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terça-feira 7 de julho de 2020 às 07:45h

Mulheres eleitas ajudam pré-candidatas em estratégias de campanha

POLÍTICA


Conforme reportagem do jornal Folha, um projeto de mentoria reuniu 18 participantes de 11 partidos dos vários espectros ideológicos para ampliar presença feminina em mandatos eletivos

Em Maceió, a deputada estadual de Alagoas Cibele Moura (PSDB), 22, falou de estratégias de campanha para a pré-candidata a vereadora em Curitiba Indiara Barbosa (Novo), 37.

Já a vereadora de Araraquara (SP) Thainara Faria (PT), 25, compartilhou a experiência do mandato com a pré-candidata à Câmara Municipal do Rio de Janeiro Sol Miranda (PSOL), 29.

As quatro fizeram parte de um grupo de 18 mulheres, de 11 partidos dos vários espectros ideológicos, que participaram do programa de mentoria para pré-candidatas da Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade) —organização que trabalha na formação de pessoas com mandato ou que querem entrar para a política.

As líderes foram organizadas em nove duplas, formadas por uma mulher com experiência de mandato e campanha e uma pré-candidata ao Legislativo municipal, de estados diferentes e, em alguns casos, até regiões. Além do engajamento na organização, a seleção também priorizou a diversidade partidária e étnico-racial.

Realizado ao longo de um mês e meio, o projeto se baseou em iniciativas anteriores promovidas pela Raps e na experiência da organização de conectar pessoas de diferentes partidos. O foco nas mulheres foi uma contribuição mais efetiva para ajudar a superar a desigualdade entre eleitos.

“Mulheres, LGBT, pretos e pardos, indígenas são a população com menor representação política e que tem dificuldade em se inserir nesse espaço institucional”, afirma a cientista política Mônica Sodré, diretora executiva da Raps.

Em Araraquara, Thainara foi a mulher mais jovem e a primeira negra a assumir como vereadora em uma Câmara que tem 18 integrantes —apenas duas mulheres. Cibele também é a mais jovem deputada na Assembleia Legislativa de Alagoas, onde exerce o primeiro mandato junto a outras quatro mulheres dentre 27 parlamentares.

Para chegar ali, Cibele —que é filha de políticos e tinha visibilidade como liderança jovem tucana—enfrentou ataques ao longo da campanha pela pouca idade, enquanto Thainara, que cresceu em comícios acompanhando a mãe, que trabalhava para complementar a renda, teve que superar a falta de experiência e o assédio no exercício do mandato.

“Foi extremamente difícil. Entramos com várias pautas diferentes, sobre mulheres, negros e LGBTs e o ambiente é muito conservador. Meu corpo não era reconhecido como corpo político”, diz Thainara, que é pré-candidata à reeleição.

Sodré afirma que ameças a integridade física aparecem com mais frequência entre candidatas mulheres. Em 2018, ela conta que uma candidata da Raps relatou receber nudes no WhatsApp de campanha.

Questões culturais, como a falta de divisão do trabalho doméstico e de licenças concedidas pelas empresas para mulheres que queiram se candidatar, também impactam a entrada delas no meio eleitoral, afirma a cientista política.

Divorciada e mãe de um filho de sete anos, Indiara é auditora contábil e conseguiu negociar uma licença não remunerada para se candidatar a deputada federal pelo Novo em 2018, sua primeira experiência eleitoral. Apesar de não ter sido eleita, terminou a campanha como a mais votada do partido no estado.

Para a atriz e produtora Sol, mulher negra, mãe solteira de um filho de seis anos e vinda da periferia, além da necessidade da construção de uma rede de apoio ainda pesa o desafio, que Indiara enfrentou na primeira campanha, de captar recursos e se tornar conhecida num cenário agravado pela pandemia.

A barreira do financiamento costuma ser o principal obstáculo para mulheres. Apesar da obrigatoriedade dos partidos em destinar 30% dos recursos do fundo partidário para candidaturas femininas em eleições proporcionais, a divisão do dinheiro nas siglas também prioriza mulheres com mais chance na disputa.

Pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e doutoranda em ciência política na USP, Graziele Silotto afirma que a criação de cotas foi uma maneira de reduzir o alto custo de entrada para as mulheres na política, mas apesar disso, as mulheres com mais chance de se eleger ainda são as mais experientes ou vindas de famílias de políticos.

“Não temos evidências na ciência política de que o eleitor prefere não votar em mulheres, mas sabemos que os partidos têm dificuldade em encontrar mulheres com alto capital político para serem eleitas”, diz Silotto.

Em meio a desafios, a troca de experiências durante a mentoria trouxe às pré-candidatas novas possibilidades de ação. “A campanha vai ser bem mais digital, e Cibele me deu várias dicas importantes para conseguir engajamento”, conta Indiara.

O diálogo se estendeu também entre as equipes de comunicação e jurídica, o que permitiu levar experiências do mandato para a campanha.

“A gente conseguiu encontrar pontos que de fato são iguais no Brasil todo, como a dificuldade de renovação. Reviver os momentos de pré-campanha é importante pra gente não desligar das dificuldades que temos que enfrentar como candidatas”, afirma Cibele.

Thainara conta que muito do que aprendeu foi durante o mandato e também sozinha. “A política é muito solitária para a mulher. Para a mulher negra, também é muito violenta.”

Além do conhecimento sobre a interlocução com os Poderes construída ao longo do mandato, a vereadora, que também é advogada, trouxe para Sol informações sobre leis, especialmente na área cultural. Para a pré-candidata, que se filiou ao PSOL a convite do partido após o assassinato da vereadora Marielle Franco, a troca com uma mulher de outra sigla foi um dos pontos altos da mentoria.

“Essa aproximação nos faz ampliar a ideia de que é possível construir uma democracia independentemente da sua relação partidária”, diz Sol, que tem compartilhado o aprendizado com outras pessoas e formado um grupo suprapartidário para construir uma agenda para os negros na cultura.

Embora a experiência da mentoria tenha terminado oficialmente no dia 30 de junho, as participantes afirmam que o diálogo entre as campanhas deve continuar.

“As conexões têm servido pra vida e não só dentro daquele espaço que a gente oferece, o que significa que é um trabalho bem executado. A gente quer que essas pessoas sigam juntas, trocando experiência para além da gente também”, afirma Sodré.

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