Os recentes ataques de Jair Bolsonaro (PL) ao governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), repercutiram mal entre seus aliados e caciques do PL, diz Gabriel Sabóia, do O Globo. Na avaliação de pessoas próximas a Bolsonaro, o ex-presidente trouxe de volta ao debate uma rusga entre eles que já havia sido superada e ignorou os acenos que Caiado vem fazendo, como o fato de ter ido ao ato na Avenida Paulista, em 7 de setembro.
Além disso, aliados temem que a postura agressiva possa impactar na formação do palanque da direita em 2026.
Caiado já declarou que quer ser candidato ao Palácio do Planalto e busca o apoio de Bolsonaro, que segue inelegível. Independentemente de Caiado ser ou não o candidato da direita, dizem os aliados, será necessário que os principais expoentes do segmento estejam juntos no mesmo palanque. Por isso, não seria interessante que Caiado fosse alvo de Bolsonaro e os dois se afastassem neste momento, especialmente pelo fato de os ataques terem partido durante um ato da campanha de Fred Rodrigues, apadrinhado do deputado federal Gustavo Gayer, que aparece com poucas chances de chegar ao segundo turno em Goiânia.
Segundo os aliados de Bolsonaro, as falas não teriam sido planejadas e o ex-presidente se referiu a Caiado como “covarde” de maneira espontânea, sem calcular eventuais consequências. Procurado, Caiado não quis comentar as declarações de Bolsonaro.
O ataque
Durante o comício, realizado em um bairro nobre de Goiânia, Bolsonaro não citou nominalmente Caiado, mas resgatou as críticas feitas durante a pandemia da Covid-19, em 2020. À época, Caiado chegou a romper com Bolsonaro devido às medidas para conter a disseminação do coronavírus, adotada por governadores estaduais logo no início da crise sanitária.
O ex-presidente usou o discurso comum durante seu governo, com críticas à vacina. Além de governador, Caiado é médico e se recusou a afrouxar medidas para o distanciamento social em 2020.
— Nós, na pandemia, fizemos o que tinha que ser feito. Fui contra governadores que falavam ‘fiquem em casa, a economia a gente vê depois’. Governador covarde! Governador covarde! O vírus ia pegar todo mundo, não tinha como fugir do vírus — declarou Bolsonaro no comício, ao lado de Gayer, do candidato à prefeitura e seu vice.
Ainda em seu discurso, o ex-presidente afirmou que a única candidatura de direita na capital era a de Fred Rodrigues. Apesar de muita negociação na pré-campanha, o governador goiano optou por lançar um nome do União Brasil à prefeitura da capital, desagradando o PL de Bolsonaro, que queria lançar Gayer. O parlamentar havia se tornado empecilho para qualquer aliança nas eleições deste ano.
Caiado filiou o presidente da Federação das Indústrias de Goiás (Fieg), o ex-deputado Sandro Mabel. O empresário ficou dez anos fora da política, mas divide o primeiro lugar nas pesquisas com a deputada petista Adriana Acorsi. Mabel também é da família fundadora da empresa de rosquinhas e biscoitos Mabel, vendida em 2011 para a PepsiCo, citada por Bolsonaro no ataque ao candidato:
— O candidato da bolachinha e da rosquinha, tem vídeo dele elogiando Dilma Rousseff, dizendo que ela foi uma boa gestora, em 2014, 2015, sem crise nenhuma no Brasil. Essa presidente conseguiu a proeza de desempregar 13 milhões de pessoas no Brasil. Essa presidente, que o (empresário) da rosquinha disse que foi uma boa presidente, conseguiu entregar a Petrobras para o Temer com uma dívida de 180 milhões de dólares — discursou.