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quarta-feira 30 de junho de 2021 às 05:02h

Só abandono Bolsonaro se souber que ele roubou, diz deputada Carla Zambelli

DESTAQUE, NOTÍCIAS


A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), 40 anos, em sessão da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, que preside, foi chamada de “Zambella” por um equívoco do colega Coronel Chrisóstomo (PSL-RO), o que arrancou risadas de todos.

“Obrigada pelo Zambella, bem melhor do que os outros apelidos que eu estou tendo ultimamente, viu?”, devolveu a deputada, acompanhada, nesta terça-feira (29), de sua cadela Pituca no plenário.

Capacho, insegura, puxa-saco, engraxa botas e vassala foram termos usados para descrever um comportamento de submissão ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de uma parlamentar que retira a máscara para imitá-lo, forma sua tropa de choque na CPI da Covid e apaga tuítes sobre o caso Covaxin.

“A única forma de eu abandonar o presidente Bolsonaro é se eu souber que ele roubou”, diz em entrevista à Folha de S. Paulo. “Por mais que eventualmente esse presidente cometa erros, as pessoas estão vendo que esse presidente tem boa intenção.”

Zambelli diz ainda que o líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR), deve ser investigado pela contrato da Covaxin e que o governo fará “todo o possível para investigar quem quer que seja”.

Em busca de reforçar seu bolsonarismo, a outrora organizadora da fila do banheiro nas manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) é agora papagaio de pirata nas entrevistas do presidente —do qual diz discordar em certos pontos, mas não revela quais.

Foi em uma dessas ocasiões, no interior de São Paulo, que testemunhou Bolsonaro mandar uma repórter calar a boca, no último dia 21. A deputada diz que o ataque não tem a mesma dimensão do machismo sofrido por ela.

Na semana passada, o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), resgatou uma insinuação de que a deputada teria sido prostituta na Espanha. Seu currículo no LinkedIn, porém, tem depoimentos de colegas da consultoria onde trabalhou no país.

Por que a sra. levou sua cadela, Pituca, à sessão? Estou em obra aqui em casa, o cano do vizinho de cima estourou. Ela está no cio, e ia ficar entrando e saindo gente, fiquei com medo de ela acabar saindo e ter uma reprodução indesejada [risos]. Tenho um cachorro e um gato vira-latas em São Paulo. Em Brasília, tenho a chihuahua, que eu ganhei de aniversário.

O ex-ministro Ricardo Salles teve uma gestão marcada pelo desmonte ambiental e por ser alvo de investigação. O que pretende fazer para que a nova gestão, de Joaquim Leite, não tenha a mesma marca? Não concordo que houve desmonte, houve uma reação a nomeação do Salles em relação aos servidores públicos do Ibama e do ICMBio, que simplesmente cruzaram os braços, inclusive com carta, dizendo que se negavam a trabalhar. A gente teve Salles indo atrás de valores do Acordo de Paris que nunca ninguém foi atrás. Acompanhei reuniões em que embaixadores começaram a concordar com a teoria do Salles de que o Brasil é o país que mais preserva no mundo e que até hoje não recebemos nada por isso. Aprovamos na comissão um convite para que o novo ministro fale sobre suas ações.

O que sente diante dos xingamentos nos últimos dias? Sinto tristeza. Quando me chamam de vassala, de capacho, de lambe-botas e outros apelidos que só dizem respeito a mim, eu não me incomodo. Começou lá atrás com [João] Doria [PSDB] mandando eu engraxar a bota dos militares, e isso vem não só se repetindo, mas aumentando o nível do ataque, conforme eu vou crescendo em pesquisas, em alcance nas redes sociais. É natural que isso seja uma resposta das pessoas. Não pretendo mudar meu jeito de ser.

O que mais me incomodou foi o cinismo do Omar Aziz. Eu respondi daquela maneira [o chamou de inútil, imbecil e com bunda gorda], que eu acabo não pedindo desculpas, mas digo que muitos não me viram daquela forma e muitos não me verão novamente falando num termo mais chulo.

Ele colocou aquela música tentando me ofender e não conseguiu. Primeiro, porque eu não fui prostituta e, segundo, porque se eu fosse não seria uma ofensa. Não foi uma ofensa às prostitutas do Brasil?

Eu tenho zero de problema de as pessoas acharem que talvez eu tivesse sido prostituta na Espanha, porque as pessoas olham pra mim e sabem que não cola. Mas se coloque no lugar do meu marido e do meu filho, por exemplo. As pessoas esquecem que políticos têm marido, têm filho.

