Durante um jantar promovido pelo grupo Esfera, em Nova York, nesta segunda-feira (12), o ex-enviado especial do governo Donald Trump para a América Latina, Mauricio Claver-Carone, fez uma avaliação franca sobre os desafios enfrentados pelo Brasil para atrair investimentos dos Estados Unidos. Segundo ele, três fatores principais afastam os investidores americanos: câmbio, crime e corrupção.
Claver-Carone, que está de saída do cargo para atuar no setor privado, afirmou que essas questões são apontadas de forma recorrente por grandes fundos de investimento. “Perguntei a todos eles: ‘O que vocês estão fazendo com o Brasil?’ E eles disseram: ‘Nada. Fomos ao Brasil e depois saímos’”, relatou.
Os “3 C’s” que preocupam os investidores
- Câmbio – A volatilidade do real frente ao dólar é considerada o principal obstáculo. Segundo ele, a instabilidade torna os retornos imprevisíveis para quem pensa em investir a longo prazo.
- Crime – Claver-Carone destacou a atuação de facções como o PCC e o Comando Vermelho como fator de insegurança. Ele afirmou que há cooperação entre o governo dos EUA e o Brasil para combater o crime organizado.
- Corrupção – Apesar de avanços desde a Operação Lava Jato, a corrupção ainda mancha a imagem internacional do Brasil. “A reputação construída ao longo dos anos ainda afeta a confiança dos investidores”, afirmou.
Brasil fora do radar?
Além dos obstáculos citados, o ex-enviado destacou a baixa visibilidade internacional da economia brasileira. “O Brasil é a segunda maior economia do Hemisfério Ocidental, mas quando você pergunta em Nova York quem vem depois dos EUA, poucos dizem Brasil. Vão citar Canadá ou México”, criticou.
Segundo ele, isso indica um problema de posicionamento e comunicação global — um desafio que vai além da economia e entra no campo da diplomacia e marketing institucional.
Linha do tempo: Relação Brasil–EUA na economia recente
2019 – Acordos comerciais de facilitação econômica são firmados entre os governos Bolsonaro e Trump, fortalecendo o diálogo bilateral.
2020 – Pandemia da Covid-19 abala mercados e reduz o comércio global; Brasil é visto com desconfiança pela condução da crise.
2021 – CPI da Covid no Brasil expõe suspeitas de má gestão e corrupção na compra de vacinas, o que afeta a reputação do país no exterior.
2022 – Mauricio Claver-Carone deixa o comando do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) após controvérsias, mas mantém influência em círculos de negócios.
2023–2024 – Governo brasileiro tenta reposicionar o país como parceiro estratégico global, mas enfrenta críticas sobre insegurança jurídica e instabilidade fiscal.
2025 – Discurso em Nova York reacende debate sobre como o Brasil é percebido pelos investidores internacionais.