Com foco no eleitorado conservador fora da capital, grupo do prefeito do Rio descarta PSD e PT para vice e aproxima-se de lideranças como Washington Reis e Wladimir Garotinho
Enquanto nega publicamente qualquer intenção de disputar o governo do Rio de Janeiro em 2026, o prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), já movimenta nos bastidores uma ampla articulação política para construir uma candidatura viável e competitiva. A movimentação inclui alianças com líderes influentes do interior do estado, especialmente na Baixada Fluminense e no Norte Fluminense, e o nome mais cotado para compor a chapa como vice é o de Washington Reis (MDB), ex-prefeito de Duque de Caxias e atual secretário de Transportes do governo Cláudio Castro (PL).
Segundo interlocutores próximos, há uma certeza no núcleo duro de Paes: a vice na chapa ao governo não será do PSD nem de um nome da capital. A prioridade é encontrar um aliado com forte apelo eleitoral fora do Rio, que possa atrair o eleitorado mais conservador, tradicionalmente alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Por essa razão, nomes ligados ao PT também estão fora do radar, embora o partido ainda aposte em uma possível dobradinha entre Lula e Paes para aumentar o desempenho do presidente no estado.
Washington Reis: o nome preferido do grupo de Paes
Apesar de estar inelegível após condenação por crime ambiental, Washington Reis insiste em se manter no páreo, inclusive flertando com uma candidatura própria ao Palácio Guanabara. Internamente, aliados de Paes consideram que uma eventual aliança entre os dois tornaria a chapa “imbatível”. Nos bastidores, há quem diga que o prefeito da capital estaria ajudando Reis a reverter a condenação junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente após manifestação favorável do ministro Gilmar Mendes sobre a possibilidade de conversão da pena em reparação civil.
A relação entre Paes e Reis tem se intensificado. No último fim de semana, o prefeito esteve em Duque de Caxias ao lado de Reis e de seu irmão, o deputado Rosenverg Reis, a quem chamou de “amigo” e “professor dos prefeitos”. A proximidade, no entanto, tem gerado desconfianças entre adversários de Reis, que acusam o secretário de se aproximar de Paes apenas para “valorizar o passe”.
Pressões e atritos na Alerj
Ao mesmo tempo em que se fortalece politicamente, Washington Reis enfrenta desgaste na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Na segunda-feira (1), deputados governistas aprovaram requerimento que convoca o secretário para prestar esclarecimentos sobre um reajuste de tarifas no âmbito da CPI da Transparência. O grupo do presidente da Casa, Rodrigo Bacellar (União Brasil) – que deve assumir interinamente o governo com a viagem de Cláudio Castro a Portugal – pressiona pela exoneração de Reis, acirrando a disputa política nos bastidores.
Garotinho, interior e o quebra-cabeça da base
Além da Baixada, Paes busca expandir sua base pelo interior do estado. O grupo mantém conversas com o prefeito de Campos dos Goytacazes, Wladimir Garotinho (PP), herdeiro político do ex-governador Anthony Garotinho. Wladimir, que rivaliza com Bacellar no Norte Fluminense, já teria sinalizado interesse em compor a chapa como vice, caso Washington Reis fique impedido.
“Precisamos do eleitorado de Campos, que tem um perfil bem diferente do da capital e da Baixada”, explicou um aliado de Paes envolvido nas negociações.
Outros nomes considerados estratégicos são o do prefeito de Macaé, Walberth Rezende (Cidadania); de Volta Redonda, Antonio Francisco Neto (PP); e do ex-prefeito de Nova Iguaçu, Rogério Lisboa (PP). Também está no radar Vicente Guedes, ex-prefeito de Rio das Flores e Valença, atualmente assessor especial na Prefeitura do Rio.
Cenário em formação
Mesmo negando intenção de disputar o governo, Eduardo Paes está claramente montando as peças para uma candidatura estadual. Ao se posicionar como uma opção de centro, com apoio em diferentes regiões e clãs políticos, o prefeito sinaliza uma estratégia para romper a polarização entre bolsonarismo e lulismo e construir uma coalizão pragmática, com foco em governabilidade e capilaridade eleitoral.
Com a corrida estadual ainda em fase embrionária, os movimentos de Paes evidenciam um jogo complexo, onde alianças, processos judiciais e clãs regionais terão papel decisivo na composição final das chapas para 2026 no Rio de Janeiro.