O líder do governo no Senado, senador Jaques Wagner (PT), criticou duramente a postura do Congresso Nacional após a derrubada do decreto presidencial que elevava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), medida defendida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como essencial para o equilíbrio fiscal. Em entrevista ao podcast PodZé, apresentado por José Eduardo, o senador revelou bastidores da articulação política que antecedeu a derrota do governo no dia 25 de junho.
Apesar de afirmar que não se trata de uma “traição”, Wagner foi enfático ao dizer que o Congresso, especialmente a Câmara dos Deputados, não cumpriu um acordo construído após uma longa reunião entre lideranças políticas e representantes do governo. Segundo o parlamentar, o entendimento havia sido celebrado entre os presidentes das duas Casas, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), além dos ministros Haddad e Gleisi Hoffmann (PT), e líderes da base aliada.
“Eu acho que quem está na política tem que estar preparado para a derrota e para a vitória. Porém, o que me abateu naquela derrota não foi a derrota em si, mas o descumprimento de um pacto”, lamentou Wagner. Ele descreveu o encontro como “a melhor reunião” da qual participou em sua trajetória política. “Foi uma reunião de seis horas, todos saíram entusiasmados, dizendo que era histórica.”
Segundo o senador, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), foi um dos que mais elogiaram a negociação. No entanto, poucos dias depois, o cenário mudou drasticamente. Wagner afirma que, após uma reunião de Motta com representantes do mercado financeiro — possivelmente banqueiros e empresários da Faria Lima, em São Paulo — houve uma guinada no posicionamento da Câmara, que acabou liderando o movimento para derrubar o decreto presidencial.
“Três, quatro dias depois, o caboclo vira tudo sem dizer por quê. Não vou falar de traição, mas foi uma coisa inexplicável, decepcionante”, desabafou o senador.
Para Wagner, a quebra do compromisso firmado foi um golpe não apenas político, mas também moral. “Eu sou respeitado no Senado porque, quando digo que é X, é X. É no fio do bigode. Fiz vários acordos na palavra, e eu banco”, disse, criticando a quebra de confiança institucional.
A derrubada do decreto do IOF foi uma derrota significativa para o governo Lula, que buscava recompor receitas diante de pressões fiscais e metas estabelecidas pela equipe econômica. A decisão do Congresso foi celebrada por setores do empresariado, que vinham criticando o aumento da carga tributária.
Nos bastidores, a crise aprofundou o desgaste na articulação entre o Palácio do Planalto e o Congresso, alimentando especulações sobre a fragilidade da base aliada e a crescente influência de interesses econômicos sobre decisões parlamentares.
A fala de Wagner, uma das vozes mais próxima do presidente Lula, é vista como um sinal de alerta para o governo, que terá que redobrar esforços para consolidar apoio político e evitar novas derrotas no segundo semestre legislativo.