Segundo José Casado em sua coluna na Veja, que afirma que Jair Bolsonaro e Valdemar Costa Neto são reféns deles mesmos.
Casado lembra que o presidente precisa do Partido Liberal, com 42 deputados e 9 senadores no Centrão, assim como Valdemar precisa do governo e do presidente para garantir a própria sobrevivência como dono do PL na eleição do ano que vem.
Perde tempo quem vê nesse jogo um componente ideológico. Bolsonaro nunca foi um liberal, e Costa Neto é um profissional do pragmatismo.
É jogo de dinheiro e poder. O impasse na reta final da negociação sobre a filiação do presidente, marcada para o domingo 22 e ontem adiada, mostra os limites de ambos.
Bolsonaro, com a troupe de duas dezenas de parlamentares — incluído um filho deputado — que dele dependem para renovar seus mandatos, é um candidato pesado para a estrutura de partidos como o PL, PP e Republicanos, os motores do Centrão.
Nos 28 anos em que foi um deputado-sindicalista isolado no baixo clero da Câmara pode entrar e sair de uma dezena de partidos sem maiores problemas.
Na presidência, depois de brigar com o dono do PSL, Luciano Bivar, já tentou mas não conseguiu ser aceito no Republicanos, Progressistas, Patriota, Democrata Cristão e, por enquanto, no Liberal.
O problema é sempre o mesmo: ele quer ser o dono do partido, com o poder efetivo de definir a lista de candidatos aos governos estaduais, às assembleias, à Câmara e ao Senado, além de determinar as cotas de financiamento de candidaturas e as alianças regionais.
Bolsonaro fracassou na construção do seu partido, o Aliança Brasil, que encerrou a semana com apenas 154.614 adesões em 9 Estados. Mas não desistiu da ideia de ser dono, e na falta do próprio quer mandar no partido alheio. Entende isso como um valor justo porque é chefe de governo em campanha pela reeleição.
Presidente com caneta e o Diário Oficial nas mãos tem a força de ímã na atração de donos de partido como Costa Neto, que precisa de cargos-chave em ministérios e empresas estatais para manter o agrupamento nos 27 diretórios estaduais, vitaminado com fatia do bilionário orçamento paralelo, além dos R$ 6 bilhões em fundos públicos previstos para a temporada eleitoral de 2022.
Ele conhece o amargor da vida na oposição. Ruminou-a durante o governo Fernando Henrique Cardoso, época em que Bolsonaro pregava o fuzilamento do presidente caso privatizasse a Petrobras.
Não gostou da experiência e acabou no centro do governo Lula, ao negociar a filiação do vice José Alencar. Acabou preso e condenado no Mensalão. Ficou dois anos presidindo o Partido Liberal de dentro de uma cela na penitenciária da Papuda (DF). Ainda é réu, mas agora é sócio-titular no Centrão, tem ministério (de Governo) e o domínio de áreas relevantes em estatais na administração Bolsonaro.
Costa Neto e o PL dependem do governo. Ele para continuar dono, o partido para continuar existindo depois da eleição do ano que vem. Precisam renovar os mandatos da bancada e aumentá-la — a projeção é crescer dos atuais 43 para 60 deputados federais. Isso requer gestão milimetricamente balanceada de verbas e candidaturas nos Estados, com margem estreita de negociação.
Bolsonaro faz política pelo veto: “A gente não vai aceitar, por exemplo, em São Paulo apoiar alguém do PSDB”, disse ontem em Dubai, nos Emirados Árabes. “Não tenho candidato em São Paulo ainda. Talvez o Tarcísio [de Freitas, ministro da Infraestrutura] aceite esse desafio. E não pode o PL dar autonomia para o presidente de um diretório estadual de Pernambuco, para o cara apoiar o PT.”
Como todos os candidatos presidenciais, Bolsonaro é vítima de uma eleição na qual a única prioridade dos partidos é eleger bancada parlamentar.
Costa Neto é dono de um partido que não quer e não pode romper com o governo, ao qual se associou com benefícios.
Um é refém do outro, diz José Casado na Veja, e ambos têm prioridades diferentes, embora com o mesmo objetivo: sobreviver nas urnas em 2022. Jair e Valdemar enfrentam uma situação que, no idioma de botequim na Bahia, se define como ‘sinuca de bico’.