Integrantes da cúpula da União Brasil dão como certa a saída de Juscelino Filho da Esplanada do presidente Lula (PT). Filiado à legenda, ele comanda o Ministério das Comunicações e foi indiciado pela Polícia Federal por suspeita de corrupção.
Segundo aliados do ministro, auxiliares de Lula procuraram nesta semana dirigentes do partido para tratar da situação.
O gesto e uma declaração do presidente nesta quarta (26) foram lidos como sinais de que o próprio governo encara a demissão de Juscelino como provável. As informações são de Julia Chaib, Victoria Azevedo e Bruno Boghossian, da Folha de S. Paulo.
O ministro tem sido alvo de acusações desde o início do governo. Lula, porém, descartava demiti-lo sob pena de desencadear uma crise com a União Brasil. O partido tem 59 deputados e sete senadores e é considerado importante para garantir a aprovação de projetos relevantes ao governo.
Nesta quarta, Lula admitiu a hipótese de demissão pela primeira vez, em entrevista ao UOL, dias depois de tê-lo defendido. Ele afirmou que, caso o ministro seja denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República), ele terá de “mudar de posição”.
A Polícia Federal indiciou o ministro sob suspeita dos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção passiva, falsidade ideológica e fraude em licitação.
Investigadores apontaram que Juscelino integra uma organização criminosa e cometeu crimes relacionados a desvios de recursos de obras de pavimentação custeadas com dinheiro público direcionados à estatal federal Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba).
A investigação foi enviada para avaliação da PGR, comandado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet. Cabe ao órgão se manifestar sobre a efetivação da denúncia.
Dentro da PF, há a aposta que a Procuradoria vai acatar o relatório que incrimina o ministro, segundo um integrante corporação. Dois dirigentes da União Brasil têm a mesma avaliação, e por isso consideram inevitável a saída do ministro.
Uma das lideranças da legenda diz, no entanto, que a PGR pode até não apresentar a denúncia, mas reconhece que as declarações do presidente reforçam o agravamento da situação de Juscelino no governo.
O partido ainda não discutiu substitutos para o cargo. Há uma avaliação de que os líderes da legenda no Senado e na Câmara, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e Elmar Nascimento (União Brasil-BA), respectivamente, vão atuar para manter um aliado na pasta.
Juscelino é considerado uma indicação dos dois políticos, influentes no Congresso Nacional e potenciais candidatos para comandar as duas Casas a partir de 2025. Além disso, o ministro conta com apoio de parte da bancada do partido na Câmara, já que foi eleito deputado federal e está hoje licenciado do cargo.
Caso ele seja demitido do cargo, uma ala do partido vai defender que a indicação seja tratada como das bancadas e distante da cúpula da União Brasil. Isso porque um grupo do partido prega que a legenda seja oposição ao governo.
A União Brasil tem outros dois representantes na Esplanada de Lula: Celso Sabino (PA), no Ministério do Turismo, e Waldez Góes, na pasta da Integração e do Desenvolvimento Regional.
Waldez se licenciou do PDT, mas é indicação de Alcolumbre. Já Sabino foi indicado pela bancada da Câmara para chefiar o Turismo num momento em que o Executivo buscava melhorar a relação com a Casa.
Nesta quarta, Lula afirmou na entrevista que avisou ao próprio Juscelino Filho sobre seu afastamento em caso de denúncia da Procuradoria.
“Se o procurador indiciar [no caso da PGR, denunciar] você, você sabe que tem que mudar de posição”, afirmou o presidente, durante entrevista ao portal UOL.
Ao ser questionado na sequência se ele seria afastado se isso acontecesse, Lula respondeu afirmativamente. “Vai ser afastado. Ele sabe disso”, completou.
“O que eu disse para o Juscelino? Eu disse: ‘Olha, a verdade só você que sabe. Então é o seguinte: se o procurador indiciar você, você sabe que tem que mudar de posição’”, afirmou Lula.
Em nota divulgada após a fala de Lula, o Ministério das Comunicações afirmou que Juscelino “continua trabalhando com muita dedicação e de forma muito transparente” e permanece no cargo “enquanto o presidente desejar, o que é uma honra para Juscelino”.
O ministro diz confiar na Justiça para reconhecer sua inocência, segundo a nota. “O ministro reafirma a sua inocência no caso e que não existe nada em relação à sua conduta à frente do ministério.”
Um ministro do governo afirma, sob reserva, que as declarações do petista desta quarta causaram estranheza, por contrastar do tom que Lula adotou na semana passada, quando fez um afago ao ministro em sua visita ao Maranhão, estado de Juscelino. Ele também diz que a fala do petista pode incentivar a PGR a apresentar a denúncia, o que pode criar ruídos com o meio político.
Em entrevista a uma rádio na última sexta (21), Lula disse que estava feliz com Juscelino e que era preciso aguardar os desdobramentos do indiciamento, repetindo que “todo mundo é inocente até que se prove o contrário”.
“Tem um problema de indiciamento do Juscelino. Mas eu tenho uma filosofia: todo cidadão é inocente até que se prove o contrário. Se o indiciamento ainda não foi concedido pela PGR nem pela Suprema Corte, eu tenho que aguardar”, afirmou Lula na ocasião.