sábado 14 de dezembro de 2024
Os prefeitos Eduardo Paes, João Campos e JHC disputam a reeleição neste ano — Foto: Roberto Moreyra, Agência Câmara e Reprodução
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terça-feira 13 de agosto de 2024 às 14:05h

Candidatos a prefeituras cotados para governos estaduais em 2026 adotam estratégias distintas ao tratar de possível saída do cargo

ELEIÇÕES 2026, NOTÍCIAS


Prefeitos que concorrem à reeleição este ano e são cotados para alçar voos maiores em 2026 têm adotado estratégias distintas na hora de responder sobre a possibilidade de deixar os mandatos pela metade caso sejam reconduzidos ao cargo. O histórico de episódios nas últimas décadas mostra que compromissos como o firmado agora pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), que afirmou que permanecerá no posto caso vença a corrida para um quarto mandato, nem sempre são cumpridos — o caso do tucano José Serra em São Paulo, em 2004, é um dos exemplos mais emblemáticos.

Nas eleições deste ano, além de Paes, são tidos como prováveis “largadores de mandato”, se forem reeleitos, os prefeitos do Recife, João Campos (PSB), e de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC (PL). Alguns outros também têm a possibilidade aventada nos respectivos estados, como Pazolini (Republicanos), de Vitória; Cícero Lucena (PP), de João Pessoa; e Eduardo Braide (PSD), de São Luís. À exceção de JHC, que costura candidatura para o Senado, os demais são potenciais postulantes a governador.

— Em 2012, quando fui candidato à reeleição, diziam que eu iria sair em 2014. Em 2020, quando ganhei a eleição, o que mais ouvi era que iria sair para ser governador. Eu adoro ser prefeito do Rio, tenho a honra de ter tido a confiança dessa cidade três vezes, e se tiver pela quarta vez permanecerei no meu mandato. Essa é minha obrigação, e é para isso que estou me colocando — disse Paes em entrevista ao g1, na semana passada. — Me comprometo com o eleitor da minha cidade a ficar até o final do mandato se for reeleito.

Vice de confiança

Uma característica comum às candidaturas desses prefeitos é a nomeação de um vice de extrema confiança. A intransigência nessa escolha representa um sinal claro de que eles ao menos cogitam uma nova aventura eleitoral em 2026, já que colocaram como companheiros de chapa pessoas que dariam continuidade ao trabalho na esfera municipal dali em diante.

Isso fica nítido nas três cidades em que os candidatos à reeleição são considerados presenças naturais na disputa de daqui a dois anos: Paes formou uma chapa puro-sangue do PSD com o deputado estadual Eduardo Cavaliere, João Campos indicou o ex-chefe de gabinete Victor Marques (PCdoB) e JHC optou pelo senador Rodrigo Cunha (Podemos), aliado de longa data.

Mas, se Paes opta pela estratégia de negar a possibilidade e assume o compromisso de ficar até o fim, os demais ainda escapam da pergunta. Campos, por exemplo, disse em sabatina do Uol que precisa “respeitar os eleitores” do Recife.

— O meu foco é a eleição de 2024, e eu não vou falar sobre a de 2026 porque nem a de 24 chegou — afirmou.

Em Maceió, JHC segue a mesma lógica. Diz apenas que é candidato à reeleição, sem fazer nenhum tipo de promessa envolvendo 2026.

Professor da UFRJ, o cientista político Josué Medeiros acredita que é importante dizer ao eleitor municipal que não está pensando em interromper o mandato no meio. Depois, observa, a eventual quebra de compromisso dificilmente prejudicará o prefeito quando ele decidir fazê-lo em prol da candidatura estadual.

— Essas promessas têm uma importância na eleição municipal. Esse tipo de compromisso ajuda a fixar no eleitorado que ele tem um compromisso com a cidade, que aquilo é uma vocação, uma missão. A eleição municipal tem muito esse caráter de cuidar da cidade — aponta o coordenador do Observatório Político e Eleitoral (OPEL). — Ao mesmo tempo, avalio que a quebra da promessa não tem peso nenhum dois anos depois, porque o prefeito vai passar dois anos trabalhando o vice como uma figura que vai assumir e, se estiver bem avaliado, vai transformar a candidatura estadual numa missão, num chamado. Esses dois anos são uma eternidade na política.

