Há exatos 20 anos, em 2005, o Brasil assistia à revelação de um dos maiores escândalos políticos de sua história recente: o caso do Mensalão. A denúncia de um esquema de compra de apoio parlamentar no Congresso Nacional abalou o primeiro mandato do presidente Lula da Silva (PT) e deu início a um processo judicial sem precedentes, que resultou em condenações de figuras centrais do núcleo político do governo e do Partido dos Trabalhadores.
O escândalo veio à tona em junho de 2005, quando o então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), presidente nacional do seu partido na época, revelou a existência de um suposto pagamento mensal a parlamentares da base aliada em troca de apoio às votações de interesse do Planalto. As acusações foram negadas pelo governo, mas rapidamente ganharam força com depoimentos e investigações conduzidas por comissões parlamentares de inquérito e pelo Ministério Público.

O caso ficou conhecido como “Mensalão” e levou à Ação Penal 470 no Supremo Tribunal Federal (STF), cujo julgamento teve início em 2012 e foi concluído dois anos depois. O processo foi marcado por sua complexidade, pelo número de réus e pela atenção midiática. Pela primeira vez na história do país, altos dirigentes partidários e ex-ministros foram condenados por corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
Entre os condenados estavam o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares. As penas variaram de regime semiaberto a fechado, e o julgamento foi considerado um marco na jurisprudência brasileira sobre crimes de colarinho branco.
Apesar de não ter sido formalmente acusado no processo, o presidente Lula teve seu governo duramente impactado. A crise política abalou alianças no Congresso e manchou a imagem do PT, que até então era visto como símbolo de ética na política. Ainda assim, Lula conseguiu se reeleger em 2006 e concluir seu segundo mandato com altos índices de aprovação.

Duas décadas depois, o Mensalão é lembrado tanto pelo seu impacto institucional quanto por ter pavimentado o caminho para outras investigações, como a Operação Lava Jato. Especialistas avaliam que o caso inaugurou uma nova era de protagonismo do Judiciário no combate à corrupção, embora também tenha exposto tensões entre os poderes e limites na responsabilização política.
“O Mensalão foi divisor de águas. Mudou a forma como a sociedade vê a elite política e também a relação entre Justiça, mídia e opinião pública”, afirma o cientista político Rafael Mendes, da Universidade de Brasília.
Em 2025, o caso permanece como referência obrigatória nos debates sobre ética, governabilidade e judicialização da política no Brasil.