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sábado 9 de novembro de 2024 às 17:19h

O que levou à queda do Muro de Berlim

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Em 9 de novembro de 1989 caía um dos principais símbolos da Guerra Fria. Uma série de acontecimentos decisivos na Polônia, Hungria e URSS culminou no momento histórico na cidade alemã. As informações são do portal, DW.

O Muro de Berlim, construído em 1961 pelo regime da República Democrática Alemã (RDA), era o símbolo da divisão do mundo pela “Cortina de Ferro”, e da luta entre o comunismo e o capitalismo. Embora a parte oeste estivesse cercada por uma barreira de 155 quilômetros de concreto e arame farpado, seus habitantes podiam viajar para qualquer lugar sem impedimentos. Berlim Ocidental era, portanto, uma ilha de liberdade no meio da RDA comunista.

Em contrapartida, para a grande maioria dos alemães-orientais, o Ocidente tão próximo permaneceu um local inatingível por décadas. Isso mudou abruptamente na noite de 9 de novembro de 1989, quando uma nova lei sobre as viagens foi anunciada numa entrevista coletiva televisionada ao vivo em Berlim Oriental.

De acordo com o comunicado, o trânsito para o Ocidente seria liberado, e já! Milhares rumaram para as passagens de fronteira do centro da cidade, sob vigilância militar, que realmente foram abertas depois de algumas horas. As imagens da população celebrando na Berlim subitamente unida rodaram o mundo. De uma maneira comovente, essas imagens marcaram o fim de fato da divisão da Alemanha em Ocidental e Oriental.

Pouco mais de um ano depois, em 3 de outubro de 1990, o país politicamente dividido desde o fim da Segunda Guerra Mundial comemorava sua reunificação. Esse marco histórico só foi possível graças ao consentimento das quatro potências vencedoras da guerra: de um lado, os aliados democratas Estados Unidos, Reino Unido e França; do outro, a comunista União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

“Glasnost” e “Perestroika”, as palavras mágicas

As concessões feitas pelo reformista comunista soviético Mikhail Gorbachov, no poder desde 1985, foram decisivas. Essa é também a opinião do diretor do Memorial do Muro de Berlim, Axel Klausmeier. A política de abertura (Glasnost) e reconstrução (Perestroika) de Gorbachov representou uma ruptura com a “doutrina Brejnev”, que estipulava que os países unidos no Pacto de Varsóvia não deviam se desviar do curso estabelecido pelo Kremlin de Moscou.

E, de repente, a mudança de direção: “Não importa o que aconteça nos Estados irmãos socialistas, esses Estados são responsáveis por si próprios”, resume Klausmeier o fim de um dogma numa frase.

Ao contrário das décadas anteriores, os soviéticos não intervieram quando o apelo por reformas democráticas soou cada vez mais alto na Polônia, Hungria ou República Democrática Alemã. Antes da era Gorbachov, todas as lutas de libertação no assim chamado Bloco do Leste foram reprimidas brutalmente pela URSS – na RDA em 1953, na Hungria em 1956 e na então Tchecoslováquia em 1968.

Ativistas de direitos civis em todo o Leste Europeu foram incentivados a pressionar também em seus países em prol de Glasnost e Perestroika. Desde meados de 1988 já havia contatos na Polônia entre a liderança comunista e o movimento sindical oficialmente proibido Solidarnosc. Os contatos resultaram nas conversações na chamada Mesa Redonda Polonesa, na qual participaram, além de outros grupos da oposição, representantes influentes da Igreja Católica.

Entre os representantes do Vaticano estava Karol Józef Wojtyle, que sob o título de papa João Paulo 2º visitou três vezes sua terra natal na era comunista e demonstrou abertamente simpatia pelo Solidarnosc.

A autoridade do líder da Igreja Católica fortaleceu ainda mais a fé dos oponentes do regime em uma guinada positiva do destino. Um passo importante nessa direção foram as eleições parlamentares polonesas em junho de 1989, nas quais os candidatos da oposição foram autorizados a participar pela primeira vez. No entanto, os governantes há décadas no poder haviam anteriormente garantido quase dois terços dos assentos.

Polônia, primeira a quebrar monopólio comunista

No entanto, o compromisso foi um divisor de água histórico, pois rompeu o monopólio de poder dos comunistas na Polônia. E as indicações de mudanças aumentavam também em outros países. Na Hungria, o governo havia começado em maio a reduzir os postos de vigilância na fronteira com a Áustria. Isso tornou menos perigoso o caminho para a liberdade nessa interface entre Europa Oriental e Ocidental.

Centenas de cidadãos da RDA seguiram este trajeto para fugir de sua terra natal. Ao mesmo tempo, muitos milhares fugiram em meados de 1989, obtendo acesso às embaixadas da Alemanha Ocidental nos países do Leste Europeu. O descontentamento crescia diariamente e, com isso, a pressão sobre o regime avesso a reformas em Berlim Oriental.

A partir de setembro, dezenas de milhares iam às ruas toda segunda-feira na cidade de Leipzig. O ponto alto foi o 9 de outubro, quando 70 mil cidadãos protestaram pacificamente por mudanças na República Democrática Alemã, escandindo palavras de ordem como “Nós somos o povo!” e “Sem violência!”.

Como não se sabia como o regime reagiria, o medo era “enormemente grande”, relataram testemunhas oculares a Klausmeier. Mas quando não houve repressão nessa manifestação, a oposição teve a sensação de êxito: “Vencemos!”

Queda de Honecker e dissolução da União Soviética

Entre 18 e 24 de outubro de 1989, o chefe de Estado e líder do Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED), Erich Honecker, resignara a seus postos. Seu sucessor, Egon Krenz, sinalizou abertura para conversar com ativistas dos direitos civis.

Em 4 de novembro a praça Alexanderplatz de Berlim foi palco da maior manifestação da história da RDA. Cerca de meio milhão de participantes aplaudiram em Berlim Oriental os oradores da oposição e vaiaram os representantes do sistema – entre eles Günter Schabowski, diretor da legenda única na RDA, o Partido Socialista Unitário (SED).

O mesmo Schabowski anunciou a nova regulamentação de viagem cinco dias depois, em 9 de novembro de 1989. Com isso, de forma proposital ou não, ele desencadeou a queda do Muro de Berlim. Na fronteira interna da Alemanha, nenhum tiro foi disparado. O caminho para a liberdade estava aberto – e não tinha mais como ser fechado.

Nos meses seguintes, cidadãos de todo o Leste Europeu conquistaram sua liberdade. O círculo fechou com o colapso da URSS no final de 1991. Um ciclo histórico iniciado em 1985, quando Gorbachov assumiu o poder. O ex-líder soviético foi homenageado em 1990 com o Prêmio Nobel da Paz.

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