Foi paradigmático, no histórico de prefeitos que largaram no meio, o episódio envolvendo José Serra (PSDB) em São Paulo, até hoje o caso mais lembrado. Em 2004, o então candidato a prefeito da capital paulista, maior cidade do país, chegou a assinar um documento sugerido em um evento do jornal “Folha de S. Paulo” para dizer que cumpriria o primeiro mandato até o fim. Depois, renunciou para disputar o Palácio dos Bandeirantes em 2006 — e venceu.

Além de Serra, o também tucano João Doria foi outro exemplo recente em São Paulo de prefeito que negou a intenção de largar a cidade no meio para alçar voos maiores, mas acabou o fazendo. No caso de Doria, o movimento também se deu ainda no primeiro mandato, para o qual foi eleito em 2016. Assim como o correligionário, ele venceu o jogo estadual mesmo assim.

Outros bem sucedidos na missão foram Beto Richa, no Paraná, e Ricardo Coutinho, na Paraíba, ambos no pleito de 2010. Mas, de maneira geral, prefeitos que concorrem a governador depois de deixarem a prefeitura no meio do caminho costumam ter dificuldades nas urnas.

Também há poucos anos, em 2020, Alexandre Kalil (PSD) não assumiu para os eleitores de Belo Horizonte que não cumpriria o eventual segundo mandato até o fim, mas, reeleito, saiu para disputar o governo mineiro em 2022, quando perdeu para Romeu Zema (Novo).

As eleições de dois anos atrás não foram boas para prefeitos que tentaram trocar de patamar de Executivo. Os outros dois que fizeram esse movimento — Gean Loureiro (União), em Santa Catarina, e Marquinhos Trad (PSD), em Mato Grosso do Sul — também foram derrotados.

Quatro anos antes, em 2018, o mesmo número: foram três fracassados no movimento de usar capitais como trampolim para o estado, mas nenhum entre os maiores colégios eleitorais do país. Carlos Amastha (PSB) perdeu no Tocantins, Marcus Alexandre (PT) no Acre e Carlos Eduardo Alves (PDT) no Rio Grande do Norte. Apenas Doria se deu bem.

Sem precedente no Rio

O Rio não registra nenhum precedente. Com menos de 50 anos de existência, o ente fundado a partir da fusão entre os antigos estados do Rio e da Guanabara ainda não viu a prefeitura carioca despontar como um trampolim de sucesso para o Palácio Guanabara.

O único prefeito da capital que virou governador na Nova República foi Marcello Alencar. Ele foi nomeado para a prefeitura pelo governador Leonel Brizola quando ainda era do PDT, e eleito para o estado pelo PSDB, mas a vitória para o governo se deu mais de oito anos depois de sair do comando da cidade. Paes também tentou, na eleição de 2018, assumir o Guanabara, mas estava fora do Executivo municipal havia quase dois anos.

No Rio, pesquisas internas feitas por adversários de Paes mostram que o eleitor não se preocupa tanto assim com a possibilidade dele deixar a cidade nas mãos do vice para concorrer ao governo estadual. No último sábado, ao GLOBO, o governador Cláudio Castro (PL) acusou Paes de “estelionato eleitoral” com base na avaliação de que ele estaria mentindo aos eleitores sobre suas reais intenções.

Promessas quebradas

  • José Serra: Em 2004, quando disputava a prefeitura de São Paulo, José Serra (PSDB) assinou um documento durante sabatina do jornal “Folha de S. Paulo” no qual se comprometia a “cumprir os quatro anos de mandato na íntegra, sem renunciar à Prefeitura para me candidatar a nenhum outro cargo eletivo”. Dois anos depois, ele interrompeu seu mandato para concorrer ao governo do estado e foi eleito.
  • João Doria: Após garantir, em entrevista ao g1 no dia 21 de setembro de 2016, que, se eleito, cumpriria “todo o mandato”, João Doria, filiado ao PSDB na época, deixou a prefeitura de São Paulo um ano e três meses depois para concorrer a governador e foi eleito.
  • Alexandre Kalil: Em março de 2022 Alexandre Kalil, então no PSD, anunciou sua renúncia à prefeitura de Belo Horizonte para disputar o governo de Minas e acabou derrotado. Durante a campanha de 2020 ele havia se comprometido a ficar os quatro anos à frente do Executivo municipal.
  • Beto Richa: Em seu segundo mandato na prefeitura de Curitiba, o tucano Beto Richa renunciou ao mandato para disputar o governo do Paraná em 2010 e foi eleito. Ele havia garantido que, se eleito, cumpriria os quatro anos de mandato na prefeitura, contrariando as apostas de que pretendia disputar o governo dois anos depois.

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