O acerto com Jair Bolsonaro, que se filiará ao PL, recolocou o chefe do partido, Valdemar Costa Neto, no epicentro do jogo político. Conforme o portal UOL, ele volta à cena em Brasília 16 anos depois de ter sido um dos pivôs do Mensalão —pelo qual foi preso e condenado.
No entanto, para o Palácio do Planalto, Costa Neto segue fora dos registros oficiais. Até a noite de ontem (11), a reunião que selou o destino de Bolsonaro, realizada no dia anterior na sede do Executivo federal, ainda não havia sido inserida na agenda pública do presidente.
Costa Neto entrou pela garagem do Planalto, na quarta-feira (10), e saiu cerca de uma hora depois também pelo acesso privativo. Não houve contato com a imprensa.
O encontro foi confirmado por auxiliares do dirigente partidário e havia sido antecipado pelo próprio Bolsonaro na manhã de quarta, em entrevista à Rádio Cultura, do Espírito Santo.
“Hoje vou conversar com Valdemar Costa Neto e acho que devemos bater o martelo. (…) Se eu vier a disputar a reeleição [em 2022], quero ter candidato ao governo de São Paulo, ao Senado e uma bancada de indicados [ao Congresso Nacional]. Falta acertar esse pequeno detalhe com o Valdemar, que acredito que acerte hoje”, disse ele na quarta.
Após a reunião, Costa Neto se dirigiu à sede do PL e, horas depois, anunciou formalmente a aliança com Bolsonaro. A ficha de filiação será assinada em um grande evento político na capital federal, marcado para 22 de novembro.
Outros casos
Essa não é a primeira vez que Costa Neto é desprestigiado pelo núcleo duro da Presidência.
Em abril desse ano, durante a nomeação da então recém-nomeada ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda (PL-DF), Valdemar Costa Neto compareceu à cerimônia de posse. Na ocasião, a presença dele foi registrada em fotos oficiais divulgadas na conta do Planalto na rede social Flickr.
No mesmo dia da postagem, sem justificativa aparente, a imagem acabou sendo removida da galeria. Usuários da rede que tentaram visualizar a foto se deparavam com a seguinte mensagem: “Parece que a foto ou o vídeo que você está procurando não existe mais”.
Em 2018, quando negociava quem seria seu vice, Bolsonaro criticou o cacique liberal. “O Valdemar Costa Neto já foi condenado no Mensalão, está citado, citado não, está bastante avançada a citação dele no tocante à Lava Jato.”
Na segunda-feira, Carlos Bolsonaro apagou um post em seu perfil no Twitter de 2016. Na publicação, o vereador compartilhava reportagem sobre pagamentos de propinas a Costa Neto e ao Partido da República (antigo nome do PL).
Centrão
Costa Neto é um dos caciques do bloco conhecido como centrão, formado por partidos periféricos e que costumam remar de acordo com a maré. Bolsonaro foi eleito em 2018 com críticas a essas siglas e ao ambiente de corrupção em Brasília.
Nos últimos meses, porém, o atual chefe do Executivo federal consolidou a aliança com o centrão e passou a utilizar a sua força na Câmara dos Deputados como base de apoio no Congresso.
Atualmente, o PL é o partido com a terceira maior bancada na Câmara dos Deputados (atrás do PSL e do PT). A expectativa de caciques do partido é que ele se torne, após as eleições do ano que vem, a maior bancada na Casa.
Mensalão e outros escândalos
Costa Neto e o PL estiveram em todas as manchetes de jornais em 2005, ano marcado pelo episódio do Mensalão. O nome se refere ao maior escândalo do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT, acusados de pagar dinheiro a deputados em troca de apoio a projetos do governo.
Além da condenação a 7 anos e 10 meses (por corrupção passiva e lavagem de dinheiro), Costa Neto foi citado na Operação Porto Seguro, em 2013, que investigou esquema de fraudes em pareceres técnicos, e na Lava Jato, por suspeita de receber R$ 500 mil para manter esquema da construtora UTC com o Ministério dos Transportes.