A audiência pública desta semana na Câmara dos Deputados, em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deveria explicar os recentes aumentos de impostos, acabou em tumulto após um acalorado bate-boca com os deputados bolsonaristas Carlos Jordy (PL-RJ) e Nikolas Ferreira (PL-MG). O episódio simboliza a crescente pressão enfrentada pelo governo Lula diante das reações negativas ao pacote fiscal.
O atrito com os parlamentares aconteceu num momento em que o Executivo já acumulava desgastes. Lideranças do Centrão, entre elas os presidentes da federação formada por União Brasil e PP — que juntos somam 109 deputados e 14 senadores — foram enfáticos: não haverá aumento de impostos sem que o governo apresente contrapartidas concretas em corte de gastos.
Pela manhã, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), havia advertido que o pacote de Haddad provocaria forte resistência, tanto no Congresso quanto no empresariado. “Sem o governo apresentar um mínimo dever de casa do ponto de vista do corte de gastos, isso não será bem-aceito”, afirmou. “Não estou à frente da presidência da Câmara para servir a projeto político de ninguém.”
A reviravolta ocorre poucos dias após Motta ter saído entusiasmado de uma reunião de mais de seis horas com Haddad, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e outros líderes partidários. Na ocasião, celebrou-se um suposto consenso sobre uma solução alternativa ao aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), considerada menos danosa. O início do debate sobre o fim de isenções fiscais também foi festejado.
Contudo, o otimismo durou pouco. A reação imediata de setores atingidos pelo pacote, como o agronegócio, casas de apostas e o setor da construção civil, gerou intensa mobilização de lobby no Congresso. Deputados da oposição e parte do Centrão, que não participaram da reunião de domingo, logo se insurgiram contra o que consideraram uma tentativa de impor ônus ao Legislativo sem esforço equivalente por parte do Executivo.
A crise se agravou com a intervenção do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, que deu prazo de dez dias para o Congresso explicar a criação de um suposto “novo Orçamento Secreto” dentro do Ministério da Saúde. A decisão acendeu o estopim da insatisfação. Deputados viram na medida um movimento político coordenado. Em retaliação, Motta anunciou que pretende colocar em votação o pedido de prisão do ministro Alexandre de Moraes, que até então aguardava a captura da deputada foragida Carla Zambelli (PL-SP).
O episódio expõe, mais uma vez, a fragilidade da articulação política do governo federal. Na semana anterior, a ministra Marina Silva também foi alvo de críticas sem que recebesse apoio público nem mesmo do presidente Lula da Silva. Assim como ela, Haddad encontra-se isolado em suas tentativas de equilibrar as contas públicas. Fontes do governo indicam que o próprio presidente e parte do núcleo duro do Planalto resistem a discutir cortes de gastos, o que esvazia a força do titular da Fazenda.
A percepção entre parlamentares é clara: se Lula, com baixa popularidade e necessidade urgente de apoio no Congresso, não lidera o enfrentamento da crise, dificilmente o Centrão o fará por ele. Como diz o ditado popular ecoado nos corredores do poder: “quem pariu Mateus que o balance.”