A cena política em Brasília ganha novos contornos com a formalização da federação entre o Solidariedade e o PRD, marcada para esta terça-feira (25), no Salão Verde da Câmara dos Deputados. O movimento representa uma guinada significativa no posicionamento dessas legendas, que, ao mesmo tempo em que reduzem a fragmentação partidária na Câmara, selam um distanciamento político do presidente Lula da Silva (PT) e sugerem apoio à pré-candidatura presidencial do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), em 2026.
Com dez deputados federais — cinco de cada partido —, a nova federação será liderada por Ovasco Resende, ex-presidente do Patriota, e por Paulinho da Força, dirigente do Solidariedade. O gesto tem peso simbólico e prático: além de ajudar ambas as siglas a alcançarem a cláusula de barreira nas eleições de 2026, também marca a adesão formal de parte do centro político a uma oposição moderada ao governo Lula.
“Essa insatisfação crescente com o governo contribuiu para nos unir”, declarou Marcos Vinícius Neskau, tesoureiro do PRD e ex-deputado estadual pelo Rio de Janeiro. Ele reafirmou que o perfil da nova federação será oposicionista, consolidando um bloco mais distante do Planalto, apesar de o Solidariedade ainda ocupar cargos no governo federal.
Nos bastidores, o apoio a Ronaldo Caiado já vinha sendo costurado. Paulinho da Força, por exemplo, esteve presente em abril no lançamento simbólico da pré-campanha de Caiado na Bahia, reforçando a ideia de que o governador de Goiás pode ser o nome de consenso entre partidos que desejam se afastar tanto do PT quanto do bolsonarismo. “Já havíamos oferecido a legenda para o Caiado. Ele representa um caminho mais ao centro, sem radicalismos”, afirmou Paulinho.
O PRD, por sua vez, nasceu em 2023 da fusão entre o PTB e o Patriota, legendas historicamente alinhadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Agora, ao lado do Solidariedade, passa a buscar uma nova identidade no espectro da direita moderada, apostando em um discurso de oposição sem vínculo direto com o bolsonarismo.
Menos partidos, mais federações
A federação PRD-Solidariedade diminuirá o número de bancadas independentes na Câmara dos Deputados para 14, o menor patamar desde 1986. A movimentação é vista como um reflexo das novas regras eleitorais, que pressionam partidos a se unirem para alcançar desempenho mínimo e tempo de televisão, além de recursos do Fundo Partidário.
O avanço das federações tem remodelado o mapa político da Câmara. Neste ano, União Brasil e PP também anunciaram intenção de formar uma federação, o que, se aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), resultará na maior bancada da Casa, com 110 deputados.
Conversas semelhantes envolvem MDB e Republicanos — ambos com 44 deputados —, embora lideranças dessas siglas ainda relutem em fechar o acordo. Atualmente, existem três federações formalmente reconhecidas: PT-PCdoB-PV, PSOL-Rede e PSDB-Cidadania, todas com validade até maio de 2026.
Com o novo arranjo, o governo Lula poderá enfrentar mais obstáculos na articulação política dentro do Congresso. A federação PRD-Solidariedade, ao se declarar independente e inclinada à oposição, amplia o desafio para o Planalto formar maiorias em votações decisivas. Ao mesmo tempo, começa a se desenhar com mais clareza um bloco de centro-direita que pode apoiar uma candidatura alternativa ao lulismo e ao bolsonarismo nas eleições presidenciais de 2026.