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terça-feira 30 de novembro de 2021 às 05:57h

Congresso aprova teto a verba política sem revelar parlamentares beneficiados

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O Congresso Nacional aprovou na noite desta última segunda-feira (29) um projeto de resolução que busca atender a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) a respeito das emendas de relator, verbas que se tornaram moeda de negociação política do governo Jair Bolsonaro com parlamentares.

No entanto, conforme a Folha, o texto ainda manteve o controle da distribuição das emendas na cúpula do Congresso e reforçou que as medidas de transparência valem apenas daqui para frente. Ou seja, ele mantém secretos os parlamentares que indicaram as chamadas emendas RP9 em 2020 e 2021.

O relator da proposta, senador Marcelo Castro (MDB-PI), incluiu em seu relatório um item para tentar limitar o volume desses recursos. Ele estabelece que o valor máximo das emendas de relator será o total das emendas de bancada e individuais impositivas.

A proposta orçamentária encaminhada ao Congresso prevê R$ 5,7 bilhões para as emendas de bancada e R$ 10,5 bilhões para as emendas individuais.

O texto foi aprovado na Câmara por 268 votos a favor, 31 votos contra e uma abstenção. Algumas horas depois, os senadores também aprovaram a proposta, com uma margem mais apertada: 34 votos a favor e 32 votos contrários.

Foram decisivos para a aprovação no Senado, portanto, alguns votos ou ausências. Um deles foi o voto a favor do senador Rogério Carvalho (PT-SE), que contrariou a orientação contrária da bancada do PT e o voto de todos os seus correligionários. Também chamou a atenção a ausência da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), apontada como uma líder progressista. Os outros dois membros do Cidadania votaram contra a proposta.

O projeto de resolução é uma das apostas da cúpula do Congresso para tentar reverter decisão do STF que barrou as emendas de relator.

Com exceção do teto incluído pelo relator, o texto aprovado é basicamente a proposta antecipada pela Folha, que circulou entre líderes da Câmara nas últimas semanas e que era capitaneada pelo presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL).

Todos os anos, deputados e senadores têm o direito de direcionar verbas do Orçamento federal para obras e investimentos em seus redutos eleitorais. Para isso, contam com as chamadas emendas parlamentares individuais (definidas por cada um dos 594 congressistas) e coletivas (de bancadas estaduais, por exemplo). Elas são divididas de forma equânime entre os parlamentares, e a execução pelo governo é obrigatória.

A partir do Orçamento de 2020, porém, a cúpula do Congresso começou a colocar em prática uma manobra com o objetivo de manter o seu poder de moeda de troca —se aproveitando da fragilidade política do governo Bolsonaro, que foi obrigado a abrir mão de parte da execução dessa verba.

Essa manobra se materializou por meio do relator-geral do Orçamento: um deputado ou senador que na maior parte dos casos apenas empresta o nome para a divisão da verba, que é decidida, na prática, pela cúpula da Câmara e do Senado.​

Na mesma linha do ato conjunto das mesas do Senado e da Câmara dos Deputados, publicado na quinta-feira passada, o projeto de resolução aprovado nesta segunda estabelece novos critérios de transparência para as emendas de relator.

No entanto, novamente, parlamentares apontam que não se atende à decisão da ministra Rosa Weber, depois confirmada pelo plenário do Supremo. Isso porque estabelece que as medidas de transparência passarão a valer apenas a partir da edição do projeto de resolução do Congresso —desconsiderando a distribuição de emendas dos últimos dois anos.

Nesta segunda-feira, a Consultoria de Orçamento, Fiscalização e Controle do Senado Federal divulgou uma nota técnica na qual se afirma que é possível atender a demanda para divulgar a listagem de parlamentares que indicaram as emendas RP9.

“Se houve ‘milhares de demandas’ e os relatores-gerais encaminharam-nas na forma de indicações, algum tipo de procedimento organizativo tiveram para fazê-lo, e algum registro documental ou informacional mantiveram para seu próprio controle; caso contrário, teriam agido sem saber o que estavam fazendo (o que evidentemente não é o caso)”, afirma o texto.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que as emendas de relator não são ilícitas e que elas “vão salvar muita gente no Brasil”.

“Mal feito pode existir em emenda de relator, emenda individual, emenda de bancada, emenda de comissão, em orçamento de ministérios e esses malfeitos precisam ser combatidos e há mecanismos de combate desses malfeitos, desses desvios, desses crimes, mas não é a existência da emenda de relator que é por sua natureza algo ilícito, porque definitivamente não é”, argumentou Pacheco após participar de evento promovido pela Federação do Comércio do Paraná.

A proposta aprovada pelos deputados não muda em nenhum ponto o atual poder do governo e da cúpula do Congresso de privilegiar determinados deputados em detrimento de outros, nem de patrocinar repasses em períodos de votação de grande interesse do governo.

“Eu não trato dessa questão na resolução, porque a resolução não é o lugar próprio para tratar disso. O lugar próprio para a gente tratar de equidade e critérios é no parecer preliminar”, afirmou Marcelo Castro, acrescentando que na comissão mista do Orçamento serão estabelecidos os detalhamentos.

O texto regulamenta as emendas de relator ao acrescentar um dispositivo que autoriza o relator-geral do Orçamento a apresentar emendas que tenham por objetivo “a inclusão de programação ou o acréscimo de valores em programações constantes do projeto, devendo nesse caso especificar o seu limite financeiro total, assim como o rol de políticas públicas passíveis de ser objeto de emendas”.

No entanto, em seguida inclui uma “trava”, para que esse valor máximo seja o correspondente ao total das emendas de bancada e individuais impositivas.

“No entanto, com vistas ao aperfeiçoamento da proposição sob exame, consideramos importante que se estabeleça regra permanente para a determinação do valor máximo até o qual o relator-geral poderá apresentar emendas à lei orçamentária anual”, afirma Castro em seu texto.

O relator rejeitou todas as emendas que foram apresentadas ao texto, sendo que algumas delas previam a extinção das emendas de relator.

Durante a sessão, a oposição tentou obstruir a votação, alegando que a proposta de resolução configurava uma ilegalidade porque desrespeitava a decisão do STF. Ainda argumentavam que os prazos regimentais foram todos violados.

Em uma dura fala, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) afirmou que a questão vai voltar a ser analisada pelo Supremo, pois se trata de uma votação inconstitucional. Ele atacou Lira e Pacheco.

“Essa sessão é formalmente inconstitucional. A solução encaminhada pelo colega Marcelo Castro se mostra inconstitucional e está na base porque evidentemente temos neste caso uma emenda parlamentar não prevista na Constituição sendo utilizada para manobras políticas em valores absurdamente elevados. A nova resolução consagra isso”, afirmou.

Vieira então citou o ex-presidente da Câmara, Ulysses Guimarães, que disse que todas as soluções estavam no “livrinho”, em referência à Constituição. E que essa dava como opção recorrer ao STF para casos de “abuso” como aquela votação.

“É um acinte imaginar que o presidente do Senado, o presidente da Câmara tenham se unido para mentir ao STF. Porque é mentira que não é possível identificar autorias dos pedidos das emendas que movimentaram mais de R$ 30 bilhões nos últimos dois anos”, completou.

O líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), afirmou esperar que o Supremo reverta os termos do projeto de resolução, que ele qualifica como uma tentativa de transformar em algo “legal” um texto inconstitucional.

“Esse projeto não garante a transparência para dentro e também não garante a transparência para trás”, afirmou.

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