Ação mira esquema de desvio de verbas públicas ligadas a emendas parlamentares; parlamentar baiano é investigado, mas não foi alvo de mandados nesta etapa
A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta sexta-feira (27) a quarta fase da Operação Overclean, com foco no desvio de recursos públicos por meio de emendas parlamentares na Bahia. Por ordem do ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), três prefeitos de municípios baianos foram afastados dos cargos, além de serem alvos de mandados de busca e apreensão. Os nomes dos gestores não foram divulgados oficialmente.
As investigações apontam que o grupo atua desde 2021 na liberação de emendas destinadas às cidades de Boquira, Ibipitanga e Paratinga, mediante o pagamento de propinas e manipulação de processos licitatórios. Foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão nas cidades de Salvador, Camaçari, Boquira, Ibipitanga e Paratinga. O STF também expediu três ordens de afastamento cautelar de agentes públicos envolvidos no esquema.
O núcleo agora investigado teria ligação direta com um deputado federal da Bahia, já investigado formalmente no caso. Embora não tenha sido alvo da operação desta sexta-feira, o parlamentar é citado como peça central na engrenagem do esquema.
Esquema bilionário
Desde a primeira fase da Overclean, deflagrada em dezembro de 2024, a PF estima que o esquema criminoso movimentou cerca de R$ 1,4 bilhão por meio de contratos públicos suspeitos. Os crimes apurados incluem organização criminosa, corrupção ativa e passiva, peculato, fraudes em licitações e lavagem de dinheiro.
O nome mais conhecido envolvido na primeira etapa da operação é o do empresário José Marcos de Moura, o “Rei do Lixo”, figura influente no União Brasil e apontado como operador do esquema. Ele chegou a ser preso no fim do ano passado. Em um dos endereços ligados a Moura, a PF encontrou documentos envolvendo Elmar Nascimento (União Brasil-BA), deputado federal e uma das principais lideranças do partido. Nascimento, no entanto, nega qualquer envolvimento.
Uma planilha apreendida na fase inicial da operação revelou uma complexa rede de contratos, com mais de 100 pessoas identificadas, muitas delas usando codinomes. Entre os citados estão o vereador de Campo Formoso, Francisquinho Nascimento, primo de Elmar Nascimento, e o ex-chefe do Dnocs na Bahia, Lucas Lobão. Francisquinho protagonizou um episódio inusitado ao tentar se livrar de mais de R$ 1 milhão em dinheiro jogando notas por uma janela durante a abordagem policial — o valor foi recuperado.
Contratos sob suspeita
De acordo com a Controladoria-Geral da União (CGU), o grupo firmou, apenas em 2024, contratos que somam R$ 825 milhões, com indícios de superfaturamento de pelo menos R$ 8 milhões, em especial em contratos com o Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs). Uma outra planilha apreendida apontou contratos com valores superiores a R$ 200 milhões em outros estados, como Rio de Janeiro e Amapá.
Apesar das provas reunidas até o momento, todos os investigados negam qualquer irregularidade. Em nota divulgada anteriormente, a prefeitura de Campo Formoso, também citada nas investigações, afirmou que conduz suas contratações “dentro das melhores práticas”.
A nova fase da Operação Overclean reforça o cerco da PF a esquemas de corrupção envolvendo emendas parlamentares.