A sra. foi vítima de um modus operandi que o bolsonarismo explora bastante, de ataque às pessoas. É provar do próprio veneno? Mas eu, Carla Zambelli, já fiz isso com alguém?

Concorda com esse tipo de ação? Não concordo. Existem coisas dentro do conservadorismo com que eu concordo e existem coisas e atos dentro do bolsonarismo com que eu não concordo. Eu critico no privado e elogio no público. Por mais que você me pergunte com que ou quem eu não concordo, você não vai conseguir arrancar isso de mim. Agora, as pessoas têm que me tratar pelo que eu fiz com elas. Você não vai encontrar uma vez em que eu tenha ofendido a família de um parlamentar.

A sra. diz não concordar com tudo, mas a imagem de retirar a máscara depois do presidente denota um total alinhamento. A sra. faz isso por convicção ou pensando na eleição do ano que vem? Não penso em eleição, porque algumas pesquisas já dizem que, como deputada federal, eu estaria reeleita se a eleição fosse hoje. Tirei a máscara para mostrar que o presidente não está sozinho em diversos pensamentos dele, mas que eventualmente posso discordar de um ou outro termo que ele use no discurso dele.

Nessa entrevista, ele mandou uma repórter calar a boca. No mundo ideal, nenhum desses ataques machistas existiria? São completamente desproporcionais [a fala de Aziz contra Zambelli e a fala de Bolsonaro contra a repórter], mas em um mundo ideal nenhum dos dois aconteceria.

A sra. questiona a falta de defesa das feministas, mas tem projetos contrários ao feminismo, como o que dificulta aborto por exigir exame em caso de estupro. A pergunta não seria o que a sra. faz pelo feminismo para que as feministas a defendam? Teve uma feminista que me defendeu, a Socialista Morena, e ela foi muito atacada pelas feministas. Delegadas de delegacia de mulheres me pediram para apresentar esse projeto porque muitas mulheres fazem o aborto, resolvem o próprio problema e não se preocupam que outras mulheres sejam estupradas pelos mesmos homens. O crime fica impune [sem que o sêmen seja recolhido]. A intenção não é atrapalhar as feministas, é ajudar para que haja menos estupradores à solta.

Acha que tem uma agenda feminista e deveria receber apoio? Não, tenho uma agenda feminina, de equidade. Eu não sou feminista, nunca fui e nunca serei.

Então por que faz questão que o movimento feminista a defenda? Por que o movimento não diz defender todas as mulheres? Eu achei que eu fosse mulher [risos]. Quando eu sofro um ataque brutal como esse, eu questiono que elas têm uma agenda própria de defender as feministas e não as mulheres.

Bolsonaro vive um momento de baixa na popularidade e perde nas pesquisas para 2022. Do ponto de vista de sobrevivência política, o correto não seria se afastar? Não acredito nessas pesquisas que falam que ele vai perder e que, principalmente, Lula [PT] esteja ganhando. O fato de ele mudar ou não até o ano que vem, acho que tem coisas que precisam ser ajustadas em qualquer governo. Numa pandemia dessa magnitude, onde todas as pessoas já perderam algum ente querido, você querer que um presidente da República tenha uma superpopularidade é algo complicado. Mesmo assim, aonde quer que ele vá, é bem recebido por uma boa parte da população. Essa boa parte da população vai reeleger Bolsonaro? Não sabemos.

Acha que ele deveria escolher algum partido específico, como o Patriota, e irá acompanhá-lo? Não tenho opinião sobre o partido, porque não tenho acompanhado as discussões. Se eu for bem-vinda até lá, estarei com ele.

A sra. vem de uma militância lava-jatista, contra a corrupção. O que acha da postura do governo no caso Covaxin? Tenho informações internas de que o Planalto estava se mexendo após as informações do [deputado] Luis Miranda. Quem, dentro do Planalto, não vou abrir. A única forma de eu abandonar o presidente Bolsonaro é se eu souber que ele roubou ou algo nesse sentido de tentar roubar. Eu sei que erros existem. Às vezes a gente erra querendo acertar.

Se a prevaricação for comprovada, a sra. não acha tão grave? Depende, eu vou precisar de mais elementos. Não posso dizer uma coisa agora que pode ser mal interpretada mais pra frente. O que eu digo é: esse governo, até onde eu sei, vai fazer todo o possível para investigar quem quer que seja que tenha errado ou deixado errar. Desde [o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique] Mandetta até [o atual ministro, Marcelo] Queiroga.

