O Vaticano ainda não confirmou oficialmente a causa da morte do papa Francisco, ocorrida nesta segunda-feira (21), mas veículos italianos já adiantam informações. Segundo a agência ANSA, o motivo seria uma hemorragia cerebral. O Corriere della Sera e o La Repubblica afirmam que o pontífice sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mais especificamente do tipo hemorrágico.
O neurocirurgião Victor Hugo Espíndola explicou as diferenças entre os tipos de AVC. “No acidente vascular cerebral, nós temos dois tipos: o isquêmico e o hemorrágico. O isquêmico é o mais comum. Os AVCs são responsáveis por até 80% dos casos, ou mais, dependendo da literatura que a gente consultar. Ele é causado por obstrução das artérias, seja por um trombo ou por um coágulo.”
De acordo com a imprensa italiana, o AVC teria sido responsável pelo colapso súbito do quadro clínico do papa. O neurocirurgião alerta que o tipo hemorrágico tende a ser mais grave. “O AVC hemorrágico ocorre por um extravasamento de sangue para dentro do tecido cerebral. A principal causa é a hipertensão arterial, por um pico hipertensivo. Mas a gente tem outras causas, como os aneurismas cerebrais, as malformações arteriovenosas e a angiopatia amiloide, que é um tipo de AVC mais comum em idosos.”
Como o AVC pode atingir pacientes em recuperação?
O papa havia sido internado em 14 de fevereiro, com um quadro grave de pneumonia. Ficou 38 dias no hospital e recebeu alta recentemente. Especialistas consideram que a condição física do religioso pode ter contribuído para o agravamento do caso. “Não dá pra gente fazer uma relação direta de causa com isso. Mas, logicamente, é um senhor de idade, com 88 anos, que ficou muito tempo internado, em estado grave, com pneumonia severa. Isso tudo aumenta e leva a uma fragilidade do paciente”.
Espíndola lembra que a recuperação após longas internações costuma ser crítica em pacientes idosos. “A gente não sabe, por exemplo, como foi essa recuperação dele, como ficou a função renal dele após essa internação, como ficou a pressão arterial dele depois dessa internação. Isso tudo são fatores de risco que aumentam a chance de o paciente ter um AVC, seja isquêmico ou hemorrágico.”
Sinais de alerta são importantes. Segundo o especialista, no caso do AVC hemorrágico, o sintoma mais comum é a dor de cabeça intensa e repentina. “Quadros abruptos de dores de cabeça e, muitas vezes, pela gravidade, o paciente pode entrar em coma, ter crises convulsivas, sentir dor e ficar muito sonolento.”
A causa oficial do falecimento será anunciada pelo Vaticano em coletiva nesta tarde.
Papa é colocado no caixão e Vaticano anuncia causa da morte como AVC e insuficiência cardíaca irreversível
O corpo do Papa Francisco, que morreu nesta segunda-feira aos 88 anos, foi colocado no caixão às 20h (15h em Brasília) na capela da residência Santa Marta, no Vaticano, onde morava desde que assumiu o trono de São Pedro, em 2013. A Santa Sé confirmou quase simultaneamente que o Papa faleceu de AVC e insuficiência cardíaca irreversível, após ter se registrado uma piora progressiva no quadro de saúde nos últimos dias.
O Vaticano já havia informado anteriormente que esta etapa do processo ocorreria neste horário, com o cardeal Kevin Joseph Farrell, camerlengo da Igreja Católica, sendo o responsável por presidir o rito de certificação da morte e a colocação do corpo no caixão.
Quanto à causa da morte, a Santa Sé havia anunciado anteriormente que Francisco enfrentou nos últimos dias uma deterioração progressiva de seu estado de saúde, incluindo dois episódios de insuficiência respiratória aguda nas últimas horas de vida. O jornal italiano Corrieri Della Sera noticiou antes da divulgação oficial que ele havia sidovítima de um AVC.
A pedido de Francisco, que simplificou as honras fúnebres, seu corpo será vestido com os respectivos paramentos litúrgicos e depositado e enterrado em um único caixão, de madeira e zinco. Contrariando uma tradição que vem desde 1903, ele será enterrado na Basílica de Santa Maria Maggiore e não na Basílica de São Pedro.
Os preparativos para o funeral acontecem em paralelo às tratativas do conclave, a eleição do sucessor do Papa. A expectativa é de que Francisco seja enterrado entre quatro a seis dias após a sua morte (o Vaticano ainda vai divulgar o cronograma detalhado), mas o luto oficial da Igreja é de nove dias.
Ao final da cerimônia presidida pelo camerlengo na capela, ele irá redigir um documento autenticando a morte do Papa — no qual será afixado o certificado médico de óbito. Ele também fica responsável por proteger os documentos privados do Pontífice e selar seu apartamento — uma ampla seção no segundo andar da Casa Santa Marta — até a escolha do sucessor.
O Anel do Pescador — símbolo do poder papal recebido ao subir ao Trono de Pedro — é destruído, num sinal de que o reinado foi concluído.
A primeira oração pública pelo Papa Francisco começou um pouco antes, às 19h30 (14h30 de Brasília), na praça de São Pedro, com a presença de milhares de fiéis, que participaram da oração do rosário. O rito foi presidido pelo cardeal italiano Mauro Gambetti, informou a secretaria de imprensa da Santa Sé.
A morte de Francisco marca o final de um ciclo na Igreja Católica. Agora, a instituição entra em tempo de Sé Vacante — período entre 15 dias e 20 dias em que a função fica vaga — até que um sucessor seja escolhido pelo Colégio de Cardeais durante o conclave.