Investigação da rede Al Jazeera com base em documentos públicos mostrou que a mercadoria que explodiu em Beirute chegou ao Líbano em 2013
Após a explosão que deixou mais de 100 mortos e milhares de feridos no Líbano na terça-feira, 4, as principais investigações apontam que o caso foi acidental.
Mas parte do motivo pela explosão pode ter sido a negligência das autoridades. A rede de televisão especializada em cobertura do mundo árabe Al Jazeera compilou documentos e outros materiais públicos dos últimos anos para mostrar que o governo do Líbano já sabia da existência de nitrato de amônia no porto há pelo menos seis anos.
Segundo a publicação, funcionários públicos libaneses e juízes sabiam da existência da carga e que o material era perigoso e altamente explosivo.
A carga com nitrato de amônio chegou ao Líbano em 2013, segundo informações oficiais dos órgãos responsáveis pelo porto. O navio, de origem russa e com destino a Moçambique, teve de atracar no porto de Beirute por problemas técnicos. O navio terminou sendo abandonado por sua tripulação diante dos problemas. A carga com o nitrato também foi, dessa forma, deixada no porto.
Meses depois, já em 2014, autoridades da Administração Aduaneira do Líbano enviaram à Justiça um pedido de solução para a carga, que ainda estava no porto. O pedido está registrado em documentos online.
Nos próximos anos, outras cinco cartas teriam sido enviadas pedindo soluções para o problema. A última foi em outubro de 2017. Entre as soluções propostas, estava a exportações do nitrato de amônio, além de pedidos para que ele fosse entregue ao exército do Líbano ou, eventualmente, vendido a uma empresa privada de explosivos do país.
Ao menos até 2016, segundo os registros, as autoridades do porto não tinham obtido nenhuma resposta. As cartas citavam “o perigo” de “deixar essas mercadorias onde estão”.