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segunda-feira 6 de dezembro de 2021 às 18:27h

NOTÍCIAS, POLÍTICA


A menos de um ano das eleições, a decisão do presidente Jair Bolsonaro de se filiar ao PL e a provável entrada do ex-juiz Sergio Moro na disputa de 2022 levaram o bloco de partidos que defendem a terceira via a tentar promover expurgos de bolsonaristas. 

Essa movimentação é vista na ala do PSL contrária a Bolsonaro e atinge também PSDB, MDB, Cidadania, PSD e Podemos, entre outros partidos menores. 

Apesar disso, cenários regionais podem falar mais alto, já que Bolsonaristas dessas siglas têm resistido a sair por medo de não conseguirem se reeleger. 

A movimentação foi explicitada durante as prévias do PSDB para escolha do candidato do partido à Presidência. Mesmo se declarando oposição a Bolsonaro, a legenda tem acompanhado o governo em votações importantes no Congresso.

Esse comportamento contraditório foi contestado por um dos candidatos tucanos, o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, que defendeu a saída de correligionários que compactuassem com ideais bolsonaristas.

“Meu partido ter uma bancada de bolsonaristas? Mas tem tanto partido para eles se abrigarem. Ele [Bolsonaro] não vai para o PL agora do [Valdemar] Costa Neto? Vai junto”, disse no final de novembro. “Não aqui. Para nós, aqui, não serve. Eu não estou medindo o número de deputados, eu quero qualidade.” 

Virgílio defendeu ainda que o PSDB rompesse “qualquer laço com o bolsonarismo”. “Não tem qualquer circunstância que valha a pena isso.” 

Nas prévias, o ex-senador recebeu somente 1,35% dos votos tucanos –na prática, ele estava alinhado com o vencedor, João Doria (SP), um dos principais opositores a Bolsonaro no campo da centro-direita. 

Apesar de menos incisivo que Virgílio, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, reconheceu que o partido, rachado nas prévias, precisava de uma reconstrução interna. 

“E o importante não é só a construção interna, é imediatamente dialogando com os conjuntos das forças de centro, para que possamos oferecer uma alternativa ao brasileiro de estarmos no segundo turno e vencermos a eleição presidencial para cuidar de emprego, cuidar de renda, e o país parar de discutir e se reunificar para os temas importantes na vida de todos.” 

No partido, a ala identificada como mais próxima ao bolsonarismo é liderada pelo deputado Aécio Neves (MG) –chamado por Virgílio durante as prévias de “maçã podre que estraga as outras”. 

O PSDB virou ainda a casa de detratores de Bolsonaro, como a ex-líder do governo no Congresso Joice Hasselmann (SP) e o deputado Alexandre Frota (SP). Viu também a saída de um ministro do presidente, Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), que se filiou ao PL no mesmo dia que Bolsonaro. 

Em outros partidos, a saída de bolsonaristas também é esperada. 

No PSL (que forma a União Brasil, ao lado do DEM), alguns aliados do presidente, como o deputado Coronel Tadeu (SP), já falam abertamente que devem migrar para o novo partido de Bolsonaro. 

No entanto isso só aconteceria na janela partidária, prazo de 30 dias para que parlamentares troquem de partido sem risco de perder o mandato. Esse período começa em março e se encerra em abril. 

Antes de bater o martelo, o bolsonarista ainda vai avaliar a questão estadual –o próprio PL tem restrições em alguns estados para receber os novos deputados. Isso se dá porque alguns atuais deputados temem perder a reeleição para os novatos que ingressarem na sigla. 

O PSD, que tem como candidato ao Palácio do Planalto o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), deve ver o ministro Fábio Faria (Comunicações) trocar o partido pelo PP, do também ministro Ciro Nogueira (Casa Civil). 

Outros aliados de Bolsonaro devem fazer o mesmo, como o deputado Éder Mauro (PA). “Vou me filiar ao PL, mas só posso fazer isso na janela [de troca partidária], em março”. 

O parlamentar ainda não definiu seus planos eleitorais para 2022, pois, afirma, o presidente gostaria que ele saísse para governador do Pará. Se isso não for viável, tentará a reeleição. 

Segundo Éder Mauro, a conversa com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, foi “supertranquila” e as portas do partido continuariam abertas para ele. 

