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sexta-feira 15 de julho de 2022 às 07:04h

Queda de Boris Johnson pode até ser boa para o Brasil

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O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, não é integrante da realeza, mas nos últimos dois anos conforme Jaqueline Mendes, da IstoÉ, abasteceu de polêmicas e escândalos os tabloides londrinos com a exuberância de membros da família da Rainha Elizabeth II. Em parte, isso ajuda a explicar a euforia de uma parcela dos europeus com sua renúncia, na quinta-feira (7), depois da enxurrada de críticas pela nomeação como vice-presidente do partido do colega Whip Pincher, alvo de várias acusações de assédio sexual. Primeiro Jonhson disse que não sabia. Depois, apenas não se lembrava.

Pegou muito mal. A exposição pública do caso motivou o pedido de demissão de mais de 40 membros do governo, e tornou insustentável a permanência do mais despenteado inquilino da casa número 10 de Downing Street. Johnson ainda não é ex-ministro porque ficará no cargo até a definição de seu substituto, o que pode demorar semanas ou meses, a depender do humor e da pressa da teatral Casa dos Lordes, sede do Parlamento. Mas o otimismo político se justifica pela perspectiva do fim da sobreposição de dois problemas para os britânicos: o Borixt e o Brexit, o turbulento processo de desembarque da União Europeia por parte do Reino Unido. A saída começou em 2016, com um polêmico plebiscito convocado pelo então primeiro-ministro conservador David Cameron. Naquela época, um dos apoiadores da ruptura dentro do próprio partido era Johnson.

Turbulência

Embora o tema Brexit ainda seja sentido na pele pelos britânicos, que enfrentam uma das maiores pressões inflacionárias da Europa e desabastecimento de diversos produtos nas prateleiras, foram as questões comportamentais que mais desgastaram a relação de Johnson com os eleitores. Uma das mais conhecidas derrapadas foi a participação do primeiro-ministro em festas durante a pandemia, violando as regras de isolamento social impostas pelo próprio governo. No final do ano passado, Johnson também foi amplamente criticado por agir para evitar a suspensão de um de seus colegas de parlamento, Owen Paterson, acusado na época de beneficiar empresas em troca de pagamentos. Em ambos os casos ele se desculpou, mas o assunto nunca foi totalmente resolvido, o que disseminava um clima de incerteza na economia do Reino Unido.

Por isso tudo, a certeza de sua partida soou bem para os mercados europeus. No dia da renúncia, o FTSE 100, principal índice da Bolsa de Londres, fechou em alta de 3,5%, e a libra se valorizou 0,78% frente ao dólar, a US$ 1,20. Em Frankfurt, o índice DAX subiu 1,97%. Na Bolsa de Paris, o índice CAC 40 avançou 1,60%.

Para Walid Koudmani, analista-chefe de mercado da corretora XTB, é o cenário de menor instabilidade que faz com que a saída de Johnson se torne fonte de otimismo no Velho Continente. “Permanece severamente fraca [a economia europeia] devido ao terrível estado da economia do Reino Unido, que está com desempenho inferior ao de seus pares”, afirmou, em relatório. “Provavelmente vai entrar em recessão enquanto o Banco da Inglaterra se recusa a aumentar as taxas de juros agressivamente para lidar com a escalada da inflação.”

3,5% foi a alta no principal índice da bolsa de londres após o anúncio da renúncia

A avaliação de Koudmani, de que o Reino Unido poderá ficar melhor sem Johnson, sob o ponto de vista econômico, é a mesma do economista suíço-brasileiro Yvon Gaillard, cofundador da consultoria Dootax. Ele acredita que a postura do Reino Unido na guerra da Ucrânia ou na questão do Brexit não deve mudar porque o Partido Conservador vai continuar no poder, mas deverá haver novidades no campo econômico. “O impacto inflacionário na Inglaterra está muito forte, o que pode até ajudar a aproximar a Inglaterra e o Brasil”, afirmou Gaillard. “Na questão ambiental, seja qual for o próximo primeiro-ministro, as críticas vão seguir, mas o Brasil pode se aproximar da Inglaterra como alternativa para amenizar os efeitos da saída do país da União Europeia”, afirmou.

Por enquanto, o nome do próximo primeiro-ministro britânico é incerto tanto quanto os caminhos que o Reino Unido irá tomar na economia e na política internacional. Sabido é que o país vai recorrer ao velho provérbio When the going gets tough, the tough get going (em tradução livre, algo como “quando as coisas ficam árduas, os árduos precisam seguir em frente”). Disso, os britânicos entendem.

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