

Apoio a Aécio Neves em 2014 – “Hoje, com as informações que vieram pela Lava Jato, não teria declarado o meu voto ao Aécio e acho que muitos dos que votaram no Aécio Neves… Mas veja bem, nas eleições de 2014, acho que a maioria das pessoas conscientes acabaram votando em alguém. Nós mesmos aqui, cada um de nós votou em alguém. Mesmo com tudo que tinha, alguém escolheu um candidato de segundo turno. Mas eu tenho certeza que muitos de nós aqui não teria votado se tivesse as informações da Lava Jato. Mas todo mundo votou, Bonner, todo mundo votou. Eu hoje não votaria. Não votaria nem em Aécio nem Dilma. A Lava Jato mostrou que todos eles praticaram crime de caixa 2.”

Agronegócio – “Tem muita gente que trata o agronegócio como se ele fosse homogêneo e não é. Hoje, tem muita gente que já está fazendo o dever de casa, tem muita gente que quer fazer. Eu estive ontem lá no encontro da Confederação Nacional da Agricultura e fui muito bem recebida, pelas minhas teses, pelas minhas ideias de uma agricultura de baixo carbono, de financiar, cada vez mais, a agricultura ABC, que introduz novas tecnologias.”

Ministério do Meio Ambiente e licenciamento ambiental – “Eu, quando entrei no Ministério do Meio Ambiente, tinham mais de 40 hidrelétricas que não tinham licenças, aquilo que foi competência do Ibama, nós limpamos a pauta e o que não dava para fazer nós dissemos claramente aos empreendedores: “Não dá para fazer, como foi o caso da Tijuco Alto.” Você sabe de uma coisa? As licenças mais difíceis foram na minha gestão.”

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