O projeto da ferrovia que pretende ligar as cidades de Salvador e Feira de Santana, prometido há anos e até então sem sair do papel, ganhou um novo capítulo que pode, finalmente, colocá-lo nos trilhos. A Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Sedur) confirmou que o estudo anteriormente encomendado pelo governo estadual à concessionária CCR Metrô Bahia foi descontinuado, abrindo caminho para uma nova proposta em análise pelo Governo Federal.
Segundo a Sedur, a interrupção do estudo estadual se deu para evitar sobreposição de esforços, já que a União assumiu a condução de um novo estudo técnico voltado à implantação do trem entre as duas maiores cidades do estado. A decisão visa garantir melhor coordenação entre os governos estadual e federal, além de centralizar os esforços no plano nacional de mobilidade ferroviária.
Empresa privada manifesta interesse em operar ferrovia
O avanço mais significativo veio com o interesse formal da empresa TIC Bahia Ltda., que enviou à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) um pedido de outorga de autorização ferroviária para operar uma ferrovia mista — de cargas e passageiros — ligando Salvador a Feira de Santana. O requerimento foi publicado no Diário Oficial da União na semana passada.
De acordo com a ANTT, o projeto prevê um trajeto de aproximadamente 98 quilômetros entre as duas cidades, com foco em transporte regional e interesse comercial. A proposta ainda está sendo avaliada pela área técnica da agência reguladora, que deverá analisar a viabilidade econômica, técnica e ambiental da iniciativa.
O projeto original da CCR e a mudança de rota
A ideia de uma ferrovia regional foi apresentada pela primeira vez em junho de 2023, quando a então secretária da Sedur, Jusmari Oliveira (PSD), revelou ao Portal A Tarde que o governo estadual havia recebido uma Manifestação de Interesse Público (MIP) da CCR Metrô Bahia. Na proposta da concessionária, o projeto atenderia cerca de 4 milhões de pessoas, incluindo moradores de Salvador, Feira de Santana, Simões Filho, Candeias e Santo Amaro.
O modelo sugerido pela CCR previa uma parceria público-privada (PPP), com investimento estimado em R$ 2,6 bilhões e custo operacional anual de R$ 280 milhões. A concessão teria prazo de 30 anos, e o trajeto de 103 km entre Salvador e Feira seria percorrido em cerca de 45 minutos, com início nas proximidades de Águas Claras, onde termina a atual linha do metrô da capital.
Com o novo rumo tomado pelo projeto, a proposta da CCR foi engavetada para dar espaço à avaliação federal e à eventual entrada da TIC Bahia no empreendimento. A expectativa, segundo fontes ligadas ao setor, é que a união de interesses públicos e privados destrave uma demanda histórica da população baiana por mais mobilidade, especialmente em uma região com tráfego intenso e crescimento urbano acelerado.
Desafios e próximos passos
Apesar do otimismo, o projeto ainda enfrenta etapas decisivas de análise técnica, ambiental e de viabilidade econômica, além da necessidade de articulação política para garantir recursos e consenso entre os entes envolvidos. Caso aprovada, a proposta poderá ser levada a leilão ou viabilizada diretamente com a autorização federal, dentro das novas regras do marco legal das ferrovias.
Para os moradores e trabalhadores que diariamente se deslocam entre Salvador e Feira, a implantação da ferrovia representaria redução no tempo de viagem, menos congestionamentos e impacto positivo na economia regional.