Se há essa disposição em investigar, por que o ministro Onyx Lorenzoni (DEM) partiu para cima dos irmãos Miranda? Onyx se precipitou nas respostas que deu. Acho que todas as pessoas têm que ser investigadas, não só os dois que avisaram, mas todas as pessoas envolvidas. Essa é minha defesa de agora até o fim.

Bolsonaro rechaçava o centrão, dizia que não faria troca de cargos e agora tem um escândalo relacionado ao líder do governo, do centrão. Como avalia? É natural. Ricardo Barros tem que ser investigado, assim como todos os outros.

A sra. apagou tuítes sobre isso por achar que tinha algo de errado? Eu apaguei porque eu falo em compra, e a informação que eu tive é de que a Covaxin não foi comprada.

O crime de corrupção pode acontecer sem que haja o pagamento. Existem alguns tipos de crime de corrupção que podem eventualmente ter sido concluídos sem o pagamento efetivo, mas neste caso não, um contrato, uma reserva de mercado não configura crime de corrupção.

No ano passado, a sra. disse que, na pandemia, Bolsonaro buscava um equilíbrio, que ele tinha problema de comunicação, não de irresponsabilidade. Agora, se vê que é uma ideologia. O discurso negacionista, de cloroquina, aglomeração, é um erro político? Não é só cloroquina, são 17 remédios que estão no kit de tratamento precoce. Pessoas dizem que falar sobre tratamento precoce é negacionista, mas qual tratamento resolve?

A vacina. Não existe tratamento comprovado para Covid, a sra. sabe disso. Comprovado, não. Não existe nem vacina comprovada. No Chile, a população vacinada continua pegando o coronavírus.

A vacina não impede de pegar, o objetivo é que a pessoa tenha a doença amenizada. Você acabou se contradizer, você disse que o tratamento era a vacina.

A vacina é a melhor opção que a gente tem. Minha pergunta é se Bolsonaro errou ao adotar esse discurso negacionista. Não vou responder, porque sua pergunta está errada.

Acha que ele está certo no que ele fala em relação a máscara, vacina, tratamento precoce? Tratamento precoce acho que está correto. Vacina acho que ele tem feito tudo, nos atos dele, para poder colocar à disposição a vacina para as pessoas. Então, o que importa não é o que ele fala, mas o que ele faz. Em relação ao tratamento precoce, sua pergunta está carregada de preconceito. Eu conheço sete pessoas que morreram depois da segunda dose da vacina.

Mais um motivo para usar máscara, não acha? Se máscara funcionasse, as pessoas não estavam morrendo.

Não estaria morrendo muito mais se não fosse a máscara? Não sei, porque não sou cientista.

Não há um prejuízo num governante que age assim? Eu vejo prejuízo no que você está me falando agora. Você quer arrancar de mim uma crítica ao presidente que eu não vou fazer.

O presidente passa por uma crise política, com CPI, com protestos. O que explica essa crise, será que não tem a ver com o governo defender uma coisa e fazer outra? Se chegou a isso tendo uma imprensa completamente contra o governo. A oposição é extremamente competente. Existe um presidente da CPI que chama uma deputada federal de prostituta publicamente, e a imprensa está dando muito mais atenção ao presidente da República dizer para uma mulher calar a boca.

O presidente é vítima de uma série de fatores. As pessoas que o recebem na rua estão vendo a verdade. Daqui para o ano que vem, essa verdade vai aparecer cada vez mais. Por mais que eventualmente esse presidente cometa erros, as pessoas estão vendo que esse presidente tem boa intenção. Ele é tão vítima quanto eu que fui chamada de prostituta.

Bolsonaro fala em convulsão social se não for reeleito. Há risco de golpe?
Não, o presidente é um homem democrático, que segue as leis, as linhas da Constituição e vai continuar seguindo. Não vejo como ameaça. Me sinto muito mais ameaçada pelos 11 ministros do STF, do que por algumas falas do presidente.

RAIO-X

Carla Zambelli, 40
Ativista fundadora do grupo Nas Ruas, ganhou notoriedade nos protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT). Foi eleita deputada federal em 2018 pelo PSL e exerce seu primeiro mandato. É gerente de projetos, formada em planejamento estratégico empresarial na Universidade Nove de Julho

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