Advogados de réus dos atos de 8 de janeiro, estão recorrendo à inteligência artificial para ajudar na estratégia de defesa no caso que investiga Jair Bolsonaro (PL) e outras 30 pessoas – entre generais, policiais e ex-ministros da antiga administração – por envolvimento numa articulação para manter o ex-presidente no poder e impedir a posse de Lula.
Segundo relatos obtidos pela equipe da coluna, os escritórios de advocacia de réus de diferentes núcleos da trama golpista têm recorrido a programas como “Claude”, “Gemini” e “Jurídico AI”.
Essas ferramentas auxiliam em tarefas como pesquisa de jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), elaboração de teses e resumo de textos, além de ajudar na correção ortográfica e formatação de peças jurídicas no âmbito da ação penal – que reúne milhares de páginas.
“São quase 20 volumes no processo e não conseguimos ver tudo. A inteligência artificial é uma espécie de assistente virtual. O escritório ganha agilidade”, diz um advogado ouvido reservadamente pela equipe da coluna, pedindo anonimato.
Os defensores temem admitir publicamente que usam a IA, em parte por causa das controvérsias levantadas pela disseminação indiscriminada da ferramenta. Considerando que se trata de um caso considerado um dos mais importantes da história do STF, acham melhor evitar desgastes.
Dois escritórios informaram ao blog da Malu Gaspar, que gastam, em média, entre R$ 8 mil e R$ 10 mil com inteligência artificial por mês. Segundo fontes ouvidas pela equipe da coluna, a mensalidade de empresas que oferecem o serviço pode beirar os R$ 3 mil, com uma cobrança adicional de R$ 0,50 por página lida pelo sistema.
‘Confira sempre as respostas’
Não é só no Judiciário que a inteligência artificial tem ganhado cada vez mais protagonismo nos trabalhos.
Conforme informou o colunista Lauro Jardim, o deputado capitão Alberto Neto (PL-AM) usou a ferramenta para redigir um duro requerimento de informações para cobrar do ministro dos Transportes, Renan Filho, sobre falhas na fiscalização no transporte rodoviário de passageiros no Brasil.
Na última pergunta endereçada ao ministro, o deputado não apagou o nome da IA, mantendo no requerimento a mensagem: “Tentar novamente. O Claude pode cometer erros. Confira sempre as respostas”.
Em julho de 2023, a Anthropic, uma startup de inteligência artificial que se posiciona como criadora de um tipo de chatbot mais seguro, lançou o Claude, uma nova versão de seu bot de IA, conforme informou o GLOBO. Entre as funções do Claude estão resumir, pesquisar e responder perguntas.
O Gemini, por sua vez, é uma inteligência artificial do Google concorrente do ChatGPT, que acumula 400 milhões de downloads segundo a empresa.
Já o Jurídico AI se apresenta como uma ferramenta que otimiza a “escrita de peças processuais”, sob a premissa de ser uma inteligência artificial “100% treinada em direito brasileiro”. A plataforma promete a criação de “peças processuais de alta qualidade em menos de 1 minuto, informando apenas os dados básicos da peça que precisa”.
“Na prática, o advogado fornece à plataforma as informações básicas do caso ou indica o tipo de documento que precisa, e a IA analisa um vasto conjunto de leis e precedentes para gerar um texto jurídico coerente e personalizado. A IA da Jurídico AI foi treinada diariamente com conteúdo do ordenamento jurídico nacional, o que lhe permite compreender termos técnicos do Direito e estar atualizada com as mudanças na lei e decisões dos tribunais”, diz o site da empresa.