Apesar das declarações enfáticas do presidente Vladimir Putin, especialistas em geopolítica avaliam como remota a possibilidade de a Rússia entrar diretamente no conflito entre Israel e Irã, que nas últimas semanas ganhou novos contornos com a intervenção militar dos Estados Unidos.
Putin condenou os recentes ataques liderados por Donald Trump, afirmando que são “injustificados” e declarou que a Rússia “está pronta para ajudar o povo iraniano”. A fala, no entanto, é vista mais como um gesto diplomático simbólico do que um indício real de envolvimento militar.
“Foi somente um discurso. A Rússia está debilitada por causa da guerra travada contra a Ucrânia, que já se arrasta por anos e por muito mais tempo do que os russos imaginavam”, analisa Manuel Furriela, mestre em Direito Internacional pela USP, em entrevista à revista Veja.
“Hoje ela possui uma capacidade limitada de oferecer uma ajuda substancial ao Irã”, acrescenta.
Guerra prolongada limita ação russa
Com recursos bélicos e econômicos comprometidos pela longa campanha militar na Ucrânia, iniciada em 2022, Moscou enfrenta dificuldades logísticas e operacionais para se envolver em novos conflitos, especialmente em regiões já altamente tensionadas como o Oriente Médio.
Além disso, laços diplomáticos e militares com Israel também servem como freio. A Rússia mantém há anos uma relação pragmática e cooperativa com o governo israelense, inclusive na coordenação de ações na Síria, onde ambos atuam com interesses sobrepostos.
“Os russos possuem uma relação muito boa com Israel. Eles dificilmente entrariam num conflito por esse motivo também”, pontua Furriela.
Geopolítica contida
A retórica de apoio ao Irã, portanto, se insere num contexto geopolítico mais simbólico, onde a Rússia procura manter influência entre países do eixo antiocidental, como China e Irã, sem ultrapassar as linhas vermelhas que poderiam desencadear um confronto direto com os EUA ou abalar seus vínculos estratégicos no Oriente Médio.
Por ora, o apoio russo ao Irã tende a se manter nos âmbitos diplomático e retórico, com possível envio de equipamentos de defesa ou inteligência, mas longe de uma intervenção militar direta.
Enquanto isso, a guerra entre Israel e Irã, agora com a participação dos Estados Unidos, segue elevando a tensão regional — com o mundo atento ao equilíbrio precário entre discursos inflamados e ações que possam, de fato, ampliar o conflito para uma escala global.