Com a pandemia de coronavírus, as cúpulas dos partidos se programam para uma campanha concentrada na internet
Na primeira eleição municipal abastecida em sua maior parte com dinheiro público, dirigentes dos partidos já começaram a definir como distribuir os R$ 2 bilhões que terão para bancar campanhas nas 5.570 cidades do País. A escolha de prefeitos e vereadores foi adiada de outubro para novembro e a ideia agora é privilegiar capitais, enviar uma quantia mais robusta para candidatos que se mostram mais competitivos e favorecer redutos eleitorais de “caciques” das siglas.
Com a pandemia de coronavírus, as cúpulas dos partidos se programam para uma campanha concentrada na internet, com propaganda para atingir eleitores nas redes sociais, e com o horário eleitoral em rádio e TV. Na avaliação das legendas, isso deve encarecer os custos das eleições.
“Internet, televisão, tudo isso gasta dinheiro. Embora a propaganda na TV não seja paga, fazer a propaganda custa caro. Tem que ter estratégia, imagem, marqueteiro. É mais caro, não tenha dúvida disso”, afirmou o presidente do PSB, Carlos Siqueira ao Estadão.
Atualmente, não há uma regra na lei para estabelecer como o partido deve distribuir o Fundo Eleitoral, que é repartido entre as legendas de acordo com o número de parlamentares no Congresso. A única exigência da legislação é destinar 30% dos recursos a candidaturas femininas.
No PT, dono da maior fatia do Fundo Eleitoral, R$ 201,3 milhões, os critérios devem ser definidos nas próximas semanas, segundo a presidente do partido, a deputada Gleisi Hoffmann (PR). “Vamos levar em conta a proporcionalidade do eleitorado, a votação que tivemos para deputados federais nos Estados e municípios”, disse Gleisi. O partido ainda não fechou o número de candidatos que pretende lançar, mas quer ter cabeça de chapa em 80% das cidades com segundo turno, o que dá 76.
Com base no critério de proporcionalidade, candidatos da Bahia, Minas Gerais e São Paulo serão privilegiados. Numa época em que integrantes das Forças Armadas ocupam vários cargos na equipe do presidente Jair Bolsonaro, o PT decidiu lançar para a prefeitura de Salvador a major da Polícia Militar Denice Santiago, em oposição ao candidato do DEM e atual vice-prefeito, Bruno Reis. Em São Paulo e Belo Horizonte, as apostas serão dois ex-deputados, Jilmar Tatto e Nilmário Miranda, respectivamente.
Com R$ 199,4 milhões do Fundo Eleitoral, valor 20 vezes maior do que teve em 2018, quando elegeu Bolsonaro, o PSL pretende lançar até 30 mil candidatos em todo o País. O número incluiu postulantes aos cargos de prefeito e vereador. Se o dinheiro fosse dividido igualmente entre todos, cada um teria pouco mais de R$ 6 mil para fazer campanha. Mas não é isso que vai acontecer.
A legenda pretende investir mais nas campanhas consideradas “estratégicas”, como a da deputada Joice Hasselmann à Prefeitura de São Paulo e do também deputado Fernando Francischini, em Curitiba.
“Usaremos critérios como o grau de competitividade, além da participação obrigatória dos 30% de mulheres”, afirmou o presidente do PSL paulista, Júnior Bozzella. Bolsonaro rompeu com o partido para criar o Aliança pelo Brasil, que até hoje não saiu do papel. O PSL é alvo de investigações na Justiça Eleitoral sob suspeita de usar candidaturas de mulheres como “laranja” para desviar recursos públicos. O partido nega.
Fidelidade
Embora o foco da maioria dos partidos deva ser nas principais cidades, no Progressistas (antigo PP) o critério será outro. Com a quarta maior quantia dos recursos (R$ 140,7 milhões), a legenda vai priorizar redutos eleitorais dos deputados e senadores que foram mais fiéis à sigla no Congresso.
“A distribuição dos recursos nos Estados tem uma relação com o posicionamento dos parlamentares, mas ainda não temos um critério de distribuição totalmente definido”, disse o deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR), tesoureiro nacional da legenda. Seu irmão, Silvio Barros, do mesmo partido, vai tentar neste ano voltar à prefeitura de Maringá (PR), cidade que o próprio deputado já administrou.
No caso do MDB, partido que mais elegeu prefeitos em 2016, a tarefa de escolher qual candidato terá mais ou menos verba caberá aos dirigentes locais. “Nós sempre descentralizamos o recurso, valorizamos os Estados e as características regionais. Cada um tem que ser livre para saber o que é mais importante”, afirmou o presidente do partido, deputado Baleia Rossi. A opinião é compartilhada pelo presidente do PSD, Gilberto Kassab, partido que vai receber R$138,9 milhões. “Vamos deixar a aplicação a critério dos Estados, cada um com suas diretrizes. A divisão será feita por critérios políticos para fortalecer o partido a nível nacional”, afirmou Kassab.