Sergio Moro já era uma celebridade muito antes de aceitar o convite para ser ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro (PSL). Marcos Pontes, então, conhecera a fama na metade da década passada, quando foi o primeiro brasileiro a se tornar astronauta.
Outros nomes que formam o atual governo foram entrando no cotidiano dos brasileiros aos poucos e hoje são figuras constantes no noticiário, como Paulo Guedes (Economia), Damares Alves (Mulher e Direitos Humanos), Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Abraham Weintraub (Educação).
A gestão Bolsonaro tem, entretanto, uma série de personagens que estão mais distantes dos holofotes e que também são responsáveis por parte das conquistas – e das controvérsias – do governo. Reforma da Previdência, controvérsias com minorias, combate à criminalidade, política externa e as queimadas na Amazônia estão entre os assuntos que envolvem diretamente alguns dos nomes responsáveis por fazer girar a roda do Palácio do Planalto e da Esplanada dos Ministérios.
O jornal Gazeta do Povo publicou 10 destes nomes, distribuídos por diferentes ministérios.
Rogério Marinho e Bruno Bianco, os artífices da reforma da Previdência
O principal projeto econômico do Brasil em 2019 é apontado como uma vitória do presidente Bolsonaro, o resultado de uma cruzada liderada por Paulo Guedes e também o fruto de articulações conduzidas no Legislativo pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O avanço da reforma, entretanto, dificilmente seria conseguido sem a atuação do secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, e de seu adjunto, Bruno Bianco.
Marinho e Bianco não só colaboraram para a redação do projeto de reforma encaminhada para o Congresso como também estiveram entre as principais figuras públicas em defesa da alteração do sistema do pagamento de pensões e aposentadorias.
Marinho utilizou sua experiência de ex-deputado federal para negociar a reforma no parlamento, enquanto Bianco foi à imprensa em inúmeras ocasiões para falar sobre o projeto. Por sua voz fina, acabou apelidado de “Mickey da Previdência”, em referência ao personagem de Walt Disney. Usou o apelido como gancho para popularizar as ideias do Ministério da Economia.
Décio Brasil, o general recordista
O Brasil fez em 2019 a melhor campanha de sua história nos Jogos Pan-Americanos. O quanto disso é resultado direto do governo federal, mais especificamente da gestão Bolsonaro, é difícil de saber; mas o general Décio Brasil, secretário especial de Esporte do Ministério da Cidadania, tratou de capitalizar o bom desempenho. A pasta enfatizou o fato de que a maior parte dos medalhistas é beneficiária do Bolsa Atleta, programa governamental que foi reforçado pela gestão Bolsonaro após restrições na era Temer. Brasil assumiu a Secretaria em abril, no lugar do também general Marco Aurélio Vieira. A troca foi lamentada por atletas – Vieira era tido como um nome técnico e com bom trânsito no setor. Mas o trabalho de Brasil tem feito com que as desconfianças não evoluíssem.
Mansueto Almeida, o homem que batiza um plano
As décadas de 1980 e 1990 viram a implantação de uma série de planos econômicos que receberam os nomes de seus idealizadores, como Plano Collor, Plano Bresser e Plano Marcílio. O governo Bolsonaro poderá ter a consolidação do Plano Mansueto, em referência ao secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida. O plano atual não é similar aos dos governos anteriores: o foco aqui é o de combater o endividamento dos estados, enquanto nas gestões do século passado a busca era pela recuperação da economia como um todo. Mas a concessão do nome é um indicativo da importância de Mansueto para o governo Bolsonaro. O economista, funcionário de carreira do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), tinha uma trajetória de crítica aos governos petistas e chegou à Esplanada na administração de Michel Temer. Agora comanda o Tesouro e mostra conexão com as políticas empreendidas por Paulo Guedes.
Silvia Waiãpi, a indígena contestada pelos indígenas
A chefe da Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde, Silvia Waiãpi, foi um dos principais alvos de um protesto feito por mulheres indígenas em Brasília no dia 13 de agosto. As manifestantes exigiam sua demissão do cargo, por entenderem que a qualidade do atendimento caiu durante sua gestão. Chama a atenção o fato de que Waiãpi é indígena, assim como as mulheres que pediram seu afastamento.
E com uma história de vida recheada de episódios surpreendentes: nascida em uma aldeia no extremo norte do país, virou mãe aos 13 anos de idade, tornou-se moradora de rua, descobriu talento para a poesia, depois para o esporte, foi a primeira mulher indígena da história do Exército brasileiro e integrou a equipe de transição do governo Bolsonaro.
Comanda a Sesai desde abril. No cargo, além de tomar medidas que contrariam lideranças indígenas, tem defendido o governo Bolsonaro no Congresso e feito outros episódios controversos – como a visita-surpresa em uma unidade de saúde no interior do Acre, em que constatou o mau estado das instalações.
