Nesta quinta-feira (16) o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou em entrevista a Mário Kértesz, na Rádio Metrópole, que o presidente Jair Bolsonaro deveria deixar de ser “ignorante” e passar a governar o país em meio à pandemia do novo coronavírus. O petista também criticou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que ganhou projeção nacional ao liderar uma estratégia de isolamento social como principal forma de diminuir os impactos da transmissão da doença no Brasil.
Para Lula, Bolsonaro precisa deixar de “perseguir” governadores do Nordeste e de criar brigas políticas sucessivamente e passar a cuidar da crise sanitária provocada pela Covid-19, que, segundo ele, o governo federal “não tem sabido cuidar”.
“Um presidente da República não pode ficar brigando com todo mundo todo dia e toda hora. Bolsonaro precisa governar esse país para 210 milhões de habitantes. Ele tem que deixar de ser ignorante e fazer as coisas que precisam ser feitas […] Acho que o Brasil não merecia o presidente que tem”, criticou.
Ele ainda atribuiu a eleição do atual presidente da República a um sentimento de antipolítica cultivado no eleitor, e não de antipetismo. “Falou-se que deputado não prestava, senador não prestava, partido não presta, a ponto de conseguirem fazer com que um cidadão, que tinha 28 anos de mandato que ninguém sabia o que ele fazia e quatro de vereador, ser eleito por uma parte da sociedade que era antipolítica. Por não gostar de política, votaram de Bolsonaro. É o maior desastre do mundo quando a sociedade não acredita na política”, declarou Lula.
O ex-presidente também atacou Mandetta. Para o petista, o ainda ministro “sempre foi contra o SUS [Sistema Único de Saúde]” e a favor da privatização do sistema. No entanto, ironizou Mandetta e o mercado por procurarem guarida no estado durante a pandemia.
“Toda hora que dá uma dor de barriga, o mercado se esconde e quem tem que cuidar do mercado é o Estado. Por isso que sou defensor do Estado. Estado indutor do desenvolvimento, da educação, da saúde, de investir em serviços essenciais”, afirmou.
“Antipetismo é bobagem”
O ex-presidente minimizou o fator “antipetismo” na vitória de Jair Bolsonaro em 2018. Na avaliação dele, é “bobagem” dizer que há um sentimento da população contrário ao PT e “vai sempre ter uma parcela de um lado que não vai gostar de outras pessoas”. Para Lula, o pleito foi “resultado de uma mentira”, iniciada pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e depois continuada pela Operação Lava Jato.
“A Lava Jato foi uma das podridões contadas neste país. A força-tarefa da Lava Jato virou uma quadrilha. Eu sonhava ser candidato em 2018, mas, ao mesmo tempo, eu tinha convicção que eles não fizeram o impeachment da forma como eles fizeram para depois me deixarem ser candidato. Eles não cassaram a Dilma para deixar o Lula voltar”, disse. Outra avaliação feita por Lula é de que a elite brasileira criou ódio aos mais pobres.
“Acho que o que existia por parte da elite brasileira era a anti-ascensão das pessoas mais pobres. Era o ódio de as pessoas mais pobres lotarem aeroporto de salvador e de chamarem o aeroporto de rodoviária. O ódio das pessoas mais pobres cristalizou”, declarou.
Ele seguiu questionando o antipetismo. “Mas, se havia um sentimento contra o PT, como a gente ganhou quatro eleições na Bahia em primeiro turno? Mostra uma elite política mais inteligente que Bolsonaro. O trabalho anti-PT foi muito forte. E isso não é uma coisa de agora, não. A perseguição ao PT é por causa das coisas boas que o PT fez.”
Lula também afirmou que não vai aceitar que a corrupção no país seja jogada no colo do PT e lembrou que, nos governos do partido, foram aprovados vários mecanismos para combater a corrupção.
“A delação premiada foi coisa do PT. O PT não se arrepende disso, não. Quem roubar tem que ir pra cadeia. O PT não faz compadrio com o erro. O que o PT quer é que as pessoas sejam julgadas justamente. Querem jogar a corrupção em cima do PT, e eu aceito o desafio”, defendeu.
O ex-presidente aproveitou a entrevista para criticar o fato de um juiz ter dito em processo que a ex-primeira-dama Marisa Letícia tinha R$ 256 milhões em investimentos em certificados de depósitos bancários (CDBs). Lula contou que foi ao banco nesta quarta, 15, e constatou que a quantia era, na verdade, de R$ 26 mil. A informação da quantia milionária foi amplamente compartilhada por Carlos e Eduardo Bolsonaro, filhos do presidente, e também pela secretária Nacional de Cultura, Regina Duarte.
“A Regina Duarte e o filho do Bolsonaro dizendo que a dona Marisa tinha R$ 256 milhões em CDBs. Ontem eu fui ao Bradesco e descobri que esses R$ 256 milhões se tornaram R$ 26 mil. Você fica explicando uma mentira dessa a vida inteira. Daqui a pouco, vão fazer exumação da minha mãe para saber se ela tinha algum dinheiro”, criticou.
Imprensa
Lula voltou a criticar a imprensa. Disse que os veículos não se contentam mais apenas em influenciar as decisões políticas, mas agora querem governar. Também atacou a TV Globo por apoiar as políticas econômicas do ministro Paulo Guedes, ao mesmo tempo em que adota tom crítico contra Bolsonaro.
“O Bolsonaro bate mais na Globo do que eu, e ela não faz a mesma coisa [que fez comigo]. Porque a Globo tem 100% de concordância com a política econômica do seu Paulo Guedes. Ela tem concordância com a privatização do Estado. A política da Globo de favorecer os ricos é a mesma do seu Guedes. Ela questiona o Bolsonaro por causa da questão do coronavírus, mas não questiona a redução de salários, a carteira Verde e Amarela”, afirmou.