Uma ala importante do Partido dos Trabalhadores tem demonstrado crescente preocupação com os rumos da política econômica do governo Lula e teme que sua manutenção possa comprometer a viabilidade eleitoral da legenda nas eleições presidenciais de 2026. A informação foi publicada nesta segunda-feira (23) pelo jornal O Estado de S. Paulo e acendeu um sinal de alerta dentro da base aliada ao Planalto.
Segundo interlocutores do partido ouvidos pelo jornal, a principal queixa gira em torno do foco excessivo na austeridade fiscal, da contenção de gastos sociais e da manutenção de uma política monetária considerada conservadora. Há críticas, ainda, à condução do Ministério da Fazenda sob o comando de Fernando Haddad, visto por setores mais à esquerda como excessivamente alinhado às demandas do mercado financeiro.
Para esse grupo, o receio é de que o descontentamento popular, especialmente entre as camadas mais pobres da população que compõem a base histórica do PT, se aprofunde diante da estagnação econômica e da percepção de que o governo tem priorizado o ajuste fiscal em detrimento de políticas sociais robustas.
O temor é reforçado por indicadores como o crescimento tímido do PIB, o desemprego em patamar elevado em diversas regiões e a frustração com promessas de campanha que ainda não se materializaram plenamente — como a ampliação de programas sociais, investimentos em infraestrutura e valorização do funcionalismo público.
Além disso, parlamentares petistas relatam um desgaste crescente nas bases eleitorais, sobretudo no Nordeste, onde o impacto da política de contenção de gastos começa a ser mais sentido por prefeitos e lideranças locais. Essas queixas se somam a uma avaliação interna de que a oposição, especialmente o campo bolsonarista, tem conseguido mobilizar insatisfação popular em torno do custo de vida e da lentidão na retomada da economia.
Apesar disso, o presidente Lula tem reafirmado seu compromisso com a responsabilidade fiscal e sustentado que a solidez das contas públicas é condição necessária para garantir investimentos e manter a estabilidade macroeconômica. Nos bastidores, porém, cresce a pressão para que o governo mude de rumo antes que o cenário eleitoral de 2026 se consolide com um viés desfavorável à esquerda.
A tensão interna promete se intensificar nos próximos meses, especialmente se os indicadores econômicos não apresentarem melhora significativa. No horizonte do PT, permanece a dúvida: insistir na atual política econômica ou recalibrar o discurso e a prática para reconectar o governo com a base social que o elegeu.