Operação batizada de Sisamnes revela bastidor sombrio do Judiciário brasileiro
A Polícia Federal deflagrou nesta quarta-feira (28) a Operação Sisamnes, uma das mais explosivas e delicadas investigações da história recente do Judiciário brasileiro. A ação mira uma organização criminosa acusada de espionar autoridades, assassinar testemunhas e negociar decisões judiciais dentro do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A coluna de Mirelle Pinheiro, do portal Metrópoles, apurou com exclusividade que o grupo operava silenciosamente há pelo menos cinco anos, com ramificações no mundo jurídico, político e empresarial. O nome da operação — Sisamnes — é uma referência a um juiz persa da Antiguidade que foi esfolado vivo por corrupção, em um recado claro da PF sobre o simbolismo por trás da ação.
O esquema
Segundo fontes com acesso à investigação, o bando atuava em três frentes principais:
Espionagem de ministros e servidores — com uso de equipamentos clandestinos, interceptações não autorizadas e acesso a dados sigilosos, como agendas, e-mails e conversas reservadas;
Eliminação de obstáculos — incluindo intimidação, desaparecimento e até execuções encomendadas de testemunhas e delatores que ameaçavam o funcionamento da organização;
Venda de decisões judiciais — mediante pagamento de propina milionária para alterar o rumo de processos no STJ, especialmente envolvendo grandes empresários e políticos investigados.
Os criminosos se apresentavam como “consultores jurídicos” ou operadores de influência, mas, na prática, mantinham uma rede de favorecimento que chegava às instâncias mais altas da Justiça.
Alvos e mandados
A operação desta manhã cumpre 15 mandados de busca e apreensão em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Entre os alvos, estão:
- Advogados com trânsito em cortes superiores;
- Ex-assessores de ministros aposentados do STJ;
- Servidores públicos do Judiciário;
- Empresários que se beneficiaram de decisões viciadas.
Não há, até o momento, ministro do STJ entre os alvos diretos da operação. Mas o material apreendido pode abrir novas frentes de investigação.
Como tudo começou
A investigação teve início com a delação premiada de um ex-operador do grupo, preso em 2024 por suspeita de envolvimento em fraudes em licitações. Durante os depoimentos, ele detalhou como funcionava o esquema e entregou gravações comprometedoras. O inquérito corre sob sigilo, mas, segundo a PF, há “evidências concretas de crimes gravíssimos, com impactos diretos na credibilidade da Justiça brasileira”.
O caso é tratado com o mais alto nível de discrição pela cúpula da PF e conta com acompanhamento direto da Procuradoria-Geral da República (PGR).
O que diz o STJ
Procurado pela reportagem, o STJ informou que não comentará investigações em curso, mas ressaltou que “repudia com veemência qualquer tentativa de violar a independência do Judiciário” e que colaborará com as autoridades “no que for necessário para o total esclarecimento dos fatos”.
Bastidores tensos
Nos bastidores de Brasília, o clima é de choque e apreensão. Ministros, políticos e advogados comentam a operação com frases como “isso é uma bomba” e “o sistema pode ruir”. A depender do conteúdo dos aparelhos apreendidos hoje, a investigação pode se expandir para outros tribunais superiores.
A Operação Sisamnes pode ser o início de uma profunda devassa institucional, comparável às primeiras fases da Lava Jato — só que agora com foco no coração do Judiciário.