O Podemos, do recém-filiado Sergio Moro, viu as conversas sobre chapas regionais serem abaladas pela entrada do ex-juiz no cenário. 

Alguns parlamentares do Nordeste já estavam costurando apoio ao PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto outros do Sul conversavam sobre aliança com o grupo de Bolsonaro. 

Na avaliação do deputado José Medeiros (MT), a filiação do Bolsonaro ao PL marca oficialmente o início do período eleitoral e a definição de parlamentares que ainda não sabiam para onde ir. 

“No meu caso, eu gostaria de ficar no Podemos. Mas eu tenho quase certeza que o partido vai mandar eu passear”, disse. 

“Eu creio que o Podemos vai acabar mandando eu sair por causa da candidatura a presidente do Moro, e eu sou candidato ao Senado em Mato Grosso. Também não tem como eu ir para o PL, porque o PL tem um candidato ao Senado lá”, afirmou. 

No estado, o partido de Valdemar Costa Neto tem como possível candidato à reeleição o senador Wellington Fagundes. Sem a opção de migrar para o PL, ele cogita ir para o Republicanos ou o PTB, ambos base do governo. 

Em outros partidos, essa pressão para saída de bolsonaristas não é tão perceptível. No MDB, que deve lançar a senadora Simone Tebet (MS) como pré-candidata à Presidência na próxima quarta-feira (8), alguns quadros alinhados ao presidente fazem planos de continuar na legenda. 

É o caso do ex-ministro do Desenvolvimento Social Osmar Terra (RS). “Pretendo continuar no MDB, continuo apoiando o presidente. O MDB sempre deixou a gente à vontade”, afirmou. “Sou Bolsonaro, admiro muito o presidente.” 

Na linha contrária, antibolsonaristas, como o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (AM), discutem saída do centrão. Mesmo ligado a um partido do centrão, Ramos é uma das principais vozes críticas ao presidente dentro da Câmara. 

No dia da filiação, ele escreveu, em uma rede social, que não estaria no palanque de Bolsonaro, mas que respeitava o partido. 

“Há um desejo da bancada e até do presidente Valdemar de que eu fique no partido, mas todos reconhecem a dificuldade por conta da minha contraposição ao presidente e dos conflitos no Amazonas”, afirmou, à reportagem. 

PEÇAS PARA A CORRIDA PRESIDENCIAL DE 2022 

O que já aconteceu 

– Definição das principais candidaturas, com volta de Lula, desistência de Luciano Huck e entrada de Sergio Moro, por exemplo 

– Prévias do PSDB concluídas, lançando ao escrutínio João Doria (SP) e clareando o cenário de composições partidárias 

– Filiação de Bolsonaro ao PL, selando o casamento com o centrão e dando início à formação da coalizão que deve apoiá-lo 

O que vem aí 

– Concorrência interna na chamada terceira via em busca de nomes com maior potencial e chance de aglutinar a centro-direita 

– Definições partidárias, com a oficialização da criação da União Brasil (fruto da junção de PSL e DEM) e possíveis federações 

– Ações de Bolsonaro para se garantir no segundo turno, com pagamento do Auxílio Brasil e acirramento da polarização com Lula 

POSSÍVEIS CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA EM 2022 

Jair Bolsonaro (PL) 

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) 

Sergio Moro (Podemos) 

Ciro Gomes (PDT) João Doria (PSDB) 

Rodrigo Pacheco (PSD) 

Simone Tebet (MDB) 

Luiz Henrique Mandetta (DEM/União Brasil) 

Luiz Felipe d’Avila (Novo) 

Alessandro Vieira (Cidadania) 

André Janones (Avante) 

Cabo Daciolo (Brasil 35) 

Leonardo Péricles (UP) 

Aldo Rebelo (sem partido) 

DATAS IMPORTANTES DO CALENDÁRIO ELEITORAL 

2 de abril – Prazo final para a filiação partidária e mudança de domicílio eleitoral 

Abril – Mês da janela partidária, em que parlamentares podem mudar de legenda sem perda de mandato 

20 de julho a 5 de agosto – Prazo para a realização das convenções partidárias 

15 de agosto – Prazo final para o registro de candidatos na Justiça Eleitoral 

16 de agosto – Data em que passa a ser permitido fazer campanha, com pedido de voto 

2 de outubro – Primeiro turno da eleição 

30 de outubro – Segundo turno da eleição

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