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terça-feira 30 de junho de 2020 às 14:17h

Os brasileiros estão invadindo a bolsa americana. E a culpa é de Roberto Lee

CURIOSIDADES, NOTÍCIAS


Recentemente, o empresário Roberto Lee, fundador e CEO da corretora Avenue Securities, recebeu uma ligação inesperada de um dos consultores que trabalham com a empresa junto à Financial Industry Regulatory Authority (Finra), uma das entidades que regulam o mercado financeiro americano.

Ressabiado com a chamada repentina, vinda do profissional que conversa com os reguladores do mercado, atendeu ao telefonema. “Pensei comigo mesmo, não tinha agendado nenhuma reunião, será que, por mais que façamos tudo certo, tinha acontecido algo?”, publicou o NeoFeed.

Mas a notícia que vinha do outro lado da linha era bem inusitada para uma corretora que não tinha nem um ano de vida. “Ele dizia que a Avenue já era a maior corretora da história dos Estados Unidos em número de clientes brasileiros”, diz Lee.

Na semana passada, a Avenue bateu mais de 100 mil clientes, mais precisamente, 103 mil investidores brasileiros comprando ações de empresas como Amazon, Facebook, Apple, Alphabet, Disney, entre outras; e produtos de renda fixa ofertados nos Estados Unidos. “Estamos com R$ 1 bilhão sob custódia”, diz Lee, que vive em Miami.

É a primeira vez que ele abre esse número para uma publicação e revela que uma média de 800 novas contas são abertas por dia. O crescimento vem a reboque da facilidade de abrir a conta. Um processo que levaria 15 dias, na Avenue, com muita tecnologia embarcada, dura poucos segundos. E o processo de enviar dinheiro e resgatar o investimento segue a mesma linha.

Se plataformas de investimento como a XP Inc. nasceram com o discurso de ajudar os investidores a encontrar opções fora dos bancos, a Avenue, afirma seu fundador, pretende criar uma terceira onda. “Nossa missão é levar a competição internacional para a Faria Lima”, diz Lee sobre o centro financeiro de São Paulo, que concentra o mercado brasileiro.

Para isso, se prepara para aumentar a sua capilaridade. Em fevereiro, a empresa contratou André Algranti, que foi CEO da XP nos EUA. Agora, vai criar uma área de assessores financeiros. Serão agentes autônomos que trabalharão no Brasil e nos EUA. Afinal, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), com a instrução 619, regularizou a atuação de consultores financeiros internacionais no Brasil.

“Isso entrou em vigor no dia 1 de junho e muda tudo”, diz Lee. A corretora está registrando o seu braço Avenue Advisory para que consultores possam vender os produtos para os brasileiros. Até o momento, os clientes baixam o aplicativo e fazem os investimentos. Mas, em breve, a corretora vai aumentar o leque de produtos, criando uma extensa plataforma aberta, o que tornará a consultoria ainda mais necessária para quem não é expert no mercado.

O cliente da Avenue não é o private que investe no exterior há muito tempo e têm um tíquete de partida que gira na casa dos US$ 200 mil. Trata-se de um cliente pessoa física, de classe média ou classe média alta, cujos investimentos variam entre US$ 8 mil e US$ 10 mil.

Embalado pela entrada de novos investidores no mercado brasileiro, Lee acredita num salto exponencial dos investimentos feitos nos Estados Unidos. Segundo ele, haverá muito investidor no Brasil e poucos produtos disponíveis. “O Brasil tem um problema de capacity, faltam bons produtos. Os bons ficam com os clientes private e o varejo com a xepa”, diz Lee.

Isso o leva a acreditar que, em cinco anos, 40% da classe poupadora do Brasil terá ativos internacionais em suas carteiras. Hoje, essa fatia é menor do que 1%. “A transformação será violentamente drástica”, diz ele. Principalmente por conta dos juros baixos, de regulações mais modernas e de serviços que conseguem dar acesso. “É um complemento ao mercado, um complemento as carteiras.”

