O Whatsapp é o aplicativo de mensagens mais utilizado no Brasil. Dos 120 milhões de usuários no país, 48% adotam a plataforma como fonte de notícias, segundo levantamento do Instituto Reuters para Estudo de Jornalismo.
O aplicativo, no entanto, é frequentemente utilizado para a divulgação de fake news, que podem influenciar os rumos das eleições de outubro, alertam especialistas.
Com 1,5 bilhão de usuários no mundo, o aplicativo acumula casos de atividade maliciosa. Na Índia, por exemplo, que é o maior mercado do Whatsapp no mundo, em julho oito pessoas foram mortas em decorrência de rumores sobre “sequestradores de crianças” em grupos de conversa.
Para conter a propagação de notícias falsas, a empresa limitou a distribuição simultânea de conteúdopara apenas cinco grupos e removeu o botão de compartilhamento rápido na Índia. Um limite semelhante foi implementado para usuários em outros países. Além disso, o aplicativo passou a marcar claramente mensagens encaminhadas.
A Índia também serve como exemplo também em termos de mau uso do Whatsapp durante campanhas eleitorais. Em eleições legislativas deste ano por lá, o aplicativo virou parte central de campanhas.
Os dois partidos mais importantes na índia afirmaram ter mais de 20 mil grupos de Whatsapp que os permitiriam mobilizar instantaneamente milhões de simpatizantes. Muitas mensagens nestes grupos eram falsas e inflamatórias; algumas instigavam rivalidades entre hindus e a minoria muçulmana para fins eleitorais.
Partidos utilizaram milhares de “guerreiros de WhatsApp” para atuarem em grupos, entre outras táticas, divulgando pesquisas eleitorais falsas. Indivíduos ligados a legendas políticas bombardearam com informações dezenas de eleitores que foram designados a acompanhar durante o pleito. Esses, por sua vez, integravam diversos grupos onde espalhavam desinformação e ataques a opositores. Grupos independentes também atuaram por conta própria.
Memes, áudios e vídeos falsos foram distribuídos, incluindo um vídeo de um linchamento na Guatemala descrito como um ataque de muçulmanos a uma hindu. Como, em geral, não é possível identificar a origem das informações, é complexo punir atores maliciosos.
O Whatsapp não possui anúncios ou direcionamento de publicações como o Facebook, mas consegue atingir eleitores específicos. Políticos indianos criaram milhares de grupos para chegar a cada distrito ou vilarejo de certas regiões. Além disso, pode-se instruir administradores e membros a adicionarem apenas pessoas de certas faixas etárias.
Desinformação em forma de notícia
Um aspecto relevante do Whatsapp é que adicionar alguém a diversos grupos automaticamente o/a expõe a dezenas de mensagens diárias, que chegam diretamente ao seu celular. Ou seja, isso pode tornar candidatos quase onipresentes, em vez da exposição tradicional em horário eleitoral definido e limitado.
Outro problema é que muitos usuários do aplicativo não são familiarizados com tecnologia, logo possuem dificuldades em checar informações na internet.
O Digital News Report 2018, do Instituto Reuters para Estudo de Jornalismo, aponta que 61% dos brasileiros compartilham notícias em redes sociais ou por e-mail. Um cenário no qual atores maliciosos podem espalhar desinformação disfarçada de notícia no Whatsapp para fins eleitorais. “Existe essa possibilidade. A disseminação de qualquer tipo de informação no Whatsapp pode ser mais rápida do que conversas cara a cara”, explica Antonis Kalogeropoulos, coautor do relatório.
Apesar de dificultar o combate às notícias falsas, a criptografia é crucial para manter a segurança de usuários em países repressivos. Então, como lidar com o problema? “Com educação ao usuário e ferramentas que facilitem a checagem de notícias compartilhadas”, sugere Samantha Bradshaw, pesquisadora do Projeto de Propaganda Computacional.
Um bot “do bem”
A verificação de fatos é a aposta de alguns programadores em Taiwan. Cansados de mensagens com golpes no LINE, o aplicativo de conversas mais popular do Estado asiático, um grupo de voluntários criou um bot para enfrentar a desinformação.
Chamado de Cofacts, o bot surgiu, em especial, para esclarecer os milhares de usuários que possuem pouca familiaridade com a internet, definidos como “imigrantes digitais” pelo web developer e cocriador do dispositivo Johnson Liang.
“Eles não sabem como procurar informações no Google, simplesmente absorvem o que veem nos grupos de conversa. Receber respostas diretamente no LINE reduz as barreiras para que ganhem perspectivas diferentes”, explica.
Mensagens suspeitas podem ser encaminhadas para o bot, que enviará ao usuário uma verificação de fatos sobre o tema, se uma existir em seu banco de dados. Caso ainda não haja uma checagem disponível, editores voluntários a produzirão.
O projeto já tem 38 mil usuários, quase 20 mil mensagens respondidas e mais de 600 editores registrados no site cofacts.g0v.tw. Os editores podem classificar as mensagens em categorias simultâneas como “contém desinformação” ou “contém opinião” e precisam citar ao menos três fontes.
O Cofacts não garante a qualidade das checagens, mas trabalha com a perspectiva de que quanto maior o número de editores, melhor será o conteúdo produzido – em um esquema similar ao da Wikipedia.
Apesar de o projeto ser conhecido pela Facebook, proprietária do WhatsApp, Liang não acredita que um bot similar possa ser implementado no aplicativo de mensagens. “A função mais valiosa de um chatbot é a resposta automática quando uma existe em um banco de dados. Infelizmente, o Whatsapp não fornece essa funcionalidade, além de interromper bots.”
A Facebook não respondeu às perguntas da DW Brasil, mas a empresa já anunciou que financiará pesquisas sobre desinformação no Whatsapp.
Por Deutsche Welle