Jair Bolsonaro tem no radicalismo dos seguidores de Olavo de Carvalho os seus apoiadores mais fieis. É essa turma que mantém ativos os tambores do presidente nas redes sociais com o discurso de “revolução” que começa pela – algo reconhecido por Bolsonaro — implosão do país como é hoje.
Fechem o Supremo, o Congresso, prendam parlamentares e juízes, lancem as forças armadas a controlar o país sob as ordens de Bolsonaro, eles gritam. Como o Radar já mostrou, Bolsonaro precisa manter ativa sua agenda de batalhas, sua lista de inimigos e suas conspiratas para que também esse público radical siga fiel ao ritmo dos tambores.
Essa ligação entre a militância e a agenda ódio ficou clara no início da pandemia, quando Bolsonaro arriscou-se a fazer seguidos pronunciamentos em rede nacional. No pronunciamento em que afrontou governadores, minimizou a pandemia e atacou as instituições, Bolsonaro incendiou as redes. Uma semana depois, quando ensaiou o tom moderado, viu as interações positivas relacionadas ao governo minguarem na internet.
Líder maior dessa tropa aloprada, o guru Olavo de Carvalho tomou de assalto com seus olavetes o Ministério da Educação desde o início do governo. O desastre da gestão de Ricardo Vélez Rodríguez pariu Abraham Weintraub, que levou a mais importante das áreas do governo ao apagão gerencial destes dias.
Para demitir Weintraub, como desejam os militares e a ala moderada do governo, Bolsonaro terá de desagradar a audiência mais fiel do seu governo. É isso que vem segurando a caneta do presidente há semanas.
No dia 3 de junho, o Radar mostrou que interlocutores de Bolsonaro haviam avisado a ministros do STF, do STJ e interlocutores do Congresso de que Weintraub sairia. A narrativa do pedido de demissão era a forma honrosa para que o ministro deixasse o governo preservando o capital político de Bolsonaro junto aos olavetes.
A notícia da saída de Weintraub levou Olavo de Carvalho a anunciar a ruptura com o governo. O guru, depois de bater pesado em Bolsonaro, voltou atrás, mas deu algum fôlego ao pupilo do MEC.
Apoiado por Olavo e pelos filhos de Bolsonaro, Weintraub passou a construir um discurso de perseguido pelo sistema, que não suportaria suas “ideias” e precisaria “silenciá-lo”. “A jogada é sair como mártir do governo”, diz um auxiliar de Bolsonaro a coluna Radar.
“Querem me calar a qualquer custo”, gritou Weintraub nas redes, nesta segunda, após ser multado por desrespeitar o decreto do governo do DF que obriga o uso de máscara em Brasília na pandemia.
Depois de virar investigado no STF por pregar abertamente a prisão dos ministros do STF, chamados por ele de “vagabundos”, Weintraub passou a usar nas redes uma foto em que surge amordaçado. Ao depor na PF, saiu carregado por alguns apoiadores, como os petistas faziam com os “guerreiros do povo brasileiro”.
A narrativa de vítima do sistema, entregue aos leões por Bolsonaro, está construída. Resta saber se será hoje a saída.