31% da população adulta brasileira está obesa. É o que aponta a Federação Mundial da Obesidade (World Obesity Federation – WOF) nos dados divulgados nesta segunda-feira (3) pelo Atlas Mundial da Obesidade 2025
Ainda segundo o documento, mais de um bilhão de pessoas vivem com obesidade no mundo, e esse número pode ultrapassar 1,5 bilhão até 2030 se medidas urgentes não forem adotadas (veja mais detalhes abaixo). As projeções indicam que 68% dos brasileiros terão sobrepeso – Índice de Massa Corporal (IMC) – em 2025. Até 2030, o número de adultos acima do peso no país poderá chegar a 119 milhões.
Os dados são alarmantes, mas não são surpreendentes, na visão da Cynthia Valério, diretora da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO) e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
“Porque não são surpreendentes? Há muitos fatores contribuintes para isso, como genética, mas também há a epigenética: ou seja, a genética predispõe, mas é modulada por ambientes obsesogênicos, que favorecem o sedentarismo, o consumo excessivo de ultraprocessados, a piora do ciclo do sono e de hábitos de vida saudáveis, que são cada vez menos estimulados”, aponta.
A obesidade não é apenas uma questão individual, mas um reflexo de fatores ambientais, sociais e econômicos. Em 2021, o Brasil registrou 60.913 mortes prematuras associadas a doenças crônicas ligadas ao IMC elevado, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e câncer. Essas condições resultaram em 1,7 milhão de anos de vida prejudicados, impactando significativamente a economia e a saúde pública do país.
Além disso, a obesidade infantil também preocupa, com 12,9% das crianças entre 5 e 9 anos já apresentando excesso de peso. Cynthia ressalta que as crianças e adolescente representam as faixas-etárias mais vulneráveis aos danos da obesidade.
“Isso é duplamente preocupante, já que além de sofrer com a obesidade e com a piora da saúde relacionada ao excesso de peso, as crianças começam a ter doenças crônicas relacionadas à obesidade muito cedo. Antigamente nós só víamos diabetes tipo-2 ou a formação de placas de gordura nos vasos sanguíneos, que predispõe o infarto e o AVC, em faixas-etárias mais elevadas. Hoje, isso acontece cada vez mais cedo”, ressalta.
O que fazer?
A especialista pontua que atitudes simples, como o estímulo de consumo de mais alimentos in natura, como frutas, legumes e verduras, e menos ultraprocessados e embalados, com excesso de sal, açúcar e gordura saturada, além de diminuir o tempo nas telas e aumentar as atividades físicas que gastem energia pode ajudar nessa tarefa.
Diante desse cenário, a campanha global lançada em conjunto com os dados, intitulada “Mudar o Mundo Pela Saúde”, vem como um chamado à ação para transformar os sistemas que perpetuam a obesidade. A iniciativa busca mobilizar governos, empresas e a sociedade para criar ambientes que favoreçam escolhas saudáveis e sustentáveis.
O Atlas também alerta que dois terços dos países estão despreparados para lidar com o aumento da obesidade, com apenas 7% das nações possuindo sistemas de saúde adequados para enfrentar o problema.
“Com 31% da população brasileira com obesidade, não dá mais para falarmos que cada um tem que mudar sozinho. Precisamos transformar os sistemas que contribuem para essa epidemia.”, destaca Bruno Halpern, vice-presidente da Abeso e presidente eleito para a WOF (2026-2027)
A Federação de Obesidade recomenda uma abordagem integrada, incluindo políticas de rotulagem de alimentos, tributação de produtos ultraprocessados e promoção de atividades físicas, especialmente em países de baixa e média renda, onde o problema cresce mais rapidamente.
Cynthia complementa que as escolas precisam ter mais espaços para praticar atividade física, as merendas escolares precisam ser mais saudáveis, e que as cidades tenham “mais caminhabilidade”, ou seja, possuam locais que facilitem o uso de bicicletas ou até mesmo andar à pé, em detrimento do uso de veículos automotores.
“Claro que tudo isso passa pela questão da segurança pública e o bom estado das calçadas e ciclovias”, pontua.
Com a obesidade ligada a 1,6 milhão de mortes prematuras anuais, especialistas reforçam a necessidade de ação imediata. “Os dados apresentados no Atlas Mundial da Obesidade 2025 são um alerta contundente de que precisamos agir agora. A obesidade é um desafio complexo que exige soluções integradas e colaboração global”, ressalta Fabio Trujilho, presidente da Abeso.