Quando chega o mês de junho, as bandeirolas coloridas enfeitam supermercados, feiras e ruas por todo o Nordeste, e com elas vem o aroma doce do licor artesanal, protagonista das festas juninas. Entre garrafas de jenipapo, cajá e tamarindo, uma tradição familiar nascida nos quintais do Recôncavo baiano acaba de dar um salto histórico: os licores da Lemavos, indústria fundada por Diego Lemos, começam a ser exportados para França e Portugal.
O feito é simbólico. Representa mais do que a expansão comercial de uma bebida típica: é a união entre tradição, inovação e sustentabilidade, capaz de transformar uma receita familiar em produto global.
De herança familiar a indústria moderna
Diego Lemos cresceu entre os rituais da produção artesanal de licor, tradição que atravessa gerações na região. Com formação em engenharia e doutorado em Modelagem Computacional pelo SENAI CIMATEC, ele percebeu ali uma oportunidade de empreender, mas com um olhar técnico.

“A maioria das produções ainda era feita no ‘olhômetro’, com prensa de madeira. Eu quis aplicar tecnologia sem perder a essência do sabor e da cultura”, conta Diego.
Assim nasceu, em 2011, a Lemavos. Com apoio da Fapesb, a produção industrial começou dois anos depois, exigindo investimento técnico, pessoal e emocional. Equipamentos de laboratório como alcoômetros, refratômetros e pH-metros passaram a fazer parte do processo, garantindo padronização e qualidade.
Sabor que atravessa fronteiras
Hoje, a Lemavos possui duas linhas de licor: a popular, sob a marca “Sr. Nô”, e a premium, batizada de “Brazeiros”. Os sabores vão de mel de cacau a limão siciliano com canela, e também incluem caju, maracujá e jabuticaba. A empresa diversificou ainda mais seu portfólio, produzindo destilados e aguardente de melado, sempre com ingredientes da agricultura familiar.
Com forte apelo social e ambiental, a Lemavos já nasceu conectada com os princípios do ESG. Além da compra direta de frutas de pequenos produtores, a empresa reutiliza resíduos do jenipapo para produzir ração para peixes e camarões, projeto realizado com apoio da UFSB, CNPq e Fapesb.
Internacionalização: tradição baiana nas prateleiras da Europa
O processo de internacionalização da Lemavos teve suporte técnico do Centro Internacional de Negócios (CIN), da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), em parceria com o Sebrae. A empresa participou de mentorias e consultorias especializadas, que orientaram desde ajustes regulatórios até a adaptação dos rótulos para os mercados europeu e lusófono.
“Foi uma escola. Descobrimos, por exemplo, que até o símbolo de reciclagem precisa seguir padrões específicos de cada país. É nesse nível de detalhe que a exportação exige”, relata Diego.
Agora, os licores da Lemavos embarcam para Portugal e França, abrindo portas para o reconhecimento da cultura baiana como produto sofisticado e exportável.
Mais do que bebida, identidade cultural
Com lojas próprias em Itacaré e Morro de São Paulo, e vendas para redes varejistas e e-commerce, a Lemavos prova que inovação e identidade podem andar juntas. A marca mantém viva a tradição do licor de São João — mas com uma roupagem moderna, tecnológica e sustentável.
A exportação marca uma conquista, mas também um novo começo. Como resume Diego:
“Esse é só mais um passo. O que estamos fazendo é mostrar que a cultura do nosso povo, quando bem cuidada, pode alcançar o mundo inteiro.”