Após a exibição de uma matéria pela TV Record expondo a exploração de trabalhadores em campos de Sisal na Bahia, Wilson Andrade, representante das indústrias do setor, concedeu uma entrevista defendendo os empregadores da área. Porém, após se despedir da repórter, ele não desligou a chamada de vídeo e desmentiu os próprios argumentos.
Assista:
Após o fim da entrevista, o presidente do sindicato não encerra a ligação, e admite a grave situação dos trabalhadores #RRI pic.twitter.com/dTWrb3se1q
— Record TV (@recordtvoficial) August 7, 2020
Questionado sobre as condições de trabalho análogo à escravidão no campo, o presidente da Sindifibras (Sindicato das Indústrias de Fibras Vegetais no Estado da Bahia) negou irregularidades e garantiu que o setor é preocupado com as condições de trabalho.
“No mundo de hoje você não vai vender produto algum se ele não for certificado e as certificações envolvem condições de trabalho, assistência social e remuneração condizente com o trabalho que se faz”, diz inicialmente.
De acordo com a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia (SEAGRI), o setor movimentou US$ 100 milhões por ano. O sisal é a matéria-prima de muitos produtos como, por exemplo, tapetes de luxo.
A matéria da emissora mostra jornadas exaustivas para ganhar menos de um salário mínimo, lavradores mutilados no motor de sisal e crianças ajudando os pais nas plantações. Durante a entrevista, Andrade admitiu que o setor precisa melhorar, mas afirmou não ter conhecimento do quanto um cevador de sisal ganha por mês.
“Não acho que é grave [a condição de trabalho], eu acho que é sempre preciso melhorar e tem que se trabalhar cada vez mais por isso. O produtor rural trabalha no seguinte esquema: alguns têm registro e empregados permanentes e você tem também a parte do pessoal que trabalha dividindo a produção”, contemporizou.
Com o fim da entrevista, Andrade se despede e comenta os questionamentos da emissora com uma pessoa que está fora do quadro de sua câmera. Sem perceber que ainda está com o áudio ligado, ele desmente tudo o que acabou de defender.
“A defesa [do setor] tá feita. Ela tá querendo colocar na conta da Indústria (…) O esquema é completamente irregular, completamente. Não tem registro, o cara trabalha como autônomo, chega na sua fazenda, tira o sisal e ‘metade é seu’ e ‘metade é meu’. Tá errado, ela tem razão”, admitiu o presidente da Sindifibras.
Antes de perceber que não havia desligado a ligação, Andrade ainda questiona o interlocutor. “Você tem que defender naquilo que pode, tá certo?”.