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A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o presidente Lula — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
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segunda-feira 14 de outubro de 2024 às 10:56h

Eleição municipal dá força a grupo no PT que advoga por presidente nordestino para a legenda

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A cúpula do petismo até tentou emplacar um discurso de reconstrução do partido a partir do retrato do PT que emergiu das urnas no primeiro turno. Coube a Lula interromper a tentativa de dourar a pílula. Para ele, a sigla não foi bem e precisa reavaliar seu papel nas eleições municipais. O presidente falou em público o que expoentes da legenda já diziam sob reserva nos últimos dias: apesar do avanço em número de prefeituras, o maior partido de esquerda do país saiu enfraquecido.

O pleito evidenciou a grande dependência do Nordeste para o desempenho nacional do partido e como, na região Sul, há um sentimento crescente de questionamento a nomes da legenda. Dos oito estados nos quais o PT avançou em número de eleitos frente a 2020, seis estão no Nordeste. No Rio Grande do Sul, no Paraná e em Santa Catarina, houve recuo no total de prefeitos.

Assim, as urnas reforçaram a influência de ministros nordestinos como cabos eleitorais. Saíram fortalecidos das eleições Camilo Santana (Educação), Wellington Dias (Desenvolvimento Social), e Rui Costa (Casa Civil). Seus estados encabeçaram a lista de mais prefeituras conquistadas pelo PT ante a última eleição. No total, foram 71 municípios a mais considerando o avanço no Ceará, Piauí e Bahia, resultado importante para balancear o desempenho do Sul, onde a legenda perdeu 13 prefeituras.

Esse quadro deu força à ala do PT que advoga por um nome do Nordeste para comandar a legenda a partir do ano que vem, quando está prevista a escolha do nome que sucederá Gleisi Hoffmann na presidência.

Em São Paulo, onde estão quadros da velha-guarda do partido, a legenda minguou e agora passou a ter somente três cidades, o mesmo número do nanico Novo, por exemplo. Contribuiu para amplificar a sensação de derrota o fato de as vitórias terem ocorrido em cidades pouco expressivas: Lucianópolis, Matão e Santa Lúcia — nesta última, o candidato do PT era o único a concorrer ao cargo.

São Bernardo do Campo, Osasco, Diadema, Araraquara, Santo André e Campinas são exemplos de cidades nas quais ministros do governo se engajaram em campanhas e, ainda assim, o PT não embalou seus candidatos. Luiz Marinho (Trabalho), Paulo Teixeira (Trabalho), Fernando Haddad (Fazenda) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) são exemplos de auxiliares de Lula que fizeram eventos com candidatos petistas no estado.

Uma das derrotas mais sentidas foi em Araraquara, onde o prefeito Edinho Silva falhou em eleger um sucessor. Até agora, ele vinha sendo citado como um dos principais cotados para assumir a direção do PT. Para integrantes da cúpula da legenda, contudo, o resultado em sua cidade joga água nesses planos. Um membro da direção da sigla chegou a vaticinar que Edinho se tornou “carta fora do baralho”.

Integrantes do PT em São Paulo discordam. Eles argumentam que a diferença de votos em Araraquara foi pequena para o candidato bolsonarista e está longe de indicar a erosão da influência de Edinho na região. Dizem ainda que, mesmo no Nordeste, o desempenho de Ceará, Piauí e Bahia é questionável, já que o PT não levou capitais e conquistou muitas prefeituras pequenas.

Apesar de admitirem que Camilo Santana é um dos que deve ter mais influência nas discussões sobre os rumos do partido daqui para frente, petistas argumentam que sucesso eleitoral não é fator decisivo para catapultar um nome ao comando da legenda.

Da mesma forma que, no auge da crise causada pela Lava-Jato, o PT precisava de alguém com perfil combativo como Gleisi, agora a legenda parece carecer de alguém capaz de renovar suas diretrizes e compor com grupos mais amplos, dizem integrantes da sigla.

Petistas lembram que o interior de São Paulo vem se tornando um ambiente inóspito para o partido, enquanto evangélicos se distanciam da legenda e o eleitor se mostra cada vez mais conservador. Isso força o partido a repensar sua estratégia para o principal colégio eleitoral do país.

Parte dos quadros do PT acredita que o nome de Lula para a presidência da legenda ainda irá emergir. Para um petista histórico, o jogo ainda está em aberto e o segundo turno pode, inclusive, ter bastante influência. Caso Guilherme Boulos consiga a difícil tarefa de vencer em São Paulo, o pleito dos paulistas pelo comando do partido será reforçado. Há ainda a possibilidade de o PT conseguir alguma capital, já que irá disputar o segundo turno em quatro: Natal (RN), Porto Alegre (RS), Fortaleza (CE) e Cuiabá (MT).

Se isso ocorrer, a avaliação sobre o desempenho da legenda neste ano irá melhorar consideravelmente, realçando o resultado exibido por Gleisi para sua gestão. O PT saiu de 2020 sem presença em qualquer capital.

Nomes com menos expressão hoje na legenda vão tentar usar o desempenho eleitoral para ter voz no debate. É o caso do deputado federal Washington Quaquá, que venceu a prefeitura de Maricá com 73% dos votos. É a quinta vez que seu grupo leva o município. No Rio, os petistas saíram de uma para três prefeituras, equiparando-os a São Paulo.

Quaquá advoga por uma ampla revisão da estratégia do PT que, segundo ele, corre o risco de virar “um grande PSOL”. Segundo o parlamentar, é preciso uma renovação no comando do partido que veja o centro como aliado e priorize demandas da população em detrimento da pauta identitária, sob o risco de o PT perder relevância.

A consolidação de nomes como Camilo Santana e Rui Costa como caciques locais do petismo também fortalece a posição dessas lideranças num jogo ainda mais complexo: quem dará as cartas no PT quando Lula sair de cena. Os dois ministros costumam ser mencionados ao lado de Fernando Haddad como apostas neste campo.

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