Lembrar do passado para prever o futuro

E esse movimento pode acontecer muito rápido. Basta voltar cinco anos no tempo. Nessa época, as plataformas brasileiras tinham poucos clientes. A XP, por exemplo, contava com 50 mil clientes e hoje são mais de 2 milhões. “Isso vai acontecer com os investimentos internacionais. Acreditamos que, em 2026, 2,2 milhões de brasileiros estarão investindo aqui nos EUA”, diz Lee. Se isso, de fato, acontecer, ele acredita que, em 2026, a Avenue terá R$ 80 bilhões sob custódia.

Roberto Attuch Jr., CEO da casa de análise Omninvest, que atuou nos bancos Credit Suisse e Barclay’s, enxerga a internacionalização como uma necessidade. “Isso sempre foi para o cliente de alta renda, mas todo brasileiro deveria fazer esse movimento”, diz ele. “É uma questão de proteção de patrimônio”, afirma.

A ideia de Lee e de seus sócios, gente de peso como a Vectis Partners, de Paulo Lemann, Patrick O’Grady e Alexandre Aoude; Carlos Ambrosio, atual presidente da Anbima, Christian Klotz, da Brasil Capital, e Marco Kheirallah (ex-BTG e PDG), é criar um ambiente para que os investidores tenham uma vida financeira internacional. “Vamos criar um serviço de banco digital”, diz Lee.

Além de investir, os clientes poderão ter cartão de débito e de crédito, fazer pagamentos e acessar até financiamento imobiliário em dólar. “Já recebemos as licenças de banking. Já temos um time trabalhando nisso e deve sair no segundo semestre.”

Para tracionar esses novos serviços, a empresa conta com um caixa que foi encorpado com um aporte do fundo e.bricks ventures, em fevereiro deste ano, estimado em R$ 50 milhões. E um novo investimento liderado por um fundo de venture capital americano deve sair em breve.

“O Roberto Lee e equipe carregam uma combinação que reflete o que acreditamos: experiência na indústria, arrojo para criar algo muito relevante, capacidade de atrair talentos, e robustez na execução. Com este patamar de taxas de juros aumenta ainda mais a necessidade de uma diversificação em produtos em outras moedas”, diz Pedro Melzer, CEO da e.bricks ventures.

Lee, de fato, é um empreendedor em série quando o assunto são corretoras. Ele fundou a Win e depois a Clear, vendida, em 2013, para a XP. Lá, se tornou executivo e, em 2017, estava tocando um projeto de montar uma corretora, nos moldes da Avenue, para a empresa de Guilherme Benchimol. “Se chamava projeto Atlas. Mas aí começaram a colocar em dúvida as margens, a competição com a Schwab. Assim como o Itaú não teve vontade de abrir sua prateleira, as corretoras não quiseram abrir a plataforma a investimentos internacionais”, diz Lee.

Diante disso, Lee resolveu deixar a XP e criar, ele mesmo, uma corretora nos EUA. Na saída, deu um call de 20% da Avenue para XP. “Mas, como eu sabia que a intenção nunca foi abrir a prateleira, propus de eles entrarem não com dinheiro, mas conectando a base da XP. No dia de exercer a opção, não exerceram e quiseram executar um non compete. Ninguém quer que a competição internacional chegue, é um assunto muito hostil para toda a Faria Lima.”

A Faria Lima, diz ele, aprendeu como poucos a não concorrer e Lee lembra de uma máxima que corre solta nas rodinhas do setor. “Você quer perder o cliente? Pode vender COE (Certificado de Operações Estruturadas), pode xingar a mãe dele, pode perder todo o dinheiro dele, que você não vai perder esse cliente. Mas, se abrir uma conta em uma corretora nos EUA, vai perder. Ele vai descobrir o Bank of America, o Goldman Sachs, o J.P. Morgan e vai migrar. Essa é a aposta da Avenue.”

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