Arthur Weintraub, o assessor que agita as redes
Arthur Weintraub é assessor especial da Presidência da República e nos últimos dias cumpriu uma vasta agenda de compromissos oficiais – como integrar a comitiva brasileira que foi aos EUA se encontrar com o presidente Donald Trump. Em Brasília, esteve também à frente do lançamento da ID Estudantil, projeto encabeçado pelo Ministério da Educação, tocado pelo seu irmão Abraham. Mas se formalmente não está no primeiro escalão de Bolsonaro e também não apareça em entrevistas, Weintraub se consolidou como um verdadeiro soldado do governo nas redes sociais. Reúne mais de 91 mil seguidores no Twitter e costuma abordar temas que vão muito além de sua atuação no governo – a pauta de costumes está entre seus tópicos preferidos.
Filipe G. Martins, o ideólogo internacional
A política internacional do governo Bolsonaro é possivelmente um dos pontos em que a gestão atual mais mostra ruptura com suas antecessoras. A atuação de Filipe G. Martins é essencial para essa transição. Assessor da presidência para assuntos internacionais, Martins é discípulo do filósofo Olavo de Carvalho e tem conexão grande com o chanceler Ernesto Araújo e também com o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente e indicado informalmente para ser o próximo embaixador brasileiro nos Estados Unidos. Martins também mostra sintonia com expoentes da direita no exterior, como o presidente Donald Trump e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Assim como Arthur Weintraub, Martins é figura de destaque nas redes sociais – mas com um tom mais discreto e de cunho intelectual.
Luiz Beggiora, o inimigo das finanças dos traficantes
Em junho, o presidente Bolsonaro e o ministro Moro anunciaram a edição de uma medida provisória sobre o leilão de bens apreendidos de traficantes. A proposta visava garantir agilidade no processo e na reversão dos valores para o combate ao tráfico. O titular da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), Luiz Beggiora, é um dos nomes por trás do processo. Ele assumiu o comando do cargo em janeiro e desde a posse expôs que uma de suas metas é aprimorar a gestão dos ativos apreendidos. Os resultados têm aparecido: entre janeiro e o início de agosto, R$ 19,5 milhões foram arrecadados com leilões dos bens antes pertencentes aos traficantes. A edição da MP de junho foi chamada por Bolsonaro de “gol de bicicleta do meio-campo” de Sérgio Moro. A assistência para o gol possivelmente veio de Beggiora.
Júlio Semeghini, os pés no chão do astronauta
Marcos Pontes foi apresentado por Bolsonaro ainda durante o período eleitoral como um nome, por conta de seu currículo, adequado para conduzir o Ministério da Ciência e Tecnologia. Foi empossado no cargo em janeiro e desde então tem tido atuação discreta – não coleciona realizações de expressão e até mesmo se envolveu em uma contradição com o presidente, ao dizer que a privatização dos Correios não estava em seu radar. Em meio à falta de habilidade de Pontes para o jogo político de Brasília, seu secretário-executivo, Júlio Semeghini, acaba se mostrando como figura de destaque na pasta. O secretário é filiado ao PSDB, foi deputado federal por quatro mandatos e exerceu cargos no governo paulista, com Geraldo Alckmin, e na prefeitura de São Paulo durante o mandato de João Doria. No ministério, assumiu a chefia da pasta interinamente durante licença de Marcos Pontes em junho.
General Pujol, a estabilidade militar
No auge das tensões entre Brasil e França por conta das queimadas na Amazônia, uma declaração do comandante do Exército, o general Edson Pujol, serviu para apaziguar os ânimos: ele falou que não havia motivo para que o Brasil se sentisse ameaçado pelo presidente francês, Emmanuel Macron. O mandatário europeu havia condenado o fogo na floresta brasileira e suas falas foram interpretadas como uma possível declaração de guerra ao Brasil. Pujol não só rechaçou a ameaça como fez elogios à França – disse que o país tinha “tradição de liberdade e de democracia”. O posicionamento de Pujol neste caso foi mais um exemplo de sua atuação no comando do Exército, marcada pela discrição.
Luiz Eduardo Ramos, que chegou sentando na janelinha
A relação é fechada com o ministro que há menos tempo integra a gestão Bolsonaro: Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo. Ele faz parte da equipe palaciana desde o início de julho. Assumiu no lugar do general Santos Cruz, que deixou o posto após divergências com o filósofo Olavo de Carvalho e o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente. Ramos, em pouco tempo de governo, se torno`u um dos ministros mais prestigiados de Bolsonaro: levantamento do site Poder 360 revelou que ele foi quem mais se reuniu com o presidente da República entre julho e agosto. Sua atuação tem sido celebrada pelo Congresso. O deputado Diego Garcia (Podemos-PR) afirma que o diálogo entre Legislativo e Palácio do Planalto se transformou desde a chegada de Ramos ao Ministério.