Os recentes ataques nas redes sociais ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), feitos por militantes e perfis ligados à esquerda, parecem ter surtido efeito contrário ao desejado pelo entorno do governo. Segundo aliados de Motta, as críticas após a derrubada do aumento do IOF proposto pelo Executivo geraram um forte “espírito de corpo” entre os parlamentares, fortalecendo sua liderança dentro da Casa.
A percepção no grupo político de Motta é de que os 383 deputados que votaram pela revogação do decreto do presidente Lula da Silva (PT) se sentiram também atacados, e passaram a defender com mais veemência o presidente da Câmara. A leitura é de que, embora não tenha grande apelo nas redes sociais por ser um político de perfil mais técnico e de centro, Motta ganhou respaldo institucional e político entre seus pares.
Durante sua participação em Lisboa no evento do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), organizado pelo ministro Gilmar Mendes, Motta recebeu diversas ligações e mensagens de apoio — inclusive de parlamentares que antes estavam distantes, insatisfeitos com a falta de avanços em pautas como a anistia.
Os ataques a Motta começaram após ele pautar, de maneira surpreendente, a votação que resultou na anulação do decreto de Lula que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), uma medida defendida pelo Ministério da Fazenda para reforçar a arrecadação e atender ao arcabouço fiscal. A derrota foi considerada uma das mais simbólicas do governo no Congresso até agora.
Mesmo com manifestações públicas da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), criticando os ataques a Motta, o grupo do presidente da Câmara considerou os gestos como “jogo de cena” para conter o desgaste do governo com o centro político da Casa.
Aliados de Motta avaliam que o episódio expôs uma divisão entre a base do governo e o centro moderado do Congresso, e fortaleceu a posição do presidente da Câmara como figura de equilíbrio e autonomia frente ao Executivo.
A repercussão da crise IOF deverá influenciar o ritmo das próximas votações, especialmente aquelas com impacto fiscal, e pode redefinir o tom da relação entre Planalto e Congresso nos próximos meses.