Putin celebra conquista no Donbass, mas conflito persiste em outras regiões ocupadas ilegalmente
A Rússia anunciou nesta terça-feira (1º) o controle total da região de Lugansk, no leste da Ucrânia, em um marco que o Kremlin tenta apresentar como uma das maiores vitórias militares desde o início da invasão em larga escala do território ucraniano, em fevereiro de 2022.
A declaração foi feita por Leonid Pasechnik, governador nomeado por Moscou para liderar o território, durante uma transmissão na televisão estatal russa. Segundo ele, “o território da República Popular de Lugansk foi totalmente libertado — 100%”, referindo-se à região com mais de 26 mil quilômetros quadrados no coração da bacia do Donbass.
Guerra desde 2014
Apesar da celebração russa, a região de Lugansk já está envolvida no conflito desde 2014, quando separatistas pró-Moscou, apoiados por tropas não oficiais e pelo grupo mercenário Wagner, iniciaram confrontos contra o governo ucraniano. Portanto, o domínio russo sobre Lugansk não representa exatamente uma conquista nova, mas sim a consolidação de um controle militar que se arrasta há mais de uma década.
O anúncio também não teve grande repercussão internacional ou mesmo interna: nenhuma confirmação ou contestação oficial foi feita por parte do governo ucraniano até o momento, e o Kremlin não promoveu grandes manifestações públicas, o que contrasta com outras declarações de vitória feitas por Moscou desde o início da guerra.
Situação militar e estratégia russa
Com o controle de Lugansk, a Rússia passa a dominar aproximadamente 19% do território ucraniano reconhecido internacionalmente, incluindo:
- Toda a região de Lugansk;
- Cerca de 70% de Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson;
- Presença militar em Kharkiv, Sumy e Dnipropetrovsk;
- Além da Crimeia, anexada ilegalmente em 2014.
A Ucrânia, por sua vez, enfrenta dificuldades para lançar contraofensivas de grande escala, especialmente em regiões fortemente militarizadas como Lugansk e Donetsk. O desgaste militar, o atraso na chegada de ajuda internacional e a superioridade aérea russa dificultam qualquer tentativa de retomada imediata desses territórios.
Doutrina nuclear em jogo
A consolidação do controle sobre Lugansk também reforça o discurso do presidente Vladimir Putin de que as regiões anexadas ilegalmente — incluindo Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson — agora fazem parte da Rússia sob sua constituição. Isso, segundo o próprio Putin, autoriza o uso da doutrina nuclear russa para protegê-las, elevando o nível de tensão geopolítica em caso de tentativa de reconquista por parte da Ucrânia.
- Reconhecimento internacional
Apesar do controle de fato, nenhuma das anexações russas é reconhecida pela comunidade internacional. Organizações como a ONU, a União Europeia e a OTAN continuam considerando Lugansk, Donetsk e as demais regiões como parte integrante da Ucrânia. O governo de Kiev, por sua vez, mantém o compromisso público de retomar todo o território perdido, inclusive a Crimeia.
Com o anúncio, a Rússia tenta reforçar a imagem de avanço e solidez militar em meio a um conflito que já deixou centenas de milhares de mortos e milhões de deslocados. A guerra, no entanto, está longe do fim — e a luta por Lugansk, embora consolidada militarmente, segue sendo uma ferida aberta no leste europeu.