O acompanhamento das notícias sobre a pandemia do novo coronavírus traz desafios pesados a quem tenta ser otimista. Momentos positivos, como os que mostraram recuo no número de casos em países como Itália e Espanha na semana passada, foram logo sucedidos por aumento nos óbitos.
Nesta terça-feira (7), a China anuncia ter zerado um dia antes o número de mortos, mas ninguém tem como cravar que essa seja uma tendência em um país que em março havia esgotado as transmissões locais antes de elas voltarem a acontecer regularmente.
O infectologista do Hospital Sírio-Libanês, Antônio Carlos Nicodemo, explica que, em relação à covid-19, “existem muitas dúvidas quanto ao ciclo e curva de infecções em cada país. É ainda uma doença sem vacina, com transmissão alta e evolução não uniforme ( formas leves, moderadas e graves)”.
De acordo com os especialistas, o combate ao novo coronavírus terá altos e baixos até que se tenha mais dados comprovados de todos os detalhes da doença, estudados em universidades do mundo inteiro: como é transmitida, quanto tempo o vírus se mantém em superfícies, há ou não reinfecção e, principalmente, como conter o avanço e os males causados pela doença.
Para Nicodemo, “é difícil prever o platô das epidemias, ainda mais quando a população tem contato com vírus “novos”, para os quais todos são potencialmente suscetíveis”.Também, explica ele, existem muitas variáveis envolvidas como idade, fatores regionais, clima , medidas de controle empregadas, se existe tratamento ou não.
O médico epidemiologista José Ueleres Braga, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, diz que, no monitoramento de pandemias, variações do número de eventos (casos e mortes) não necessariamente significam tendências. “Decréscimos devem ocorrer repetidas vezes para significar algo relevante”, diz.
Segundo ele, o pico de contágios de qualquer doença, o chamado platô, é obrigatoriamente atingido após “pequenas” variações em alguns dias.
Mas talvez essa perda de força no caso da atual pandemia também seja questionável em uma doença que traz consigo tantas incógnitas. Quando as pessoas voltarem à rotina normal em todas as atividades, por exemplo, crescerá a chance de aumento de doentes e mortos.
Ueleres Braga diz que a imprevisibilidade da epidemia em cada estado e região do Brasil mostra como é difícil dar palpites sobre a covid-19. “É a primeira vez que essa doença chega ao país. Diferentemente da dengue e outra viroses que surgem como epidemia em determinadas estações, essa veio sem um histórico e sem infecções similares para servir de parâmetro”, observa o médico.