A Polícia Federal (PF) investiga a possível existência de uma empresa de fachada ligada a Cesar de Jesus Glória Albuquerque, um dos três empresários interceptados na última terça-feira (20) no Aeroporto Internacional de Brasília, enquanto transportavam R$ 1,25 milhão em espécie dentro de uma mala.
Segundo informações da investigação, a empresa C J Comércio de Produtos Alimentícios, registrada em nome de Albuquerque, teria como endereço uma localidade que não apresenta qualquer sinal de atividade comercial. De acordo com imagens recentes do Google Maps, atualizadas pela última vez em agosto de 2024, o endereço declarado pelo empresário fica no Km 179 da BR-174, na comunidade Nova Jerusalém, no município de Presidente Figueiredo, no Amazonas. No local, conforme a PF, há apenas uma parada de ônibus à beira da rodovia, sem qualquer estrutura que indique a presença física de uma empresa.
“Durante diligência e análise preliminar, não foram encontradas instalações ou qualquer evidência física da existência da empresa nos dois lados da rodovia”, afirmou a Polícia Federal em nota oficial.
Suspeitas de lavagem de dinheiro e organização criminosa
O flagrante do transporte do dinheiro em espécie — prática considerada atípica e altamente suspeita — somado ao possível uso de empresa fantasma levanta suspeitas de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e participação em organização criminosa.
Cesar Albuquerque e os outros dois empresários detidos prestaram depoimento ainda na terça-feira. Durante o interrogatório, Albuquerque afirmou que os recursos eram provenientes de “negócios legítimos” realizados pela empresa registrada em seu nome, voltada à comercialização de alimentos. No entanto, além da falta de sede física, a investigação indica que a empresa não possui empregados registrados, não emite notas fiscais e não tem atividade econômica recente declarada.
Fachadas comuns na Amazônia Legal
Especialistas em crimes financeiros apontam que o uso de empresas de fachada em áreas remotas da Amazônia Legal tem se tornado uma prática recorrente entre grupos que buscam disfarçar movimentações ilícitas. Endereços em zonas rurais, de difícil acesso e com baixa fiscalização, são frequentemente utilizados para dificultar o rastreamento das atividades e dos verdadeiros responsáveis pelos recursos.
“Esse tipo de estrutura é um alerta clássico para operações de lavagem de dinheiro. Empresas sem movimentação real, localizadas em áreas isoladas, muitas vezes só existem no papel para simular operações comerciais legítimas”, explicou um perito criminal consultado pela reportagem.
Próximos passos da investigação
A PF deve aprofundar a análise da movimentação financeira de Albuquerque e de seus sócios, além de investigar possíveis conexões com outros esquemas ilícitos em operação na região Norte. O dinheiro apreendido foi encaminhado para custódia judicial, e os três empresários seguem em liberdade provisória, mas com medidas cautelares.
A investigação corre sob sigilo, mas fontes próximas ao caso não descartam o envolvimento de laranjas e o uso de empresas fictícias em série para ocultar a origem dos recursos transportados.