O próximos 12 meses trarão o maior desafio da inteligência artificial desde que a tecnologia começou a dar seus primeiros passos, 70 anos atrás. É o que destaca a lista das 10 tendências tecnológicas do Valor, que chega à sua 15ª edição em 2024.
Nos últimos meses, com a rápida evolução da IA generativa, que é capaz de criar textos, imagens e vídeos instantaneamente, a tecnologia chegou às mãos das pessoas comuns – com o uso de chatbots como ChatGPT, Bard e Midjourney – e ganhou relevância nas empresas, com potencial para iniciar uma nova fase na revolução digital. No entanto, a ferramenta está também sob forte escrutínio e no centro de um grande debate, inclusive sobre a sua regulamentação.
Segundo João Luiz Rosa e Daniela Braun, do jornal Valor, em uma lista descreve dez áreas de atividade em que a aplicação da IA deve trazer novidades: agronegócios, ambiente, educação, entretenimento, indústria, medicina, produtos de consumo, serviços financeiros, setor público e varejo (veja arte abaixo).
As possibilidades vão desde sistemas que ajudam a detectar câncer até plataformas de educação que acompanham a vida escolar do aluno, de coleções de moda desenhadas sob critérios sugeridos pela análise de bancos de dados até sistemas que detectam e previnem riscos de fraude bancária.
Muitas dessas tecnologias ainda estão em fase de teste, mas podem modificar modelos de negócio há muito estabelecidos, com promessas de eficiência e lucro à medida que mais fluxos de trabalho forem automatizados.
A consultoria McKinsey calcula que a inteligência artificial poderá gerar de US$ 2,6 trilhões a US$ 4,4 trilhões anualmente nos próximos anos. São entre US$ 400 bilhões e US$ 660 bilhões só no varejo e algo entre US$ 200 bilhões e US$ 340 bilhões no setor bancário. A produtividade no trabalho aumentará de 0,1% a 0,6% ao ano até 2040.
Atentas às oportunidades, as empresas vêm aderindo às novas tecnologias com graus diferentes de entusiasmo, dependendo do setor e do tamanho do orçamento destinado à inovação, entre outras variáveis. Pesquisa da consultoria Gartner mostra que 55% das companhias ao redor do mundo já começaram a testar ou colocaram em produção algum sistema de IA.
Para que a inteligência artificial comprove seu potencial, no entanto, será preciso superar uma série de desafios que a adoção da tecnologia impõe, o que envolve responsabilidade de toda a sociedade.
Um dos pontos mais críticos é o emprego. O banco Goldman Sachs estima que, com a automação impulsionada pela IA, cerca de 300 milhões de vagas serão fechadas nos próximos anos.
Para os trabalhadores, adquirir novas habilidades será essencial, o que vai demandar um esforço em massa de governos e empresas para treinar as pessoas e reorientá-las, já que muitas profissões parecem condenadas à extinção. E isso não vale apenas para empregos menos qualificados, como ocorreu em fases anteriores de automação intensa. A previsão é que a onda também vá atingir profissionais liberais como consultores, advogados e escritores.
Os direitos autorais são outro ponto sensível. Os limites do uso da IA generativa foi um dos itens da pauta da greve dos roteiristas de Hollywood, que paralisou serviços de streaming e estúdios de cinema americanos durante quase quatro meses no ano passado. Grupos de mídia também vêm se mobilizando para proteger seu conteúdo do uso não autorizado para treinar chatbots de IA, como mostra o processo judicial que “ The New York Times ” move contra a Microsoft e a OpenAI, dona do ChatGPT.
Também há risco de que a IA leve a desinformação a novos patamares. As “deep fakes” – vídeos e gravações de voz falsas e cada vez mais convincentes – parecem uma ameaça crescente. Em que medida esse artifício será capaz de desestabilizar o processo democrático é o que se verá ao longo das eleições, principalmente a presidencial americana.
Os próximos meses podem ser decisivos para a regulamentação do setor, que está em estudo em vários países, inclusive no Brasil. O tema desperta forte debate, dado os inúmeros riscos que envolvem a IA já apontados por muitos especialistas. Passado o estrondo inicial, a IA tem pela frente um caminho tão promissor quanto acidentado.