No mesmo dia em que foi reconduzido para a presidência da Fundação Nacional de Artes (Funarte), o maestro Dante Mantovani, um dos nomes mais controversos da gestão de Roberto Alvim na Secretaria Especial da Cultura, teve a nomeação anulada na noite desta terça-feira (5) conforme o jornal O Globo. Ele havia sido demitido pela secretária Regina Duarte em março, no mesmo dia em que ela foi empossada como secretária.
Enquanto a decisão era publicada, Mantovani estava ao telefone com a reportagem de O GLOBO, sem saber da anulação. Durante a entrevista, o maestro, que está em Brasília, relatou que estava preparando um relatório de seus 90 dias à frente da Funarte para tentar uma audiência com Jair Bolsonaro. Ele também comentou sobre planos de lançar um edital de emergência para socorrer artistas durante a pandemia de Covid-19, e disse estar pronto para retomar o diálogo com a secretária Regina Duarte. Mantovani reclamou da forma como a mídia deu destaque para o vídeo em que foi retirado o trecho com uma associação entre rock e satanismo, e que não teve chance de expôr sua versão para Regina Duarte.
– Não tive a oportunidade de explicar a ela que aquilo veio de uma aula online baseada em teorias de três livros acadêmicos, que pesquisam o uso ideólogico de várias vertentes musicais por grupos políticos – disse o maestro. – Sou do diálogo, sempre. Quero falar com ela da mesma forma que fiz quando estive à frente da Funarte, aberto a todos os grupos. Espero que ela também esteja aberta ao diálogo com todos, não só com a esquerda.
Portaria publicada em edição extra do Diário Oficial da União tornou sem efeito a nomeação de Mantovani. Os dois atos foram assinados pelo ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto. Regina Duarte não foi avisada da nomeação e ficou surpresa. Ao longo do dia, ela marcou uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro para esta quarta-feira.
Na agenda com o presidente, Regina Duarte pretende apresentar seu plano de comunicação para Cultura. A aliados, a secretária diz que pretendia aproveitar a conversa com “seu presidente”, “seu líder”, como costuma chamar Bolsonaro, para entender “as razões dele” para nomear novamente Mantovani para a Funarte.
Interlocutores do Planalto associaram seu retorno a uma indicação do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, e também a uma retomada de poder da ala ideológica, ligada a Olavo de Carvalho.
A avaliação no Palácio do Planalto é de que Bolsonaro anda incomodado com algumas nomeações de Regina Duarte na Cultura. Porém, aliados do presidente afirmam que ele não estaria disposto a arcar com o desgaste da demissão da ex-atriz global neste momento, após as saídas de dois ministros populares do governo.
Entre as insatisfações apontadas por aliados de Bolsonaro com o trabalho de Regina, estão críticas às políticas de audiovisual e também com algumas nomeações consideradas de profissionais ligados à esquerda. A secretária e sua equipe vêm sendo atacados também nas redes sociais por militantes bolsonaristas.
Na semana passada, o presidente reclamou a jornalistas no Palácio da Alvorada da ausência da secretária em Brasília. Questionado, Bolsonaro afirmou que Regina “estava lá, trabalhando pelo internet” e que gostaria que ela estivesse “mais próxima”.
– Infelizmente, a Regina está trabalhando pela internet ali e eu quero que ela esteja mais próxima. Uma excelente pessoa, um bom quadro, é também uma secretaria que era ministério, muita gente de esquerda, pregando ideologia de gênero, essas coisas todas que a sociedade, a massa da população não admite, e ela tem dificuldade nesse sentido – disse Bolsonaro.