terça-feira 24 de junho de 2025
Foto: Ueslei Marcelino - 25.mai.23/Reuters
Home / DESTAQUE / Pesquisa mostra que falta de liderança de Lula cobra o seu preço
quinta-feira 5 de junho de 2025 às 11:05h

Pesquisa mostra que falta de liderança de Lula cobra o seu preço

DESTAQUE, ELEIÇÕES 2026, NOTÍCIAS


Na inauguração de mais uma etapa da transposição do Rio São Francisco, na semana passada, na Paraíba, o presidente Lula da Silva (PT), disse que “Deus deixou o sertão sem água” porque sabia que ele seria eleito presidente. “Ele sabia que somente uma pessoa que tinha passado fome, somente uma pessoa que, com 7 anos de idade, carregava pote de água na cabeça… somente uma pessoa que tinha passado por essa experiência era possível trazer água pra cá”.

Embora tenha recebido críticas da oposição, a fala teve pouca repercussão no contexto geral. Talvez porque seja tão frequente ver Lula dizendo ter sido tocado pelo dedo divino, ninguém mais se abala, como diz o blog da Malu Gaspar.

A realidade, porém, não poupa nem os ungidos, e a última pesquisa Genial/Quaest mostra isso de forma cabal. O levantamento retrata um governo focado no passado — 60% dos entrevistados dizem não conhecer iniciativas novas de Lula, e 61% consideram que o Brasil caminha na direção errada.

A imensa maioria tomou conhecimento do roubo das aposentadorias do INSS (82%). Quase um terço acha que a culpa das fraudes é do governo (31%). Outros 14%, que é do INSS — também governo, afinal. Metade é a favor de uma CPI para investigar os desvios.

Não surpreende que a proporção dos que apontam a corrupção como sua maior preocupação no Brasil tenha aumentado de 8% para 13% desde janeiro. Além disso, 70% consideram que Lula não tem conseguido cumprir as promessas de campanha (70%), e 45% que seu governo está “pior do que esperava”.

A Quaest só foi divulgada ontem, mas o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, recebe levantamentos sobre o humor do eleitorado todo dia e muito provavelmente já estava ciente desse quadro. Ainda assim, na terça-feira, Lula deu entrevista coletiva dizendo que está cumprindo suas promessas e repetiu o bordão de que “estamos fazendo uma colheita muito promissora neste país”, porque “os dados econômicos são os melhores dos últimos anos”.

Diante da pesquisa, os governistas reconheceram que a situação é complicada, mas preferiram enfatizar a informação de que subiu 2 pontos percentuais a parcela dos que veem alguma melhora na economia, enquanto os que avaliam que ela piorou diminuíram 8 pontos.

Quem acompanhou as últimas duas eleições já entendeu que a economia não é mais o principal fator na decisão de voto. A inflação continua alta, e a culpa não é só do governo. Mas, se os juros não caem mesmo com um presidente do Banco Central “lulista”, isso tem, sim, a ver com a dificuldade do Executivo de cortar despesas e passar a confiança de que está mesmo preocupado em equilibrar as contas públicas.

O projeto que isenta de Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil, prioridade para 2026, ainda engatinha e dificilmente passará pelo Congresso sem que se apresente uma proposta consistente para compensar as receitas perdidas.

Diante da desorganização evidenciada no atabalhoado anúncio das mudanças nas regras do IOF e na votação do projeto que flexibiliza os ritos do licenciamento ambiental no Senado Federal, fica difícil acreditar que, no caso do IR, será diferente. A falta de liderança — ou a falta de vontade de liderar — cobra seu preço.

A situação de Lula só não é pior porque a direita está desconjuntada e sem rumo. Continuará assim enquanto Jair Bolsonaro insistir em ser candidato em 2026, mesmo sem poder. Se, por um lado, parece vantagem haver bolsonaristas enrolados em processos e em guerra com o Supremo Tribunal Federal (STF), por outro é nítido que, para parcela nada desprezível da população, por vezes a simbiose de propósitos entre governo e STF tumultua o clima político e alimenta o discurso falacioso de que estamos sob uma ditadura do Judiciário.

Hoje esse parece um aspecto lateral, mas, assim como na eleição de 2022 a ditadura na Venezuela teve papel maior do que se podia prever, não seria absurdo o debate sobre censura e liberdade de expressão vir a ter peso relevante na disputa de 2026 — especialmente se vingar o movimento do governo Donald Trump de retaliar o Supremo e Alexandre de Moraes com sanções econômicas, motivado em grande parte pelo lobby das big techs.

Nesse cenário, o estranhamento provocado pela fala de Lula na Paraíba não decorre do tom messiânico. A questão é que, ao recorrer ao discurso já gasto de seus mandatos anteriores, ele demonstra um alheamento que já deveria ter sido superado, e não foi, e um ponto fraco que pode ser explorado — e será.

Veja também

Dólar passa a subir após notícias sobre novos ataques do Irã; Ibovespa recua quase 1%

O dólar à vista passou a operar em leve alta ante o real nesta segunda-feira …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!