Os pesquisadores muitas vezes comparam as diferenças entre gêmeos fraternos e idênticos para compreender melhor a saúde e o comportamento.
A primeira descoberta importante é que os genes e os ambientes quase sempre se combinam para influenciar a nossa trajetória de vida. Às vezes, o maior fator é a genética (distúrbios genéticos do pensamento); às vezes, é o ambiente (contaminação de pensamentos).
Mas, na maioria das vezes, é uma mistura dos dois.
Esses estudos aceleraram a pesquisa de genes e agentes ambientais que causam ou desencadeiam as doenças. Isso nos ajudou a compreender, tratar e até prevenir enfermidades. À medida que as pesquisas com gêmeos foram amadurecendo, elas começaram a abordar questões importantes sobre quando e como se originam as doenças.
Mas o que as pesquisas com gêmeos nos ensinaram sobre doenças específicas e o corpo humano?
1. Fumar aumenta o risco de fraturas ósseas
A maioria dos estudos sobre a relação entre o ambiente e as doenças é dificultada por fatores genéticos. Para eliminar essa questão, podemos trabalhar com gêmeos que sofreram fatores ambientais diferentes.
Um estudo australiano de 1994 comparou 20 pares de mulheres gêmeas nos quais apenas uma de cada par era fumante compulsiva há muito tempo.
Os pesquisadores concluíram que fumar um maço de cigarros por dia por 20 anos resultou em perda suficiente da densidade óssea para causar osteoporose – o que dobrou o risco de ocorrência de fraturas ósseas. Esse estudo forneceu evidências convincentes de que fumar causa osteoporose e aumenta o risco de fraturas ósseas.
2. Eventos próximos à data do nascimento não são causa importante de epilepsia
A epilepsia é um grupo de distúrbios em que a atividade cerebral é anormal e as convulsões são o principal sintoma. Tradicionalmente, o diagnóstico não era possível até que a pessoa tivesse a primeira convulsão, o que pode ocorrer em qualquer etapa da vida, desde os bebês até os mais idosos.
Estudos com gêmeos realizados desde os anos 1960 demonstraram que uma mistura de genes e ambiente causa epilepsia. Mas, até o início da década de 1990, considerava-se que problemas durante o parto fossem uma causa importante de epilepsia.
Obstetras e parteiras muitas vezes eram considerados culpados por causar epilepsia, até que um estudo com gêmeos em 1993 não comprovou a existência de correlação entre problemas menores durante o nascimento e o desenvolvimento posterior de epilepsia.
Esta informação vem ajudando médicos e seus pacientes a melhor compreender as causas da epilepsia, sem necessariamente atribuir a culpa ao processo de dar à luz.
3. Gêmeos idênticos são diferentes além das aparências desde antes do nascimento
Gêmeos geneticamente idênticos quase sempre parecem iguais. Mas, no momento de nascer, eles já possuem diferenças acumuladas na estrutura e no funcionamento dos seus genes.
Essas diferenças são causadas por uma série de eventos aleatórios e experiências individuais no útero.
O local onde um óvulo fertilizado se instala no útero é aleatório, mas alguns locais são mais favoráveis para o crescimento. No caso dos gêmeos idênticos que se dividem antes de atingir o útero, diferentes locais poderão criar ambientes diferentes para o desenvolvimento do bebê.
Como resultado destes e de outros eventos aleatórios, cerca de um em cada seis pares de gêmeos apresenta diferença de peso de mais de 20% ao nascer, o que pode causar maior risco de doenças no nascimento, especialmente para o gêmeo menor.
Essas experiências individuais poderão também ajudar a explicar por que, em alguns pares de gêmeos brasileiros, apenas uma criança nasceu com infecção pelo vírus da zika.
4. A origem da leucemia vem de antes do nascimento
Mudanças da sequência genética de glóbulos sanguíneos podem predispor as pessoas a desenvolver leucemia (câncer do sangue).
Essas mudanças são exclusivas para cada pessoa, mas não se sabia quando essas mudanças acontecem para cada um – até que foram descobertos gêmeos idênticos com leucemia originária da mesma célula.
Os linfócitos (glóbulos brancos do sangue) do sistema imunológico alteram seus genes imunes aleatoriamente, tornando cada pessoa geneticamente única, mesmo gêmeos idênticos.
Os pesquisadores concluíram que a leucemia começou em um dos gêmeos no útero e espalhou-se para o outro através dos vasos sanguíneos na placenta compartilhada por ambos. Mas, embora a etapa inicial da leucemia tenha acontecido antes do parto, a progressão do câncer foi diferente entre os gêmeos e resultou em diagnóstico de leucemia em idades diferentes.
Isso forneceu a primeira evidência de que alguns casos de leucemia podem permanecer latentes por anos e permitiu pesquisas futuras que indicariam quais são os eventos ao longo desse processo.
5. Muitos gêmeos não sabem se são idênticos ou fraternos
Os gêmeos idênticos começam como um óvulo fertilizado que se divide depois de alguns dias. Eles compartilham quase 100% do seu DNA e quase sempre são do mesmo sexo.
Já os gêmeos fraternos resultam de dois óvulos fertilizados praticamente ao mesmo tempo. Eles são geneticamente diferentes, tanto quanto qualquer outro par de irmãos, e podem ou não ser do mesmo sexo.
Em 2012, eu e meus colegas do instituto de pesquisa Twins Research Australia conduzimos um estudo em um festival nacional de gêmeos, com pares que tinham algum tipo de incerteza sobre sua identidade genética.
Para isso, usamos “impressões digitais genéticas” do DNA de amostras da parte interna da bochecha, fornecidas por gêmeos do mesmo sexo de todas as idades. Este teste é a forma definitiva de descobrir se os gêmeos são idênticos ou fraternos.
Comparamos os resultados com as percepções dos próprios gêmeos antes de realizar o teste. E concluímos que quase um terço dos gêmeos que testamos estava errado ou inseguro sobre a sua identidade genética. Alguns haviam até sido informados erroneamente por profissionais médicos.
De forma geral, os gêmeos e suas famílias sentiram-se melhor ao saberem a verdade. Nossos dados nos permitiram desenvolver melhores recursos educativos para que os gêmeos e seus responsáveis saibam mais sobre eles próprios.
*Jeffrey Craig é professor de ciências médicas da Universidade Deakin, na Austrália.
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).