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sábado 18 de setembro de 2021 às 08:57h

Por que a escalada militar da Coreia do Norte deixa o mundo em alerta?

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A Coreia do Norte deixou os países vizinhos e a comunidade internacional em alerta ao realizar testes bem-sucedidos de novos mísseis de cruzeiro de longo alcance nos últimos dias 11 e 12 e, mais recentemente, na quarta-feira (15), quando o lançamento acorreu a partir do vagão de um trem. Da primeira vez, os projéteis voaram por 1.500 quilômetros antes de atingirem seus alvos e caírem no mar — já na segunda, a distância percorrida foi de 800 quilômetros.

Segundo o professor de Relações Internacionais da Facamp (Faculdades de Campinas) James Onnig, esse tipo de arma é herdeiro das bombas alemãs que atingiram a Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e vem sendo desenvolvido desde a Guerra Fria, conflito ideológico travado entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética entre 1947 e 1991.

A Coreia do Norte chegou a assinar o TNP (Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares), estabelecido em 1968, mas saiu do acordo em 2003 e, desde 2010, vem avançando em uma escalada militar que teve seu ápice em 2017.

“Pelo fato de a Coreia do Norte adotar um regime socialista e ter sido classificada pelos EUA, durante os anos 2000, como um país perigoso, a nação saiu do tratado e agora utiliza a energia nuclear como estratégia de defesa nacional. O ápice se deu em 2017, quando eles fizeram vários testes, e agora vêm se estabelecendo nesse ritmo: lançam um, lançam outro”, afirma.

Os mísseis de longo alcance preocupam porque, apesar de não carregarem artefatos nucleares, alguns especialistas internacionais, entre eles observadores da ONU (Organização das Nações Unidas), afirmam que poderia haver, sim, a capacidade de transporte desse tipo de bomba nesses mísseis. De acordo com Onnig, a bomba nuclear, em si, é um pequeno dispositivo que caberia dentro de uma caixa de cerca de um metro quadrado.

Do ponto de vista geopolítico, é possível afirmar que a escalada militar da Coreia do Norte não é positiva para nenhum país do mundo — mas, para Coreia do Sul, Japão e China, a situação merece uma atenção especial. No caso dos dois primeiros países, as rixas com a Coreia do Norte são antigas e se devem a acontecimentos históricos.

“As Coreias são rivais históricas desde o final da guerra entre os países, em 1953 — e, desde antes do conflito, quando as Coreias ainda eram unidas, ambas tinham rixa também o Japão, que invadiu e dominou a península da Coreia de forma extremamente violenta. Há relatos, inclusive, da escravização sexual de mulheres por parte dos soldados japoneses”, diz.

O caso da China, por sua vez, é bastante diferente, uma vez que o país não tem rixas históricas com a Coreia do Norte, e a tem, inclusive, como um de seus principais parceiros diplomáticos. Segundo o professor, o que preocupa o governo chinês é se ver obrigada a se aliar à Coreia do Norte, por questões econômicas, no caso de um eventual conflito naquela região — e, por questões ideológicas, no caso de um conflito com os EUA.

Demonstração de força

De toda forma, tanto um confronto regional quanto um de proporções maiores é uma possibilidade remota — diante disso, a pergunta que se deve fazer aqui é: por que, então, a Coreia do Norte estaria se armando? Para Onnig, a resposta passa por duas principais questões, sendo a primeira delas demonstração de força, inclusive internamente.

“Desde o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos vêm rotulando alguns países como sanguinários, ditatoriais e que precisam ser ‘varridos’ do mundo: Irã, Iraque, Síria, Cuba e, claro, a Coreia do Norte. Em resumo, todos aqueles que não se renderam diretamente a essa globalização neoliberal”, afirma.

“Tanto o Kim Jong-un, lider da Coreia do Norte, quanto o pai e o avô dele sempre se utilizaram desse discurso armamentista como forma de ‘mostrar os dentes’ e evitar um ataque. Mas também como forma de demonstração de poder internamente, para evitar que a sociedade civil tente derrubar o governo”, completa.

O segundo fator a ser levado em conta, de acordo com o professor, é a espécie de “corrida armamentista” que vem se fazendo presente na Ásia, uma vez que a Coreia do Norte não é o único país que detém armas nucleares naquela região. Além da China, que por vezes faz demonstrações de seu poderio militar, também fazem parte dessa lista o Paquistão e a Índia.

Para Onnig, em tese, nenhum país deseja fazer o uso de armas — apesar disso, as forças bélicas dos países de uma determinada região deve ser mais ou menos equivalente para não provocar tensões e conflitos na área. Se há um desequilíbrio nesse sentido, cria-se uma situação em que, inevitavelmente, alguns se sentem tentados a atacar os demais. Uma realidade que deve ser mudada.

“As tragédias humanitárias do século 20 mostram ao mundo que já passou da hora de a comunidade internacional se mobilizar no sentido de desativar por completo todas as armas nucleares disponíveis e começar a caminhar efetivamente rumo a uma era mais pacífica e harmoniosa”, diz.

“Vale destacar que, apesar de não serem comuns, acidentes com armas nucleares podem ocorrer — e, se consumados, provocariam desastres de dimensões inenarráveis com sequelas humanitárias graves”, completa.

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