“Vendemos tudo. Está todo mundo em pânico.” O aviso do atendente da CVS, uma das maiores redes farmacêuticas dos EUA, era sobre a cloroquina, medicamento usado para o tratamento de malária e outras doenças e que também tem sido testado contra o coronavírus.
Em uma das farmácias no centro de Washington, a demanda pelo medicamento aumentou expressivamente em um dia, mesmo vendida apenas sob prescrição médica. “A procura era de dez a 15 diariamente mas, entre ontem e hoje, tivemos centenas de pedidos”, completou o funcionário.
A cloroquina – ou sua variante, a hidroxicloroquina – apresentou resultados promissores em dois estudos muito preliminares contra o coronavírus, mas ainda não há provas de sua verdadeira eficácia.
Donald Trump, por sua vez, fez um pronunciamento bastante otimista nesta quinta-feira (19) sobre essa alternativa e causou uma corrida desesperada às principais farmácias da capital americana.
Os funcionários da CVS, com dezenas de unidades em Washington, dizem explicar aos clientes que não é possível confirmar a eficácia do remédio contra o coronavírus, mas os avisos não têm adiantado.
“O medicamente acabou, procure de novo na segunda-feira”, era o mantra do fim da tarde desta sexta (20) em uma das unidades da rede de farmácias.
Durante declaração na Casa Branca, Trump disse que havia pedido à FDA, agência responsável pela liberação de remédios nos EUA, que acelerasse o processo para autorizar o uso da cloroquina contra o coronavírus.
Além da malária, o medicamento é utilizado contra lúpus e artrite reumatoide, e o presidente americano diz que é possível conhecer todos os efeitos colaterais pois seu manejo já é popular há mais de 70 anos.
Stephen Hahn, da FDA, ponderou a animação do presidente. Ao lado de Trump durante o pronunciamento, afirmou que era importante não criar “falsas esperanças” e que o órgão trabalha para “garantir que o mar de novos tratamentos leve o remédio certo ao paciente certo no momento certo.”
Especialistas destacam a necessidade de estabelecer segurança e eficácia de possíveis tratamentos, inclusive sobre efeitos colaterais e dosagens – ministradas em excesso, substâncias podem levar à morte.
Apesar do alerde para a compra da cloroquina, não houve testes clínicos para determinar se esse remédio de fato funciona contra o novo vírus, mas Hahn não explicou por que a FDA decidiu apoiar seu uso, e tampouco explicou se a medida anunciada representava aprovação formal de um novo uso para os medicamentos.
Diante do alvoroço causado pelas declarações de Trump, a FDA emitiu nota reforçou que os estudos para determinar a eficácia do uso da substância contra o coronavírus ainda estão em andamento e que é preciso provas para que o uso seja feito de maneira correta.
“Caso contrário, corremos o risco de tratar pacientes com um produto que pode não funcionar quando eles poderiam ter procurado outros tratamentos mais apropriados.”
Médicos na China e na França disseram que havia indicações de que a cloroquina e sua variante podem ajudar no combate ao coronavírus e muitos hospitais nos EUA já haviam começado a ministrá-las.
Os estudos, porém, foram realizados com um número muito pequeno de pacientes ou in vitro, e ainda precisam de avanços até chegarem a um resultado cientificamente seguro.
Os medicamentos nos EUA custam de US$ 7 (R$ 35) a US$ 20 (R$ 200) e, de acordo com o “Financial Times” somente um laboratório no país fabrica a droga.
A CVS criou um número de telefone para tirar dúvidas sobre o coronavírus e ali atendentes aproveitam para, quando perguntados sobre a substância, explicarem que ela só é vendida sob receita e que, apesar da alta procura, não há provas de que funcione contra coronavírus.
“Hoje ela é utilizada para pacientes de malária, lúpus e outras doenças” e sua escassez pode prejudicar essas pessoas.